A 2ª edição do Free Software Rio começou ontem com um rico debate sobre as oportunidades de negócios para o software livre (SL) no mercado internacional e como tornar o produto nacional conhecido e consumido mundialmente. Na mesa de abertura, havia representantes de entidades governamentais e empresarias, da comunidade de software livre e especialistas em tecnologia. O evento, organizado pelo Centro de Tecnologia da Informação e Comunicação do Estado do Rio de Janeiro (Proderj), órgão vinculado à Casa Civil, com estreito apoio do SERPRO e da Vice-Presidência de Tecnologia da Caixa Econômica Federal (CEF), acontece até esta sexta-feira (21/05) no Centro de Convenções da Bolsa de Valores, na Praça XV, Centro do Rio.
O Presidente do Proderj, Paulo Coelho agradeceu a presença de todos e apresentou um vídeo feito pelo Comitê de Candidatura das Olimpíadas de 2016, que segundo Coelho, tinha tudo a ver com o espírito dos usuários e desenvolvedores de plataforma aberta, que são movidos por paixão, dedicação e interação entre as pessoas. O vídeo mostra delegações de vários países chegando ao Rio e sendo recebidos com o carisma e a receptividade alegre e amigável típica do carioca (Confira o vídeo em www.youtube.com/watch?v=jeXF-eghKQY).
- O software livre é uma opção de política pública - defendeu a vice-presidente do Conselho Nacional de Política Fazendária do Rio de Janeiro (CONFAZ) e secretária de Fazenda de Piraí, Maria Lucia Caltieiro. E foi o que Piraí fez, tornando-se o primeiro município digital brasileiro ao iluminar toda a cidade com redes sem fio e ainda instalar programas em SL nos órgãos públicos, telecentros e escolas.
- Software livre é uma ferramenta de diálogo de conhecimento, integração e compartilhamento de soluções que pode ser muito útil para redução de custos e a democratização do acesso - analisa Maria Lúcia.
Representando a comunidade de software livre, Henrique Andrade, lembra que estes debates começaram, há 16 anos, e hoje, um evento como este, só demonstra que a sociedade conseguiu assimilar o discurso de que o SL é justo, viável e autosustentável, descreve ele.
O presidente do Proderj chamou a atenção para a experiência exitosa de entidades públicas como a Caixa e o Banco do Brasil (BB) que, mesmo sendo desenvolvedores e difusores da tecnologia de código aberto, continuam a manter o alto nível de rentabilidade e lucratividade. Representando a vice-presidente de Tecnologia da Caixa, Clarice Coppetti, o consultor técnico Orlando Pereira conta que, só com o uso de um programa em SL para bilhetagem chamado Curupira, 1 milhão de resmas é economizado. Antes, eram gastos R$ 46 milhões com impressões e hoje esse custo foi reduzido em 30%.
No caso do BB, Ulysses Pena, analista do banco, conta que em 2006 havia 5.000 estações de trabalho no banco usando o sistema operacional Linux, ao passo que hoje já são 64.000 estações. Desde o processo de implantação de software livre no BB, em 2002, até hoje já foram economizados cerca de R$ 90 milhões que seriam gastos para adquirir licenças de software proprietário.
O presidente do SERPRO, Marcos Mazoni, parabenizou a iniciativa de Piraí, que, a seu ver, iluminou a cidade não só com redes wireless, mas iluminou, propriamente, a cidade com conhecimento, inclusão social e novas oportunidades com a tecnologia. E achou muito oportuna a apresentação do vídeo sobre a candidatura Olímpica, que permite uma analogia entre a ideia de SL e a capacidade do brasileiro de misturar diferentes culturas e produzir uma nação solidária e colaborativa.
Logo após a abertura do evento, o mediador e presidente da Grynszpan Projetos e Serviços Empresariais, Flávio Grynszpan, iniciou o primeiro painel destinado a discutir a “Exportação de Soluções e Serviços em Plataforma Aberta”, que abordou assuntos como a importância de se identificar o potencial do Brasil como centro de excelência em software livre através de centros de competência fortes de código aberto. Para ele, existe a grande oportunidade de tornar o Brasil um líder de exportação e atrair ainda mais investimentos para o país.
- Acredito que, em comparação a países como a China e a Índia, nós não oferecemos um custo competitivo. No entanto, hoje existe um grande reconhecimento internacional da competência brasileira. Quero agradecer o convite ao Paulo Coelho, um entusiasta das novas tecnologias e do incentivo ao uso da ferramenta em importantes projetos – acrescentou Flávio, que aproveitou para sugerir a todos discutir a criação de uma fundação responsável por transformar o SL em um modelo de negócios para exportação.
Grynszpan ainda deixou uma pergunta para reflexão: como trazer a competência gerada no setor público para a iniciativa privada e tornar as pequenas empresas competitivas internacionalmente?
Uma das maneiras de difundir o produto nacional, respondeu Mazoni, pode ser feita a exemplo do que aconteceu, recentemente, entre a autarquia e o governo paraguaio. O presidente do SERPRO conta que o Paraguai quer implantar o Expresso no governo, mas queria o suporte técnico para implantação dos brasileiros. O fato, segundo ele, serviu para um alerta importante:
- Somos colaboradores, mas não escravos. Tem uma lista de empresas brasileiras que conhecem as especificações do Expresso e participam do núcleo de decisão da arquitetura do código. Portanto, basta o governo paraguaio contratar uma destas empresas para implementar a solução naquele país – explica Mazoni, acrescentando que o SERPRO daria garantia de qualidade a este suporte e acabaria incentivando um real modelo de negócio para plataforma aberta.
Um exemplo da qualidade técnica das soluções brasileiras aconteceu em 2006, conta Mazoni, quando apresentou o Expresso, um serviço de correio eletrônico, agenda integrada, workflow, cadastro pessoal, chats e outros serviços, criado pelo SERPRO, em uma palestra em Munique. Ao conversar com representantes da prefeitura de lá descobriu que somente em 2010 eles estariam com uma versão no nível que o Expresso já tinha há quatro anos.
E como o Rio pode se posicionar no cenário mundial? Para o presidente da ASSESPRO-RJ, Ilan Goldman, o Estado do Rio de Janeiro fará a diferença na questão do software livre. A tendência é tornar cada vez mais esta tecnologia dominante no cenário tecnológico e que o compartilhamento de informações possa diminuir a diferença entre os países nessa área. Na visão das empresas de tecnologia, Giosafatte Gazzaneo, diretor da RIOSOFT, afirma:
- É muito positivo observar que todo o ceticismo que havia nas empresas quando falávamos desse tema, há oito anos, foi transformado em confiança. Vejo tudo isso como um sinal de que começa uma nova etapa na relação entre as empresas e o uso do software livre.
Site: Portal do Governo do Estado do Rio de Janeiro
Data: 21/05/2010
Hora: 9h46
Seção: Notícias
Autor: ------
Link: http://www.governo.rj.gov.br/noticias.asp?N=58714