A metodologia tem como base as competências e os impactos que cada decisão pode ter para o futuro do profissional.
Na época em que Nathan Bennett e Stephen Miles começaram a trabalhar em seu livro sobre planejamento de carreira, que acaba de ser lançado nos Estados Unidos – intitulado ‘Your Career Game: How Game Theory Can Help You Achieve Your Professionals Goals’ (ainda sem versão em português) –, notaram que a vasta maioria das obras sobre o tema oferecia o mesmo conselho: o profissional precisa saber o que quer e no que é bom e, a partir daí, descobrir um trabalho que combine com isso.
Os autores do livro chegaram ainda à conclusão de que as opiniões dos especialistas em carreira mudaram pouco nos últimos anos. Um exemplo disso é um artigo publicado em 1959, indicando que os profissionais deveriam considerar seus interesses, habilidades e personalidade quando escolhem um trabalho. Uma opinião que ainda continua presente nos documentos sobre esse tema.
Diante das mudanças ocorridas no cenário de trabalho, Bennett e Miles criaram uma nova abordagem para o planejamento de carreira. Assim, em vez de focar em fraquezas e fortalezas, a teoria criada pelos especialistas ajuda as pessoas a planejar seu futuro profissional e tomar decisões utilizando princípios do que eles denominam como ‘game theory’ (teoria do jogo).
Essa teoria, explica Bennett, que atua como professor de gestão na universidade norte-americana Georgia Tech, é baseada em um modelo de tomar decisões com base em competências individuais e em todos os impactos que isso vai ter.
“Nós vemos a teoria do jogo como uma verdadeira oportunidade de repensar a forma como as pessoas lidam com suas decisões de carreira”, diz Bennett, que acrescenta: “Pensamos em fornecer isso com uma ferramenta que permita tornar esse processo algo mais estratégico.”
Durante entrevista, o especialista relata como sua teoria funciona e pode ser eficiente na gestão de carreira, seja para buscar um emprego melhor ou para conseguir um lugar de destaque nas organizações.
CIO – Explique quais os impactos da teoria do jogo para o planejamento e a gestão de carreira?
Nathan Bennett – A teoria se diferencia pelo fato de levar em conta todos os envolvidos em uma decisão de carreira, inclusive com a forma como eles irão reagir e quais as coisas que precisam ser feitas para atingir os objetivos. As questões levantadas pela teoria do jogo ajudam a fazer um diagnostico real da carreira e as respostas ajudam a fazer os movimentos certos.
CIO – Quais são as questões levantadas pela teoria?
Bennett – Existem dúzias delas. Como exemplo, a primeira questão que as pessoas precisam fazer a si mesmas é: quem são as outras pessoas que podem ser impactadas por minha decisão? Qual a opinião dessas outras pessoas? Quais os objetivos desses outros envolvidos?
Vamos dizer que eu trabalhe para você e esteja interessado em uma promoção para um cargo que acaba de ficar vago. Tanto eu como você estamos envolvidos no jogo. Meu objetivo é atuar nessa outra vaga. E para você, qual a expectativa? Ela pode ser desenvolver uma nova geração de líderes, repassar um grande problema para outro gestor, não me promover por conta de ignorar um substituto para minha função, me encorajar ou até me sabotar.
CIO – Essa metodologia pode ser utilizada para planos de carreira em longo prazo ou em curto prazo?
Bennett – Nos dois casos. Costumo dar o exemplo do meu filho. Ele percebeu, no segundo ano da universidade, que gostaria de ser um chefe de cozinha. A partir daí, sugeri que ele pensasse em como gostaria de estar com 45 anos de idade, ou seja, 25 anos depois.
Ele tinha um claro objetivo de tornar-se chefe de cozinha de um restaurante próprio. E perguntei para ele o que faria aos 30, 35 e 40 anos para alcançar esse objetivo. A partir daí, meu filho estudou quais as competências necessárias para exercer a função e visualizou quais os instrumentos que ele poderia utilizar - e em que momento da carreira - para galgar a posição que pretendia. E isso inclui não só as atribuições em termos de culinária mas, também, um perfil diferenciado dos atuais chefes do mercado.
Ao fazer essa análise, ele conseguiu ter uma noção de quais os caminhos necessários para atingir seus objetivos de longo prazo.
CIO – Nem todo mundo tem uma carreira linear. Como essa sua teoria trata os casos em que os profissionais passam por grandes mudanças?
Bennett – Eu prefiro argumentar que o melhor é sempre planejar. Não penso que as pessoas ficarão presas por conta de um plano. Na verdade, quando se desenha um planejamento é possível visualizar um leque maior de opções.
Se alguém trata sua carreira está como um barco à deriva e percebe que todas as alternativas de mudança estão bloqueadas, fica difícil mudar a situação. Já se a pessoa tiver um planejamento, quando as coisas não correm como o adequado, ela tem a habilidade para rapidamente mudar de rumo e considerar outras opções.
As pessoas que aplicam a teoria do jogo tomam melhores decisões e estão mais bem preparadas para lidar com as rupturas ao longo do caminho.
CIO – Essa metodologia pode ser aplicada na hora de uma demissão?
Bennett – Ela ajuda a entender as vantagens competitivas e o que o profissional pode oferecer a seus possíveis empregadores. A partir dela é possível descobrir formas de contar uma história sobre seus diferenciais. Isso ajuda na entrevista de emprego. Além disso, quando a pessoa faz uma análise e descobre que sua vantagem competitiva é algo comum no mercado, ela pode fazer os investimentos necessários para buscar diferenciais.
Site: Computerworld
Data: 17/06/2010
Hora: 8h
Seção: Carreira
Autor: ------
Link: http://computerworld.uol.com.br/carreira/2010/06/16/especialista-defende-nova-abordagem-do-planejamento-de-carreira-1/