O principal trabalho de identificação da população brasileira, o Censo 2010 começa nesse domingo, dia 01/08, e será o primeiro da história 100% informatizado, mas padecerá dos males da pouca oferta de comunicação. Dos 6823 postos temporários de coleta, instalados ao longo dos 5565 municípios do país, pouco mais de 3000 terão acesso à Internet a 1Mbits, por pura falta de infraestrutura de acesso nestas localidades.
Em entrevista exclusiva ao Convergência Digital, o diretor de TI do IBGE e responsável pela área de TIC do Censo 2010, José Bevilaqua, disse que a situação enfrentada pelo órgão governamental é o retrato atual da banda larga no Brasil, onde se fala muito em conectividade, em acesso disponível, mas na prática, não há como contratá-lo, a preços satisfatórios no chamado sul maravilha, ou nas regiões menos favorecidas. Um exemplo, cita o executivo do IBGE, é o fato de no Amazonas, Manaus - capital e sede da Copa do Mundo - e a terceira cidade do estado - Manacapuru - não estão ligadas por serviços de comunicações.
"Fato é que não existe infraestrutura do serviço disponível para todos. Até se pode ter banda larga numa localidade, mas ela já atende a tanta gente, que não há como ampliar a oferta para novos serviços. Falta fibra. E não é um problema apenas nas regiões mais distantes e rurais. Muitas cidades consideradas grandes também sofrem com uma oferta restrita. No caso do Censo, procuramos todos os tipos de oferta de conexão", lamenta.
E Podia ter sido pior. Se hoje, quase metade dos postos recebeu conexão ADSL de 1 Mbits, foi porque, em maio, durante o lançamento do Plano Nacional de Banda Larga, o ministro do Planejamento, Paulo Bernardo, denunciou os problemas enfrentados pelo IBGE nas negociações com as concessionárias de telefonia. Mas a Oi, observa Bevilaqua, que se mantinha distante, se mobilizou e criou uma força de trabalho para servir ao maior projeto de diagnóstico da população nacional.
Para montar a infraestrutura de comunicação dos 6823 postos temporários de coleta, o IBGE começou a negociar com as operadoras de telecomunicações, principalmente com a oferta do serviço de banda larga fixo, em novembro do ano passado. A ideia era começar a montar a rede de comunicação em fevereiro deste ano.
Mas as negociações levaram muito mais tempo do que se esperava e, em muitos casos, simplesmente não prosperaram. Os editais de contratação - questionados diversas vezes - se arrastavam. Tanto é assim que a previsão de gastos com Comunicação era de R$ 30 milhões. Com a demora na contratação dos acessos, o custo caiu para R$ 18 milhões. "Não queríamos essa 'economia'. Preferíamos ter o serviço como o planejado", pondera Bevilaqua.
Se faltou competição no ADSL, sobrou no 3G
Ao mesmo tempo que negociava com as teles por banda larga fixa, o IBGE também buscou alternativas como a contratação de sistemas móveis via satélite para as áreas remotas - foram contratados 240 sistemas, a um custo de R$ 500 mil. O serviço será utilizado na Região Norte, Nordeste e em áreas rurais.
Acertou-se ainda com o Ministério das Comunicações, o uso do GESAC, contratado para as escolas, para auxiliar aos postos de coleta. Também houve uma mobilização para o serviço móvel celular 2G e 3G. Nesse item, inclusive, o diretor de TI do IBGE mostra a única satisfação com a área de comunicações.
"Se faltou qualquer indício de competição na oferta da banda larga fixa por ADSL, ela sobrou na 2G/3G. Tivemos uma disputa muito grande e chegamos a um custo bastante satisfatório. Compramos 1800 modems 3G para distribuir aos supervisores dos postos e ainda estamos contratando mais, se houver a necessidade", conta Bevilaqua. Os serviços foram contratados junto à Claro (principal fornecedora), Vivo e TIM (essa no estado de São Paulo).
Também foram adquiridos serviços de rádio, junto aos provedores de acesso à Internet. E aqui, Bevilaqua, faz uma constatação. "Em muitas localidades, o rádio é o único meio de comunicação disponível, tanto que eles são o meio de transporte de dados em 837 postos, dos pouco mais de 3000 conectados", observa.
Os demais postos sem conexão foram autorizados a buscarem meios para transmitir os dados, como a ida até o escritório do IBGE na localidade, ou nas escolas já conectadas pelo GESAC ou, por fim, os supervisores receberam autorização de transmitirem os dados pelas Lan Houses, se elas existirem nos municípios.
Para garantir a segurança do transporte de dados, o IBGE adquiriu 60 mil pen drives - 40 mil de 2GB e 20 mil de 16 GB. Todos criptografados e identificados com a logomarca do órgão governamental. Como cada posto de coleta possui 1 laptop, 1 roteador wi-fi e 1 impressora, os recenseadores da região levarão os dados - via pen drive para os escritórios, as informações serão armazenadas no laptop do posto e enviada para as unidades centrais do IBGE - Rio de Janeiro, São Paulo e Brasília - via Internet pelos supervisores.Nos postos com conexão - fixa ou móvel -os dados serão transportados automaticamente.
A partir desse domingo, dia 01/08, os 191 mil recenseadores do IBGE começarão a visitar os cerca de 58 milhões de domicílios do país, com a meta de coletar informações sobre a vida dos brasileiros. Com a integração da infraestrutura de comunicação, os dados sobre a população brasileira serão conhecidos imediatamente após o encerramento oficial da coleta de dados. Não haverá mais a divulgação de resultados preliminares, que levavam de quatro a cinco meses para serem apurados.
"Os dados mais simples, como a contagem da população, serão conhecidos imediatamente após a coleta dos dados. Os diagnósticos mais detalhados serão conhecidos ao longo de 2011 e 2012. Vale lembrar que no último Censo, realizado em 2000, apenas em 2004, os primeiros dados foram divulgados. Esse é o grande impacto do Censo 2010 estar totalmente informatizado. Sem o uso de papel. Pena que não tivemos uma comunicação capaz de acelerar a coleta dos dados", completa José Bevilaqua.
Site: Convergência Digital
Data: 30/07/2010
Hora: 14h
Seção: Telecom
Autor: Ana Paula Lobo
Link: http://convergenciadigital.uol.com.br/cgi/cgilua.exe/sys/start.htm?infoid=23308&sid=8