Apesar de recorrente durante as discussões sobre a nova divisão da faixa de 2,5 GHz, o argumento que defendia uma “harmonização” global dessa fatia do espectro para serviços móveis – de forma a ser destinada à telefonia celular e permitir ganhos de escala globais – é, no máximo, uma meia-verdade.
Na prática, essa harmonização não existe. Na Europa e nos Estados Unidos a tecnologia LTE, também chamada de 4G, deve ser adotada na faixa de 700 MHz. Na Ásia, como provou a licitação realizada na Índia no primeiro semestre, isso se dará na faixa de 2,3 GHz.
“A questão da harmonização é importante, mas tinha um peso maior há 10 anos. Hoje, os chipsets funcionam em múltiplas frequências. A economia de escala será de outra maneira, nos tipos de equipamentos e nos aplicativos”, afirma o vice-presidente de relações governamentais da Qualcomm, William Bold.
Além disso, embora a Anatel sustente que no Brasil a tecnologia LTE chegará graças à distribuição de bandas da faixa de 2,5 GHz para as teles móveis, deve faltar espaço para todas as operadoras. É que o leilão, previsto para 2012, colocará em disputa, a princípio, três bandas de 20 MHz, além de uma de 10 MHz.
Nesse desenho, o 4G em 2,5 GHz, ao menos na fatia destinada para as aplicações FDD (móveis), só seria verdadeiramente interessante para três competidores. Como explica o diretor de assuntos governamentais da Qualcomm no Brasil, Francisco Giacomini Soares, “o LTE passa a ganhar de outras tecnologias com mais de 10 MHz de banda”.
A própria Qualcomm, no entanto, começa a fazer uma aposta no desenvolvimento do LTE para as bandas de tecnologia TDD. Nesse sentido, adquiriu frequências na faixa de 2,3 GHz licitadas pela Índia este ano. “Será o nosso laboratório de testes”, admitiu o vice-presidente da Qualcomm.
A Anatel acaba de definir um novo desenho para a faixa de 2,5 GHz no Brasil. Dessa faixa, 140 MHz são para tecnologias FDD e 50 MHz para TDD. A fatia de 140 MHz (FDD) será dividida em três blocos de 20+20 MHz, além de outro de 10+10 MHz. Nos 50 MHz (TDD), teriam prioridade as operadoras de MMDS, como compensação pela perda do resto da faixa, sendo 15 MHz destinados a serviços públicos.
Com a viabilidade econômica de aplicações móveis em LTE-TDD, podem ser abertas novas perspectivas para as operadoras. A opção, porém, não é trivial. “Tradicionalmente, as operadoras já contam com plataformas FDD e é natural que usem as redes já existentes”, lembra Giacomini.
Ainda assim, alguma escala – termo caro às operadoras e para os fabricantes, como visto nos discursos que defendiam o novo desenho da faixa de 2,5 GHz – pode ser ganha com a massificação do uso do LTE-TDD num país continental como a Índia. A 3G Américas também defendeu esse casamento nos países latinos, em relatório ainda do ano passado.
Coincidência ou não, o fato é que a própria Anatel já sinaliza que pode adotar uma estratégia diferente daquela inicialmente divulgada sobre os leilões da faixa de 2,5 GHz. Embora originalmente a ideia fosse dar preferência ao MMDS na banda TDD, o conselheiro João Rezende sustentou, nesta semana, um caminho diferente.
“Existe um ponto que é o fato de a Telefónica ficar com o espectro nas cidades onde a TVA tem operação MMDS. Como ficariam as outras? Não haveria problemas de isonomia? Todas essas questões vão ter que ser debatidas por nós no Conselho Diretor”, disse Rezende na terça-feira, 10/8, durante evento da ABTA, realizado em São Paulo.
Site: Convergência Digital
Data: 12/08/2010
Hora: 16h45
Seção: 3G
Autor: Luís Osvaldo Grossmann
Link: http://convergenciadigital.uol.com.br/cgi/cgilua.exe/sys/start.htm?infoid=23431&sid=17