A privacidade acabou e corporações erram ao usar rede social como SAC

02/09/2010

Quais são as tendências de integração de pessoas depois do surgimento da internet e, mais recentemente, das redes sociais, se elas praticamente acabaram de nascer?  Como preencher o gap entre empresas que já adquiriram e internalizaram tecnologia e a grande maioria que ainda não se adequou a esse universo de inúmeras possibilidades?

Uma das conclusões a que chegou Gil Giardelli, da Escola Superior de Propaganda e Marketing (ESPM), um dos convidados do Seminário de Tecnologia da Rio Info 2010, é a de que “essa tal de privacidade acabou”. “As redes sociais são a arte da descentralização, são a ciência da reputação. O Congresso Americano está arquivando todos os posts do twitter para entender como estamos falando, o que queremos”, disse.

Giardelli afirmou também que as empresas estão equivocadas ao usarem as redes sociais como um mero agente replicador do Serviço de Atendimento ao Cliente (SAC), ao participar de um debate sobre Integração de Pessoas.

Para ele, o departamento de marketing precisa compartilhar o comando da ferramenta com outras áreas, especialmente, com a de Recursos Humanos. E frisou: "É preciso ouvir críticas. Redes Sociais não são instrumento para autoelogio". 

Giardelli não poupou críticas. Na visão dele, a comunicação empresarial nas redes sociais está, na maioria das vezes, “chata e muito tradicional”. Segundo ainda o especialista em marketing digital, é preciso, para quem quer usar as ferramentas de comunicação web, elaborar códigos de conduta e repassá-los aos funcionários.

"As redes sociais corporativas exaltam os feitos da empresa. Apenas isso. Ou ao contrário, funcionam como um instrumento oficial de pedido de desculpas aos consumidores. A rede social não é um SAC. E isso precisa ficar bem claro", destacou.

Apesar de defender essa tese, Giardelli observou que como são redes sociais privadas há, sim, políticas de uso para serem disseminadas em todos os escalões.  "O CEO precisa saber que pode receber uma crítica de um funcionário ou ler algo que não o agrade. O manual de conduta cria, então, as regras da boa convivência, que já existem para outras mídias", completa.

Michael Nicklas, dono da SocialSmart, venture capital norte-americana que investe em empreendimentos brasileiros na internet, destacou que a Web 2.0 se transformou em um “problema” para as corporações. "Na web 1.0 todas as inovações vieram das empresas para o consumidor final. Agora não. São os usuários que estão demandando as empresas mudarem. As redes sociais são isso. Elas são populares e as corporações estão tendo que adaptá-las aos seus negócios para não ficarem fora da tendência", salientou.

Nicklas afirmou que haverá, também, cada vez mais relações assimétricas, como as que acontecem no twitter, em que não há concordância entre as pessoas conectadas, elas simplesmente seguem as informações umas das outras. E o que dizer da web semântica? “Se hoje eu quero trocar informações com pessoas que gostam de fotos em preto e branco, preciso procurar um fórum para isso, num futuro breve isso não será mais preciso. Além disso, o “gráfico social” terá grande utilidade para o e-commerce, para a propaganda e a comunicação”, destacou ele, referindo-se à possibilidade de, um dia, fazer compras solicitando ao atendente de uma loja somente os produtos que os amigos estão comprando.

Carlos Nepomuceno, consultor e pesquisador de novas mídias e presidente da ICO - Instituto de Inteligência Coletiva – mostrou-se reticente à manutenção do atual modelo, onde o controle das redes sociais - Orkut, do Google, o Twitter e o Facebook - são controlados por um único agente.  "Se eles quiserem nos desconectar é simples. Basta desligar o servidor. Isso encerraria todas as contas de rede e pronto: toda a grande rede estaria órfã", salientou Nepomuceno. Para ele, os próximos anos devem mostrar uma tendência por redes sociais específicas, descentralizadas. "Filtros de informação são necessários nos tempos modernos. As redes centralizadas, com temas próprios, me parecem bastante naturais", completou.

Nepomuceno, que coordenou a mesa, afirma que “é preciso ter uma visão humanista para começar o processo de construção de novas teorias que incluam a internet, observando o que gera e o que não gera valor. A internet traz coisas interessantes, mas também muitas que prejudicam muita gente”. “Não temos garantias de que com essa nova civilização teremos uma nova humanidade”.

(Com Ana Paula Lobo - Convergência Digital)