Desenvolvimento do setor deve trazer mais transparência e maior presença em bolsa dos fornecedores de tecnologia.
O amadurecimento do mercado de tecnologia da informação pode aumentar a presença desse setor na Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa), até hoje escassa. A avaliação é do diretor da Acquisitions, Ruy Moura.
Entre os fatores que devem desencadear esse movimento, ele cita a ampliação do próprio faturamento de TI, de 1,5% para 3% do PIB, nos próximos dois ou três anos, além do processo de consolidação dos fornecedores.
"Com isso, muitas vão precisar buscar a oferta pública inicial de ações (IPO, em inglês) para obter recursos", diz Moura. "A partir de 2010, o Brasil descolou o mercado externo do interno, e, nos próximos anos, deverá apresentar um crescimento acentuado, de 4% a 6%, agregando novos consumidores, com forte investimento privado em infraestrutura", acrescenta.
E o mercado vai precisar de recursos para viabilizar a expansão. Sem condições de atender à demanda, companhias de pequeno porte serão compradas por outras maiores, que, por sua vez, precisarão de capital. "As empresas de TI que faturam entre 800 milhões de reais e 1 bilhão de reais são candidatas a realizar um IPO nos próximos anos", diz o consultor.
O País já viveu uma onda de IPOs, que foi interrompida pela crise financeira. Mas, entre as empresas que abriram capital, poucas eram do setor de tecnologia. Hoje, segundo a classificação da BM&FBovespa, há apenas sete empresas de TI listadas em bolsa: ¬ Bematech, Ideiasnet, Itautec, Positivo, Tivit, Totvs e Universo Online.
Embora espere IPOs de empresas de grande porte, o consultor da Acquistions não descarta abertura de capital em empreendimentos menores, uma meta da própria Bovespa. Mas o presidente da prestadora de serviços de TI, BRQ, Benjamin Quadros, acredita que isso não é para já.
"Na Bovespa, a IPO de companhias menores é uma aposta que ainda não se materializou. No Canadá e na Inglaterra, esse movimento demorou de dois a três anos para amadurecer. Mesmo assim, estou otimista", relata o presidente da empresa, que obteve receita de 240 milhões de reais em 2009 e pretender abrir o capital. "Meu interesse é ter uma governança transparente, um plano de perpetuidade do negócio e uma transparência em relação ao valor da companhia. Isso é bom quando se quer, no futuro, crescer via aquisição ou associação", argumenta.
Cultura da transparência
Moura reconhece a importância do 'pré-IPO'. "É preciso se preparar com antecedência, adotar práticas de governança corporativa. Se não há transparência, deve-se adotar um processo gradual de aculturamento. E abrir seus planos estratégicos para o público interno também. No setor, não temos a cultura de compartilhar as estratégias", ensina. As poucas empresas de TI que abriram capital nos últimos anos foram para o Novo Mercado da BM&FBovespa, que lista empresas adeptas de práticas de governança, além das exigidas pela legislação.
Com isso, algumas colheram outros benefícios, além do reforço de caixa. "Um ponto relevante foi o impacto sobre a imagem. O mercado passou a falar mais da Totvs, e não só da tecnologia, mas também da sua gestão", afirma o seu vice-presidente-executivo e financeiro, José Rogério Luiz. A empresa já possuía auditoria externa desde 1997, e um conselho administrativo com integrantes externos, desde 1999. E ainda ofereceu um plano de stock option (outorga de ações da empresa para funcionários) para cerca de 2 mil colaboradores, entre 1999 e 2002.
A Totvs realizou seu IPO em março de 2006, quando levantou R$ 460 milhões. A partir de então, fez uma série de incorporações e, até dezembro de 2009, seu faturamento cresceu 4,5 vezes; o Ebitda, 8,5 vezes; e o preço da ação subiu de 32 reais para 130 reais. "Durante a crise, a curva da Totvs desgrudou das outras empresas de tecnologia e da Bovespa", comemora Luiz.
Para o analista do banco Santander, Valder Nogueira, a Totvs se destaca. "É, disparada, o maior sucesso entre as empresas de TI da Bovespa, com fundamentos fortes e estratégia acertada de conversar com fundos de tecnologia. Faz road shows nos Estados Unidos e na Europa. Com isso, prospecta mercado; ao falar com investidores, transformou muitos em clientes. Vários fundos de investimento usam o software deles." Para Nogueira, a Totvs será uma das empresas que irão liderar o processo de consolidação do setor de TI no Brasil.
"Quando se fala em abertura de capital, é preciso ter clareza de estratégia, disciplina de execução e também mostrar um histórico de crescimento da receita e da rentabilidade", informa o diretor de relações com investidores da Tivit, Edson Matsubayashi.
O IPO da Tivit aconteceu em setembro de 2009 e arrecadou 660 milhões de reais em oferta pública não primária - quando não é utilizada para investimentos. "Não havia necessidade de captar, porque o crescimento é financiado através do caixa. Fizemos uma emissão secundária, na qual os sócios venderam ações", lembra o executivo.
Em maio deste ano, contudo, o grupo Votorantim, principal acionista da Tivit, vendeu suas ações para o fundo americano Apax Partners. No mês seguinte, o novo controlador anunciou que tem interesse em fechar o capital da empresa, adquirindo as ações de acionistas não controladores.
Site: Computerworld
Data: 15/09/2010
Hora: 7h
Seção: Negócios
Autor: Lucas Callegari
Link: http://computerworld.uol.com.br/negocios/2010/09/15/como-o-ipo-vai-afetar-as-empresas-de-ti/