Rede de servidores DNS P2P pode dar origem a uma Internet pirata

06/12/2010

Iniciativa proposta por grupo que dá suporte ao Pirate Bay quer criar uma web livre de censura, mas criminosos adorariam pegar carona na ideia.

Algumas pessoas ligadas ao grupo que atua nos bastidores do site de compartilhamento de arquivos Pirate Bay divulgaram planos para a criação de um sistema de nome de domínios (Domain Name System, ou DNS) peer-to-peer, chamado P2P DNS.

O DNS é a tecnologia de bastidores que converte os endereços Internet compreensíveis usados pelos humanos (como www.pcworld.com) em endereços IP pelos quais os computadores ligados à Internet são efetivamente conhecidos (como 70.42.185.10).

O DNS é geralmente chamado de “catálogo telefônico da Internet” e praticamente todo computador do planeta faz uso dele. Em termos simples, o DNS é como uma grande base de dados construída a partir de várias fontes independentes. Nomes de domínio que terminam em .com, .org, .edu e assim por diante são controlados por organizações que compartilham os dados de onde os computadores “moram” com o resto do mundo via sistema DNS.

As pessoas por trás do sistema P2P DNS sugerem que este sistema centralizado tem um ponto fraco: os governos podem fazer uso dele para censurar a Internet. Este é, de fato, o principal motivo que impulsiona o desenvolvimento do novo sistema. Recentemente, o Departamento de Segurança Interna dos EUA sequestrou 82 domínios que supostamente teriam violado leis locais, e uma agência especializada de combate ao crime organizado no Reino Unido anunciou intenções de fazer uma operação semelhante com os nomes de domínio co.uk.

Esses sequestros são simples. Os governos contatam as empresas de domínio de primeiro nível e, usando poderes legais, as forçam a mudar o registro e alterar a entrada DNS para que os visitantes sejam levados a computadores do governo (geralmente uma página com um aviso sobre o que aconteceu).

Não é que o site verdadeiro tenha sido mesmo sequestrado ou que seus dados tenham sido extirpados de vez da Internet. A estrutura permanece intacta. Ocorre apenas que o registro DNS não aponta mais para o site.

O grupo não forneceu mais detalhes da proposta, mas é certo que as mentes por trás do P2P DNS terão muitos obstáculos pela frente. O DNS é uma das tecnologias de Internet mais confiáveis e consensuais. Alterá-la exigirá algum esforço.

Em tese, o P2P DNS seria similar, em estilo, ao BitTorrent. O sistema proposto seria descentralizado e não confiaria em um único computador para receber ordens. Ele provavelmente trabalharia com o sistema DNS existente, talvez com uma cópia da informação DNS atual. Esses dados viajariam pela rede de clientes, mas com a diferença crucial de que qualquer sequestro governamental de entradas DNS seria ignorado.

Os usuários finais instalariam software P2P DNS e então alterariam a configuração de seus computadores para usá-lo como um servidor DNS em vez de usar o servidor DNS fornecido por seu provedor de acesso. (Geralmente os detalhes sobre o DNS são configurados de forma automática, quando você liga o computador.)

Os usuários terão de configurar seus roteadores para permitir que os dados peer-to-peer DNS passem pelo firewall e será este um dos primeiros desafios para a disseminação do P2P DNS. Somente um computador por trás de um típico roteador DSL, desses encontrados nos lares e nas pequenas empresas, seria capaz de integrar completamente o serviço, por causa das limitações da tradução de endereços de rede (Network Address Translation, ou NAT).

Você já deve ter enfrentado essa limitação se um dia tentou configurar um conexão pass-through no BitTorrent em seu roteador; os dados que chegam por uma porta são enviados para apenas um dos computadores da rede.

Contudo, o maior desafio do P2P DNS será a latência – a velocidade com que o serviço opera. Servidores DNS mantidos por provedores de acesso têm de ser rápidos, porque eles são o primeiro passo na busca de uma página web para o usuário. Serviços peer-to-peer como o BitTorrent envolvem uma boa dose de latência. Tudo bem quando você quer compartilhar arquivos, pois não há pressa. Mas esperar mais que um segundo ou dois por uma página web pode ser bem desagradável.

E seria o novo sistema compatível com IPv6, que está prestes a virar o protocolo padrão da Internet?

Dito isso, o P2P DNS é uma ideia intrigante. Se for bem sucedida, poderia criar uma Internet underground – algumas vezes chamada de darknet. Os dados da darknet viajariam na mesma Internet que eu e você usamos, mas apenas aqueles com um P2P DNS seriam capazes de chegar a esse conjunto de sites e serviços darknet.

A história parece coisa de ficção científica, e é isso que a faz parecer mais legal. Ou pelo menos seria, se não abrisse a possibilidade para todo tipo de atividades ilegais e desagradáveis.
Terroristas adorariam apoiar a P2P DNS, por exemplo, bem como pedófilos. Essencialmente, a darknet seria uma zona sem lei, impossível de policiar. No entanto, ela também burlaria qualquer tentativa de censura.

Será que o esforço vale a pena?

Site: IDG Now!
Data: 03/12/2010
Hora: 08h55
Seção: Internet
Autor: Keir Thomas
Link: http://idgnow.uol.com.br/internet/2010/12/03/rede-de-servidores-dns-p2p-poderia-dar-origem-a-uma-internet-pirata/