Porém, tarifa de celular continuará alta, já que empresas entrarão no mercado como parceiras das tradicionais concessionárias, não concorrentes.
Quando a Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) promulgou o decreto autorizando a criação de operadoras virtuais (MVNO, na sigla em inglês), pensava-se que empresas, tanto do setor financeiro quanto do comercial, tinham tudo pronto para embarcar nesse mercado. Assim, em até 60 dias, nomes como Carrefour ou Pão de Açúcar já estariam vendendo linhas de celulares a seus clientes, com o objetivo maior de fidelizá-los.
Passado dois meses, observam-se, no máximo, indícios: a Porto Seguro já se movimenta, a GVT confirma o interesse e o Carrefour mantém-se como candidato – já que oferece esse tipo de serviço em dezenas de países. Em meados de dezembro, inclusive, a própria Anatel reconhecera que as primeiras operadoras só começariam a operar em seis meses.
“Por que algumas coisas no Brasil andam mais rápidas e outras mais devagar?”, questionou o vice-presidente da Amdocs – provedora de software e serviços para companhias de telecomunicações – no Brasil, Renato Osato. “Esperava-se que as companhias saíssem correndo tão logo a lei fosse aprovada. Por que não foi assim? Elas não estão interessadas?”.
“Não é isso”, responde o próprio. Segundo Osato, a prova de que não deverá demorar muito para que as primeiras operadoras virtuais surjam são as consultas feitas pelas empresas a ele. "Antes eram simples e genéricas, agora são complexas e específicas", diz.
Ainda assim, o executivo acredita que seja apenas um começo. No estágio em que bancos, redes de varejo e companhias de telefonia fixa estão, é provável que só no segundo semestre de 2011 tenhamos as primeiras operadoras móveis em funcionamento. “Em dois anos, esse número chegará a dez”, estima.
Credenciada e Autorizada
Todas deverão escolher o modelo autorizado, no qual contratam a frequência das operadoras e são responsáveis por tudo, menos pela infraestrutura de rede. Ficam sujeitas, inclusive, às mesmas regras impostas pela Anatel às concessionárias tradicionais, dependendo de sua outorga para funcionar.
Na outra opção, a de credenciamento, há menos exigências, mas também menos direitos. A operadora virtual apenas vende; a tradicional cuida da prestação do serviço, da cobrança, do suporte – enfim, de todo o resto.
Em entrevista ao IDG Now!, em novembro do ano passado, Osato usou uma simples analogia para explicar as diferenças entre os dois modelos. No de credenciamento, é como um supermercado que compra o leite de uma marca famosa e o empacota, utilizando seu próprio logo; sua composição, no entanto, não poderá ser alterada, e mesmo o preço será fixado pelo produtor. Na opção de autorizada, por outro lado, a liberdade é bem maior: é o caso de uma grande rede que compra o leite de uma companhia. Esta será, praticamente, a única ligação entre elas; na hora de comercializá-lo, ele poderá vir complementado com algumas vitaminas, e o preço e o tamanho da embalagem serão definidos pelo varejista.
Preços não irão cair
Para o vice-presidente, no entanto, o preço do minuto de celular no Brasil não deverá cair – apesar de ser o segundo mais caro do mundo, de acordo com a consultoria Bernstein Research. Ele referiu-se ao aumento da renda do brasileiro, algo que não motiva as operadoras tradicionais, e tampouco motivará as virtuais, a reduzir as tarifas. Afinal, as empresas que entrarem no mercado de telefonia móvel se tornarão parceiras das concessionárias que o controlam.
“A questão”, alegou “é agregar valor, não reduzir custos”. Um caso na Bélgica foi citado como exemplo. Lá, quem faz compras no Carrefour e tem uma linha de celular da empresa, ganha minutos tão logo a transação é completada – o aviso, com o tempo a mais de conversação, chega por SMS.
A economia, portanto, é possível com a personalização do serviço. O usuário se torna cliente da operadora virtual de determinada rede de lojas e, de acordo com o dinheiro despendido nela, poderá não ter gastos com o a conta de celular. O interesse das empresas, ressaltou
Osato, não é alterar seu ramo de atividade, mas oferecer diferenciais para que este cresça.
No mundo, segundo a Amdocs, as operadoras virtuais representam, apenas, 2% de todas as linhas de celular. No entanto, em regiões de mercado mais desenvolvido, onde existem há até dez anos - como Estados Unidos e Europa – tal índice chega a 10%.
Site: IDG Now!
Data: 07/02/2011
Hora: 14h11
Seção: Telecom e Redes
Autor: ------
Link: http://idgnow.uol.com.br/telecom/2011/02/04/primeiras-operadoras-virtuais-so-deverao-chegar-em-seis-meses/