A China é a principal parceria comercial do Brasil, desde 2009. O embaixador da China no Brasil, Qiu Xiaoqi, proferiu palestra, em 22 de março último, no Rio de Janeiro. Brasil é a bola da vez internacional.
O embaixador Qiu Xiaoqi esteve presente no Instituto de Altos Estudos da UFRJ para proferir palestra. A mesa foi composta também por Segen Farid Estefen, pela Coppe/UFRJ – Instituto Alberto Coimbra de Pós-Graduação e Pesquisa de Engenharia da Universidade Federal do Rio de Janeiro –, que coordenou os trabalhos; pela a professora Ana Célia Castro, pelo Programa de Pós-Graduação em Políticas Públicas, Estratégias e Desenvolvimento do IE – Instituto de Economia da UFRJ, pela a consulesa-geral da China no Rio de Janeiro, Chen Xialoing; pelo embaixador Affonso Celso de Ouro-Preto; e pela a professora visitante da UFRJ Anna Jaguaribe.
O 12º plano quinquenal chinês
O embaixador Qiu Xiaoqi já visitou todos os estados do Brasil. Referindo-se à intensa chuva que caía ao iniciar sua fala, explicou que na cultura chinesa “chuva é sinal de alegria e de dinheiro”. A seguir, um resumo do pronunciamento do embaixador.
“A economia da China cresceu 10% ao ano ou mais, durante 30 anos. Tal índice trouxe mudança, profunda e ampla, para o país. Há duas semanas, a Assembleia Popular da China aprovou seu 12º Plano Quinquenal para 2011-2015. A China também pensa em longo prazo, para certos temas até 2050”.
Desenvolvimentos científico e pacífico são os pilares do plano. “Os amigos ocidentais muitas vezes não entendem o desenvolvimento científico”. A palavra-chave chinesa é “equilíbrio”. A taxa de crescimento econômica da China, prevista para 2011-2015, é de 7%, com elevação da “qualidade” da economia. Fazem parte desse desenvolvimento: reduzir a dependência das exportações; enfatizar o consumo interno; injetar inovação no aparato produtivo; enfatizar novos setores com serviços modernos. É transformar o crescimento de extensivo para intensivo.
Outra palavra-chave do 12º Plano é “inclusão”. O objetivo mais importante é que todos os chineses vivam felizes, com mais dignidade. O per capita do chinês ainda é baixo. (N.R.: US$ 4.520, 90º lugar; Brasil: US$ 10.4271, 55º lugar). O nível do serviço público não corresponde ao desenvolvimento da economia. O que se quer é fortalecer a causa social, dar um mínimo de segurança social e melhorar a vida do povo.
O crescimento da China tem que ser econômico, social, político e cultural. É preciso elevar o nível científico das decisões, eliminando fatores negativos e liberando forças produtivas para a justiça social. Nos últimos 30 anos, aconteceram reformas políticas na China, algo que “os amigos ocidentais não entendem”. As assembleias populares, que são mecanismos de consultas públicas, estão funcionando. A democracia está se fortalecendo, com novos mecanismos e com eleições distritais.
A China vai desenvolver recursos naturais e de energia, levando em conta os custos ecológicos. Ela irá assumir compromisso internacional sobre o meio ambiente. Só serão aceitas novas estratégias que gastem pouca energia e respeitem o meio ambiente. O desenvolvimento da ciência será pacífico (não agredirá o planeta). O destino da China está ligado ao restante do mundo. É preciso que haja um ambiente internacional pacífico, para que exista desenvolvimento científico. A China quer a paz no mundo.
O país está aberto à cooperação para o desenvolvimento mútuo. A China tem relações com países desenvolvidos e em desenvolvimento e “não quer fechar a porta”. O 12º Plano manda abrir novos espaços em nível global. A China, em 30 anos, tirou 300 milhões de chineses da pobreza. O problema da alimentação foi resolvido. Temos 1/5 da população do planeta.
Oitenta por cento da população confiam no futuro do plano. A China é o segundo maior importador em todo o mundo. E a exportação entre China e Europa cresceu.
O desenvolvimento chinês não é uma ameaça para o Brasil e sim uma oportunidade. São US$ 700 bilhões de investimentos estrangeiros na China, que vai investir, diretamente, US$ 60 bilhões em outros países. Na África, de 2000 a 2010, ajudou a construir 60 mil km de estradas, e 60 milhões de metros quadrados de habitações.
A relação China e Brasil é uma parceria comercial e estratégica. A China é o país que mais compra do Brasil e o segundo de quem o Brasil mais compra. China tem investimentos estratégicos de US$ 20 bilhões por aqui. Isto não é uma ameaça e sim uma cooperação que beneficia a ambos. Nas relações culturais, a China tem no Brasil (na UnB e na Unesp) dois Instituto Confúcio (N.R.: são mais de 300 em 96 países).
O embaixador Qiu Xiaoqi deu o recado final: “Brasil é um país com futuro. Vai ser uma das potências do mundo. Tenham confiança. O povo chinês é um pouco como o povo brasileiro”.
Debate
O embaixador Qiu Xiaoqi respondeu a perguntas.
Economia – A economia da China é de mercado, com concorrência, ainda que no Brasil o mundo oficial não reconheça isso.
Democracia – A democracia chinesa difere da ocidental. A democracia para um país de 1,3 bilhão de habitantes tem suas peculiaridades. Ainda é baixo o nível de riqueza per capita. Não temos uma democracia ocidental. Mas, respeitamos a democracia dos outros países. Não podemos copiar. Em 1911, houve a revolução Xinhai, com abdicação do imperador Xuantong. O resultado não deu certo. Em 1949, o Partido Comunista da China enveredou pelo caminho socialista.
Até 2050 – Vamos democratizar com as peculiaridades chinesas. Vamos chegar ao renascimento, com uma nova nação. Pensamos na China daqui a 50 anos. Respeitamos a democracia de outros países e temos a democracia da China.
Ecologia – “Não importa a cor do gato, desde que ele cace o rato”. O gato agora terá que ser verde. Com 1,3 bilhão de pessoas, dentro de 30 ou 50 anos, de onde vamos importar petróleo? O modelo de desenvolvimento dos EUA não é aplicável ao planeta. Lá, preços baratos mantêm o consumo maior do mundo. Queremos uma economia sustentável para nossos netos.
Maior Desafio – Manter o desenvolvimento sustentado é um desafio. Dá para manter a taxa de crescimento daqui a 5 ou 10 anos? O importante é melhorar a qualidade do desenvolvimento humano. O desafio é como os benefícios da reforma vão privilegiar o povo. Temos que corrigir o social. Esse é o desafio.
Propriedade Intelectual – Para qualquer país é importante. O governo chinês estabeleceu mecanismos para a PI e tem tido sucesso. O fenômeno da pirataria é universal. Seu combate exige a cooperação internacional.
Edição: Priscila Thereso
Site: Telebrasil em Foco
Data: 01/04/2011
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Autor: João Carlos Fonseca
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