A tranquilidade para focar no core business depende cada dia mais delas, que impulsionam a estratégia no ecossistema.
Seja qual for o setor da economia nacional em que atua, a organização precisa de dois ingredientes importantes na receita do sucesso: foco e tecnologia. Só que para manter o primeiro, terá de abrir mão da administração do segundo. Em uma indústria de sapatos, por exemplo, formar um time de TI, capacitá-lo e gerenciá-lo podem derrubá-la do salto.
O equilíbrio dessa equação veio pelas mãos de empresas chamadas middleware. “O termo é novo, mas na verdade são as velhas conhecidas `integradoras`, que ganharam novas matizes”, diz Souvernir Zalla, gerente geral do Edge Group e do Forrester no Brasil.
Ao sabor da alta demanda por serviços especializados, capazes de proporcionar diferencial competitivo, cresceram, se especializaram e muito mais: ganharam credibilidade. Não se trata apenas de livrar dos ombros dos clientes a responsabilidade de determinadas operações. Mas de agregar valor: porque as atividades são realizadas com muito mais qualidade e eficiência do que internamente.
“Por estarem no front, elas conhecem muito bem o negócio do cliente, mais do que o fabricante”, descreve Zalla, acrescentando que as middleware não são apenas um canal e sim poderoso gerador de valor.
Para Vera Cook, diretora de Canais da Oracle, a tecnologia é um grande diferencial, contudo, “não existe esse diferencial sem a atuação dos parceiros”.
“São eles que levam o conhecimento ao negócio do cliente junto com a nossa tecnologia. Por isso, temos amplos programas de capacitação para torná-los cada vez mais aptos a atender ao mercado de maneira diferenciada”, diz Vera.
As middleware atuam em completa sintonia na cadeia de negócios da Oracle. De acordo com a executiva, muitas delas agem com eficiência em todos os níveis, desde a consultoria, para identificar a necessidade do cliente, à indicação e implementação da solução.
Diferente da Oracle, a IBM está posicionada também como uma empresa de serviços, mas ainda assim as middleware integram em muitos momentos a estratégia. “Não há como ter braços para atender todo o mercado, por mais que seu portfólio e o seu time sejam amplos”, afirma João Felipe Nunes, diretor de Canais e Alianças da IBM.
O executivo afirma que a importância das middleware na cadeia de negócios é fato. “Mas temos de saber separar o joio do trigo”, diz. “Algumas vezes somos parceiros e outras estamos competindo.” Para estreitar o relacionamento com os mais de 1.700 parceiros em todo o País, a empresa acaba de lançar o portal Canais IBM.
O importante, prossegue, é identificar o potencial dessas empresas. “Como complementam meu portfólio? Como podem fortalecer minhas vendas? Como podemos alinhar nossas estratégias?” “O que as middleware têm a oferecer é algo que não cabe dentro da estrutura organizacional da companhia usuária, pois requer muito investimento em tecnologia e em pessoas. E para os fabricantes também”, diz Rafael Sampaio, CEO da Future Security, empresa de segurança da informação como serviço.
Segurança como serviço
Não faz muito tempo, muitas empresas pensavam inúmeras vezes antes de passar para terceiros a responsabilidade de proteger seu ambiente de TI. Mas essa prática hoje é cada vez mais requisitada.
“Custo é um bom motivo para a terceirização, mas não é o único, e nem deveria ser o primeiro”, destaca Marcus Moraes vice-presidente da Arcon, middleware especializada em serviços gerenciados de segurança da informação.
O executivo diz que entre os motivos pelos quais as empresas passam o bastão da segurança para as middleware está o fato de que o tempo para implementar novas soluções de segurança é sempre curto.
“Mesmo que a empresa possua profissionais capacitados na tecnologia, dificilmente os terá em quantidade suficiente para fazê-lo no tempo esperado. Sem contar com o alto custo que esse tipo de operação demanda”, diz Moraes.
A Arcon gerencia mais de 290 ativos de segurança em todo o país, para a proteção de mais de 125 mil estações de trabalho e servidores de empresas de variadas verticais, entre elas finanças, telecomunicações, governo e indústria.
De olho na expansão dessa demanda, a Future Security fundiu-se recentemente com a Allen Informática, que está presente em oito estados e 11 cidades brasileiras. “Iremos ampliar também o oferecimento dos recursos avançados por meio do centro de tecnologia da Allen, sediado em Petrópolis, no Rio de Janeiro.”
Economia em escala é outro benefício atraente apontado por Sampaio. “Tenho aqui um software que funciona 24 x 7, com contingência, e infraestrutura adequada, além de pessoal experiente e capacitado. Construir esse ambiente e mantê-lo atualizado é muito dispendioso², relata. “Mas se o compartilhamos com outros clientes, ele se torna plenamente viável no orçamento.” Sampaio diz que a corrida por cloud e mobilidade mexeu com os negócios.
“Porque implica em segurança. Todos estão muito interessados em proteger suas nuvens. Especialmente em razão de ser uma nova arquitetura.” A nuvem da Companhia de Saneamento de Minas Gerais (Copasa) é um dos projetos da empresa, colocado em operação no final do ano passado. A analista de suporte da Copasa, Deborah Azevedo de Andrade, diz que a companhia conseguiu reduzir custos em um ambiente seguro com a ajuda da Future Security.
Segundo ela, existia o grande desafio de reduzir o tempo de acesso aos sistemas da empresa para a prestação de serviços como segunda via de conta e religação do fornecimento. “O custo estava muito alto: 458 reais por cada acesso (por duas horas). Considerando os 164 acessos diários, a conta atingia 75 mil reais por mês”, relata Deborah.
Com a cloud, prossegue, a companhia conseguiu baixar para 69 reais o acesso por tempo ilimitado. “Usamos uma solução eficiente de VPN, via internet pública e criptografia para proteção de dados”, diz. “Trocamos o 0800 da Telemar pelos serviços da Vivo”, relata, acrescentando que tiveram ganhos também na imagem da empresa em razão da agilidade no atendimento ao cidadão.
Mexendo em vespeiro
Muitas vezes não se trata somente de uma questão de custos. Gestão de processos, por exemplo, é tarefa considerada crítica para o líder, o mesmo que mexer em vespeiro. No entanto, ela pode ser inteiramente simplificada pela middleware, especializada no assunto.
“Somos, acima de tudo, facilitadores”, destaca Jeovani Salomão, presidente da Memora, prestadora de serviços de consultoria com foco em modernização de gestão. “Nos tornamos mestres em tirar gestores de situações desconfortantes, atuamos além da tecnologia, facilitando as tomadas de decisão”, reforça.
Apoiada justo no diferencial de um modelo próprio de gestão de processos, a empresa arrebatou em 2010 o título de vice-campeã em Parceiro Middleware do Ano, oferecido pela Oracle Corp. “E concorremos com empresas importantes do mercado global.” Todo esse conhecimento da Memora foi aplicado na Terracap, uma das maiores e mais antigas companhias imobiliárias de terras públicas que formam o Distrito Federal.
Desde 2007, a imobiliária pública adota novo modelo de gestão, com o objetivo de tornar mais transparentes os atos administrativos, melhorar as relações institucionais com a sociedade e também ampliar a qualidade dos serviços prestados.
“Em 2009, traçamos um plano para mapear todos os processos de negócios da empresa e de tecnologia da informação”, diz Milton Martins de Lima Junior, coordenador de Informática da Terracap.
Segundo ele, o foco tecnológico era alinhar TI aos objetivos de negócios.
“Batizamos o projeto de Órion, apoiado em três pontos: planejamento estratégico, gestão de processos de negócios e geoprocessamento.” A Memora atuou na gestão de processos, relacionados à elaboração de editais e licitações. “O conhecimento tecnológico da middleware em Business Process Management (BPM) foi fundamental para extrairmos da tecnologia o máximo da sua potencialidade”, garante Junior.“O ganho maior é que quando os processos são ágeis, é possível aproveitar o tempo de maneira mais estratégica e menos operacional.”
Inovação em pauta
Um ingrediente importante para fortalecer a atuação nesse mercado é a inovação. É também um compromisso da Concrete Solutions, que presta serviços de consultoria em tecnologia da informação. O perfil da empresa é marcado pela ousadia. Não por acaso, já contabiliza variados projetos em cloud computing, conceito emergente.
“Computação em nuvem e mobilidade afetaram fortemente nosso posicionamento”, diz Fernando de la Riva, sócio-diretor da empresa. “É uma arquitetura que nos possibilita oferecer ao cliente total flexibilidade, especialmente para os que possuem negócios com características sazonais, temperados pelos picos de atuação em certas épocas do ano”, completa.
Ele explica que hoje não precisa mais desenhar o futuro e sim uma arquitetura maleável, capaz de atender às necessidades lá na frente. “Na cloud, posso reduzir ou aumentar em dez vezes o número de servidores, por exemplo, em minutos.” Ele acrescenta que um dos diferenciais da empresa e o que a faz avançar em projetos na nuvem é a especialização da equipe no conceito.
E foi assim com o projeto da carioca Casa & Vídeo, uma das maiores varejistas do País. A empresa precisava racionalizar o uso da infraestrutura de e-commerce, levando em conta especialmente os períodos de sazonalidade do negócio e os picos de demanda com promoções e campanhas de calendário, como a Liquidação Maluca, que acontece três vezes no ano.
A Concrete Solutions implementou uma solução de cloud que proporcionou redução expressiva de custo e melhoria da qualidade de serviços ao cliente, de acordo com Nilson Lopes, consultor responsável pela transformação da área de tecnologia da Casa & Vídeo.
Ele acrescenta que “em menos de 10 minutos, é possível dobrar a capacidade de processamento em um mês normal, sem sazonalidade. De forma segura, rápida e simples”.
A migração e a certificação de todo o ambiente de cloud levaram apenas um mês, de acordo com a Casa &Vídeo. ³A operação hoje conta com quase 100% de disponibilidade e tempo de resposta de 200 m/s², afirma Fernando, da Concrete.
Para Gustavo Batista, gerente de Canais Virtuais da Casa & Vídeo, o maior desafio foi superado: fazer com que o portal acompanhasse a dinâmica do varejo com alta disponibilidade. “Do faturamento de mais de 1 bilhão de reais por ano, o portal já responde por cerca de 5%.”
Todos esses resultados proporcionados pelas middleware têm permitido que, no cenário global altamente competitivo, empresas atuantes nos mais variados setores da economia nacional foquem em seus core business e se mantenham em posição confortável no ranking de atuação.
Nessa arena, é difícil para o gestor estar atento a toda movimentação estratégica e tecnológica do seu segmento. Muitas vezes, ele se distanciou das melhores práticas e vivencia uma tática desgastada. Muitas vezes, nem mesmo teve tempo de saber que uma solução inovadora pode mudar o rumo dos seus negócios. A middleware pode cuidar disso. “Oferece visão inovadora e ações adequadas para a atualização necessária”, garante Salomão, da Memora.
Site: CIO
Data: 01/04/2011
Hora: 09h34
Seção: Gestão
Autor: Solange Calvo
Link: http://cio.uol.com.br/gestao/2011/04/01/empresas-middleware-sao-o-dinamo-da-cadeia-de-negocios/