O ministro da Ciência e Tecnologia, Aloizio Mercadante, pretende se reunir com o presidente da Abinee, Humberto Barbato, para esclarecer sobre as recentes notícias que saíram na imprensa com relação aos acordos comerciais Brasil/China e também as declarações de empresas chinesas que anunciaram investimentos na área da indústria eletrônica. Mercadante tomou conhecimento da repercussão negativa ou, pelo menos cautelosa, da indústria já instalada no Brasil e, preocupado, telefonou para Barbato, direto de Pequim, aonde acompanhava a presidenta Dilma Rousseff, para agendar a reunião assim que retornar ao país.
Nos últimos três dias a indústria eletrônica local acompanhou pelo noticiário uma série de anúncios de grandes empresas chinesas de tecnologia, sem saber ao certo, da parte do governo brasileiro, que contrapartidas serão dadas em troca desses investimentos. Muita coisa que saiu no noticiário soou como um grande exagero, dependendo justamente de saber até que ponto o Brasil estaria disposto a ter a presença chinesa em competição direta com a indústria local.
O que mais chamou a atenção da Abinee foi a suposta intenção da empresa Foxconn de investir US$ 12 bilhões (R$ 19 bilhões) no Brasil, nos próximos cinco anos, “para produzir displays (telas de computador e tablets), prevendo a contratação de 100 mil funcionários”. Neste episódio a Abinee se manifestou no jornal O Estado de S.Paulo pedindo cautela com relação aos números. Lembrou que no ano passado, todo o setor eletroeletrônico empregou 175 mil trabalhadores e que este ano a expectativa é que 178 mil trabalhadores sejam contratados.
Ademais, uma fábrica de displays não comportaria tantos trabalhadores, o que indica que houve certa confusão com números. Ainda que fossem necessários e considerando que deste total, cerca de 20 mil serão engenheiros, como foi anunciado, isso provocaria o caos no mercado brasileiro. Daí a necessidade do ministro ter efetivamente essa reunião com o presidente da Abinee para esclarecer melhor aquilo que anunciou com festa em solo chinês.
O exagero cometido pelo governo no anúncio desses investimentos perdeu a credibilidade até pela grandiosidade de tal projeto chinês, certamente acostumado com esses números, mas que para o Brasil fogem à realidade. Cidade nenhuma brasileira comportaria mão de obra suficiente para atender a uma demanda nesses moldes, nem tampouco infraestrutura necessária para abrigar tamanho contingente de trabalhadores, que demandariam diversos serviços públicos conjuntamente, tornando a administração municipal inviável.
Porém, o que certamente deverá estar preocupando a direção da Abinee é a parte não visível dessa viagem dos principais integrantes do governo à China, em companhia da presidenta Dilma Rousseff. A única certeza até agora com relação ao comportamento dos chineses é de que eles não fariam investimentos desse nível no Brasil, se não tivessem alguma certeza de que receberão contrapartidas locais que poderão garantir uma cômoda posição no enfrentamento que terão com a indústria que há anos apostou no Brasil.
Site: Convergência Digital
Data: 14/04/2011
Hora: 9h37
Seção: Política Industrial
Autor: Luiz Queiroz
Link: http://convergenciadigital.uol.com.br/cgi/cgilua.exe/sys/start.htm?infoid=25921&sid=7