Fornecedora italiana Tagetik desembarca no país com metas ambiciosas, competindo com SAP, IBM e Oracle.
O atual momento da economia brasileira tem proporcionado boas oportunidades às empresas.
Em contrapartida, o aquecimento dos negócios trouxe desafios crescentes. O movimento de internacionalização de várias delas, a atuação das agências reguladoras e as aquisições são exemplos de variáveis importantes, em especial, para diretores financeiros, os chamados CFOs (Chief Financial Officer, da sigla em inglês). Eles têm buscado soluções que ampliem a competitividade e aprimorem a gestão dos negócios, garantindo rentabilidade e alinhamento aos padrões financeiros.
É um cenário complexo e ao mesmo tempo promissor. Essa dobradinha atraiu a atenção da italiana Tagetik, que acaba de desembarcar no Brasil, com escritório em São Paulo, disposta a arrebatar importante fatia do mercado de Corporate Performance Management (CPM) - tecnologia que a empresa considera ideal para suprir a demanda dos CFOs. "O mercado brasileiro tem características únicas. Possui enorme potencial, oferecendo crescimento rentável e fatores de grande risco que o tornam ideal para soluções de gerenciamento de desempenho, especialmente para orçamentos, planejamento e previsão”, diz Antonio Rihl, gerente geral da empresa no País.
Fornecedora de soluções de Performance Management e Enterprise Governance Risk & Compliance, a aspirante a boas posições no ranking nacional tem foco em grandes e médias empresas. Na bagagem, a Tagetik trouxe dois grandes trunfos: um acordo com a Twice Software, que será a parceira distribuidora de seus produtos, e outro com a Microsoft. A sua solução Tagetik 3.0 faz uso da plataforma Sharepoint, tornando o produto mais colaborativo para as empresas que já adotam a tecnologia da Microsoft. Tudo isso tem um propósito: “tornar-se referência para os CFOs”, de acordo com Rihl.
Não é tarefa fácil de ser cumprida. Na arena, estão gigantes como SAP, Oracle e IBM, disputando esse mercado que, segundo o instituto de pesquisas Gartner, movimenta globalmente cerca de 2 bilhões de dólares por ano. A maioria das grandes empresas brasileiras, de acordo com Rihl, já tem algum tipo de ferramenta que atende à gestão de processos financeiros, fornecida por algumas dessas gigantes. Mas ele acredita também que, mesmo entre companhias de grande porte, a Tagetik pode oferecer produtos. “Sempre existirá uma última milha, uma última meta a cumprir. Sempre falta algo, e temos produtos a oferecer”, diz Rihl, que revela a grande arma da empresa nesse duelo: “Ser uma organização 100% CPM. Somos a única no País focada no segmento”.
Para reforçar ainda mais a estratégia, a Tagetik também acredita em alianças com empresas que ajudem na implementação da sua tecnologia. “Consultorias como PriceWaterhouseCoopers, Bearing Point e Delloite”, revela o executivo.
Oportunidades de negócio
A entrada no mercado brasileiro faz parte da estratégia de internacionalização da Tagetik iniciada há cerca de dois anos. “Após se consolidar na Europa, a empresa expandiu para os Estados Unidos e começou a mirar o Brasil, quando percebeu que o País passou relativamente estável pela crise e tem um Œgap¹ em relação aos países desenvolvidos, não só tecnológico, mas também cultural.” Ao mesmo tempo em que as grandes empresas brasileiras continuam a crescer e a bater recordes de receita e produção, as pequenas companhias, que não são o foco da Tagetik, podem atraí-la em breve. “Acredito que atualmente existam5 mil empresas que podem ser nosso alvo, as que irão crescer e conquistar patamares entre grande e médio portes.” E essa expansão abre um leque de oportunidades para a Tagetik, pois gera desafios mais complexos para quem administra a corporação. “Quando a empresa brasileira se internacionaliza, precisa adaptar-se às regulamentações de cada país e às agências reguladoras. É aí que entramos em cena”, diz.
Para Rihl, o Brasil vem passando por uma mudança cultural. Historicamente, sempre esteve atrás de outros países em relação ao planejamento. A estabilização da moeda, a globalização e a vinda de empresas estrangeiras mudaram o comportamento das companhias locais. “A atuação do diretor financeiro ficou mais complexa. Ele se tornou o executivo mais forte dentro de qualquer empresa.” Mas essa tendência de crescente complexidade na gestão dos negócios não é exclusiva do Brasil. A cada ano, a gestão fica mais difícil para CFOs de qualquer lugar do mundo. Uma pesquisa global realizada pela CFO Research Services, em 2010, apurou que as companhias perceberam que aumentou a necessidade por mais informações. O estudo baseou-se em entrevistas com executivos financeiros que identificaram uma maior necessidade de ter acesso às informações. Para isso, seria necessária a adoção de sistemas que melhorassem o monitoramento do desempenho e do planejamento das organizações.
Vale dizer que esse movimento foi antecipado há alguns anos pelos fornecedores de soluções e levou a um processo de consolidação do mercado de CPM, quando perceberam que a demanda dos clientes estava em transformação.“O mercado no qual a Tagetik atua foi definido e denominado pelo instituto de pesquisas Gartner como Corporate Performance Management (CPM) há cerca de seis ou sete anos. Logo depois, foi iniciado um processo de consolidação.”
Consolidação do mercado
Empresas chamadas de “puras” em Business Intelligence, como Cognos, Business Objects e Hyperion, começaram a comprar outras que tinham soluções voltadas ao planejamento e à consolidação financeira. Entre as várias aquisições da Cognos estão a Adayton e a Frango. Já a Hyperion fez uma fusão com a Arbor Software ¬ que ajudou a criar o termo OLAP, sigla em inglês para processamento analítico online ¬ e adquiriu inúmeras companhias menores com o objetivo de ampliar o leque de soluções oferecido para gestão de processos financeiros.
As compras tiveram o objetivo de ampliar o leque de serviços aos clientes, de acordo com as avaliações de analistas na ocasião. “Na verdade, queriam ir além do Business Intelligence (BI), não bastava mais ter soluções pautadas em dados do passado, mas que pudessem olhar para frente. Prever e reportar o que ainda iria acontecer”, acrescenta Rihl. “Embora muitas empresas ainda acreditassem que os ERPs pudessem resolver sozinhos os processos incluídos na categoria de CPM, foi ficando cada vez mais claro que as suas aplicações eram uma camada acima da transacional. Aplicações de CPM são, em sua maioria, analíticas”, afirma. Por trás disso, prossegue o executivo, havia uma estratégia importante: as empresas de TI queriam conquistar CEOs e CFOs.
O movimento de consolidação teve uma segunda etapa, quando gigantes como Oracle, SAP e IBM entraram no jogo mostrando a importância estratégica do CPM. Naquele momento, a Oracle, assim como SAP e IBM, não tinha uma solução desse tipo. “Elas começaram a ver que concorrentes como Hyperion ou Cognos tinham conseguido entrar no mercado com tecnologias específicas, conquistando a área financeira de seus clientes”, diz.
Os negócios mais importantes acabaram ocorrendo em 2007. Em março daquele ano, a Oracle comprou por 3,3 bilhões de dólares a Hyperion. Em seguida, a SAP adquiriu a Business Objects por 6,7 bilhões de dólares. Já a Cognos foi adquirida por 5,5 bilhões de dólares pela IBM em novembro.
Na contramão
Uma vantagem competitiva da companhia italiana é o fato de seu negócio não ser fruto de fusões e aquisições, na avaliação de Rihl. O produto oferecido pela Tagetik foi concebido inteiramente pela empresa. “Os concorrentes oferecem soluções que são o resultado das aquisições. Para gerar um CPM, foram comprados vários produtos, com plataformas e interfaces diferentes. O nosso foi construído do zero. Em teoria, mais limpo e moderno, e consegue atender modelos muito complexos de planejamento.” Com mais de 400 clientes no mundo, a Tagetik atende na Europa e nos Estados Unidos setores da indústria. Segundo Rihl, a empresa não terá atuação setorial. “Nosso foco sempre foram as grandes empresas, por conta até do perfil do mercado europeu. Nosso produto resolve problemas mais complexos, inexistentes em empresas de pequeno porte. Mas isso não quer dizer que também iremos atrás das companhias médias.”
O objetivo da Tagetik é fechar de três a quatro negócios em 2011 e em três anos estar entre as três maiores fornecedoras do País. Sem revelar o faturamento, a empresa divulga crescimento de 20%, em relação a 2010, com aumento de 35% das receitas com licença. O faturamento com novos clientes obteve incremento de 65%. Em dezembro do ano passado, atingiu o total de 80 clientes internacionais. As vendas fora da Itália cresceram 120% e a licença com suas operações internacionais aumentaram 56%.
Site: Computerworld
Data: 27/04/2011
Hora: 07h30
Seção: Negócios
Autor: Lucas Callegari
Link: http://computerworld.uol.com.br/negocios/2011/04/26/empresa-italiana-de-cpm-quer-se-tornar-referencia-no-brasil/