Para novo presidente, Telebrás deve ampliar atuação no atacado

02/06/2011

A mudança no comando da Telebrás, com a saída de Rogério Santanna oficializada na reunião do Conselho de Administração da estatal nesta quarta-feira, 1º/6, marca, em mais de um sentido, uma aproximação da empresa com o setor privado. O novo presidente, Caio Bonilha, até então diretor comercial da Telebrás, tem larga experiência no mercado e ideias um pouco diferentes do engenheiro Santanna sobre a atuação da empresa.

Elas podem ser descritas especialmente em dois pontos destacados por Bonilha sua primeira entrevista no novo cargo. De pronto, ele rejeita qualquer atuação da estatal no varejo – questão que, justiça seja feita, jamais figurou entre as principais linhas de atuação da reestruturada Telebrás, mas que foi prevista em Decreto presidencial até pela questão estratégica de pressionar o mercado privado.

A segunda diferença, porém, poderá ter impacto mais significativo, a depender da reação do próprio mercado. Segundo o novo presidente, a Telebrás venderá capacidade de rede no atacado mesmo para aqueles clientes que não adotarem os termos para a venda aos consumidores nos moldes do PNBL – de acesso a R$ 35 para conexões de 1 Mbps.

“Teremos o preço diferenciado para aqueles que atenderem as imposições da Telebrás, mas vamos vender para quem quiser. Aqueles que não quiserem fazer parte do programa também poderão comprar capacidade, mas nesse caso vamos aplicar os preços de mercado”, explicou Bonilha.

O valor a ser cobrado pelo Mbps dentro das linhas do PNBL ainda é objeto de discussão na empresa. Inicialmente, o projeto previa o preço de R$ 230 para a contrapartida de acesso final a R$ 35, mas de 512 kbps. Com a orientação do Palácio do Planalto para que não sejam comercializadas conexões inferiores a 1 Mbps, a equação precisa ser revista.

“O valor de R$ 230 vai cair, mas ainda estamos definindo. De qualquer maneira, acredito que mesmo com o preço menor haverá equilíbrio, porque o volume maior de venda de capacidade vai compensar”, acredita Bonilha. Até aqui, nas contas do novo presidente, a Telebrás já tem demanda para vender, pelo menos, 30 GB. “Mas muitos provedores só estão nos procurando agora”, emenda.

Segundo ele, a mudança na empresa vem no momento em que nas atividades da Telebrás deixam a etapa pré-operacional para a operacional – até porque Santanna deixa o cargo com as questões relativas à rede resolvidas e praticamente na véspera do início das operações.

“Haveria naturalmente uma presença maior da parte comercial do que da de engenharia”, avalia.

Relações
Caio Bonilha vai convidar a presidenta Dilma Roussef para o início da primeira conexão do PNBL, no fim deste mês, que ele acredita se dará em Santo Antônio do Descoberto (GO), cidade no entorno do Distrito Federal. A partir daí, uma sucessão de novas cidades deve acontecer rapidamente, com o progresso das instalações no backbone partindo para o sul, em direção a São Paulo, e nordeste, até Fortaleza (CE).

Além de simbólico, o convite a Dilma é em si mesmo um agradecimento pela indicação para o cargo – uma vez que a pretensão do ministro Paulo Bernardo, ao fazer a mudança, era deslocar para a Telebrás o secretário executivo do Minicom, Cezar Alvarez. Foi o Planalto quem preferiu Bonilha.

As boas relações do executivo com a presidenta – há alguns meses ele já era o interlocutor preferencial de Paulo Bernardo e da própria Dilma com a Telebrás – podem ser um alento se a estatal, enfim, conseguir a liberação dos recursos que, prometidos desde o ano passado, ainda não chegaram aos cofres da empresa.

No Minicom, alimenta-se a versão de que as reclamações pela falta de recursos marcaram os “conflitos” entre Rogério Santanna e o ministro Paulo Bernardo – ainda que o próprio Caio Bonilha afirme que “não fosse o impacto do que estava fora do nosso controle, já estaríamos em operação”.

Santanna, no entanto, acredita que foi a inflexão que o governo resolveu dar no PNBL, de maior proximidade com as teles, que selou seu destino. “À medida em que o trabalho do PNBL ia se aproximando dos interesses das empresas de telecomunicações do Brasil, a minha relação com o ministro foi se deteriorando”, admite, para completar: “Há uma clara orientação do governo de aproximar-se das empresas de telecom”.

Site: Convergência Digital
Data: 01/06/2011
Hora: 14h47
Seção: Inclusão Digital
Autor:  Luís Osvaldo Grossmann
Link: http://convergenciadigital.uol.com.br/cgi/cgilua.exe/sys/start.htm?infoid=26497&sid=14