Ao contrário de outros países, o Brasil ainda não tem as chamadas MVNOs (do inglês, Mobile Virtual Network Operators), ou operadoras móveis virtuais, em operação, mas o mercado começa a discutir alternativas e estratégias para sua implementação. Na semana passada, São Paulo sediou o evento “Desafio de Segurança em MVNO”, que reuniu cerca de 100 executivos que debateram alternativas para a criação de operadoras virtuais seguras.
Um dos focos do debate foi o crescimento do uso de dispositivos móveis (celulares mais especificamente) e do potencial de ameaças que podem atingi-los muito em breve. O CEO da ValidSoft, Pat Carroll, lembrou que, em 2010, o cybercrime causou US$ 1,4 tri em prejuízos a empresas de todo o mundo. “Em 2008, as fraudes envolvendo cartões de crédito geraram perdas de US$ 52 bilhões às operadoras nos Estados Unidos”, comentou.
Sobre a relação entre as duas estatísticas, o executivo foi claro: os equipamentos móveis são a escolha dos consumidores, que cada vez mais vão utilizá-los não apenas como meio de comunicação e de acesso a informações, mas também como meio de pagamento. “É nesta direção que estamos indo e temos problemas em relação a isso que precisam ser resolvidos”, disse Carroll.
Não por acaso, estimativas apontam que, até 2013, os dispositivos móveis serão responsáveis por mais de 12% das transações de comércio eletrônico realizadas no mundo, o que deve ampliar ainda mais o volume de pagamentos e outras transações financeiras realizadas via dispositivos móveis.
Na ponta dos fornecedores, o mercado se vê obrigado a desenvolver e implementar funcionalidades de detecção de fraudes bem diferentes das tradicionalmente utilizadas nas redes de telefonia fixa. E é a evolução destas ferramentas que vai aumentar a segurança no ambiente móvel e a confiança de instituições financeiras e clientes.
Eduardo Prado, gerente de negócios da ClearTech e um dos organizadores do evento, lembrou que a segurança é fator fundamental para que empresas como bancos e redes de varejo, por exemplo, tornem-se operadoras virtuais. Mas para que isso aconteça este ecossistema terá que desenvolver um novo modelo de relacionamento com as operadoras tradicionais.
“Um banco que se torne uma operadora virtual, por exemplo, vai querer controlar a cadeia de valor da operadora virtual. É a única forma de garantir a segurança”, afirma. O executivo lembrou que mecanismos de segurança só garantem o controle total se a empresa tiver o controle fim a fim, e a obtenção deste controle vai exigir grandes esforços de negociação entre as partes.
De todo o modo, os participantes do evento – patrocinado pela ClearTech, CPqD, Elephant Talk e ValidSoft – puderam ver de perto algumas soluções que garantem este controle e transações seguras. Prado reconheceu, no entanto, que as operadoras virtuais ainda são uma realidade distante no Brasil. “O mercado brasileiro ainda precisa de motivação e evangelização sobre o assunto e montar esse business case não é fácil”, diz.
O executivo afirma que muitas empresas avaliam a possibilidade de tornarem-se operadoras virtuais com base na receita que este tipo de operação pode trazer. É um engano. “O foco das operadoras virtuais é alavancar o negócio principal. Se for um banco, por exemplo, o objetivo deve ser alavancar seus produtos, não o uso de celulares”, explica. Por conta disso, Prado acredita que o mercado brasileiro deve passar ainda por um processo de aculturação que deve durar três ou quatro anos, antes que iniciativas deste tipo comecem a operar de fato no país.
Site: Convergência Digital
Data: 13/06/2011
Hora: 11h32
Seção: Telecom
Autor: Fábio Barros
Link: http://convergenciadigital.uol.com.br/cgi/cgilua.exe/sys/start.htm?infoid=26600&sid=8