Em anos recentes, muitas companhias de software decidiram mudar a forma como vendem seus programas. Em lugar da venda da licença com pagamento no curto prazo, os softwares são oferecidos como um serviço que pode ser acessado pela internet e as companhias cobram uma mensalidade pelo seu uso. A Central IT, empresa de software com sede em Brasília seguiu um caminho diferente e transformou em software livre, com acesso gratuito, o seu programa CitSmart, voltado à gestão de serviços de tecnologia.
O programa é usado para controlar ativos de tecnologia, fazer a gestão de fornecedores, administrar problemas na infraestrutura de TI e gerar relatórios sobre a área. O CitSmart é o principal software da Central IT, mas a companhia espera elevar a receita com a oferta gratuita. "Ao tornar o software público, os clientes deixam de se sentir reféns da companhia e isso acaba atraindo mais contratos", afirmou Carlos Alberto Freitas, diretor executivo da Central IT.
A companhia fechou o ano passado com receita de R$ 64 milhões e 20 contratos de licença de software e prestação de serviços, voltados quase que exclusivamente a clientes de governo. Este mês, obteve 40 contratos com a oferta gratuita do software. Boa parte desses contratos foi fechada com instituições do setor privado.
O número de contratos é bem inferior ao total de downloads do software gratuito, que superou 1 mil no primeiro dia da oferta. Freitas prevê que o software será adotado por 10 mil instituições no ano e parte das empresas e governos também contratarão a Central IT para prestar serviços, como desenvolvimento de softwares, consultoria e treinamento.
O executivo estima que a receita com contratos de serviços chegará a R$ 30 milhões este ano e a R$ 100 milhões a partir de 2015.
Para 2014, a companhia projeta uma receita total de R$ 135 milhões, pouco mais que o dobro da receita obtida no ano passado. O valor inclui contratos que a Central IT já fechou para prestar serviços. Além da oferta do CitSmart, a Central IT fornece programas de gestão de instituições de saúde. Fundada em 2004, a companhia emprega 1 mil pessoas. Além da sede em Brasília, a companhia possui escritórios em Brasília, Rio de Janeiro, São Paulo e Recife e uma unidade de desenvolvimento de software em Goiânia.
O software livre - que pode ser alterado por qualquer pessoa, sem licença de uso - é considerado uma alternativa para livrar empresas e governos da dependência em relação a multinacionais que vendiam softwares com licença. Mas esse modelo tornou-se um problema para seus desenvolvedores. Sem poder cobrar pelo uso do programa, as companhias de software livre têm como fonte de receita a prestação de serviços.
Mas é difícil obter uma receita significativa com serviços porque a maioria dos clientes prefere contratar profissionais e desenvolver internamente as funções complementares ao software livre adquirido. O nível de adoção também é baixo: a participação do software livre no mercado brasileiro é de 2,95%, segundo a Associação Brasileira de Software (Abes).
Entre as empresas de software livre, a que mais se destaca globalmente é a Red Hat, que fechou o ano fiscal de 2013 com receita de US$ 1, 54 bilhão e lucro de US$ 178 milhões.
Outras empresas que eram referência no setor foram compradas, como a Sun Microsystems, adquirida pela Oracle em 2009 por US$ 7,4 bilhões, e a Novell, vendida para a Attachmate em 2010 por US$ 2,2 bilhões.
Site: Valor Econômico
Data: 28/04/2014
Hora: 05h
Seção: Empresas
Autor: Cibelle Bouças
Link: http://www.valor.com.br/empresas/3528700/central-it-torna-software-gratuito-para-elevar-receita