A decolagem de novos negócios em ambiente de incubadoras ou parques tecnológicos é um movimento relativamente recente no Brasil. Existe desde a década de 1980, quando essas estruturas começaram a surgir a partir de iniciativas do Conselho Nacional Científico e Tecnológico (CNPQ). Vem ganhando fôlego ao longo dos últimos anos, conforme cresce o interesse do brasileiro por empreendedorismo, assim como também a busca por inovação.
O país reúne atualmente cerca de 400 incubadoras de empresas. Dentro delas, pouco mais de 3,7 mil empresas empregam 16 mil pessoas e somam receita da ordem de R$ 530 milhões anuais. Entre as 2,5 mil companhias 'graduadas', que já saíram das estruturas de apoio, os números crescem: 29 mil trabalhadores colaboram para faturamento de R$ 4 bilhões ao ano, segundo dados mais recentes apresentados pela Associação Nacional de Entidades Promotoras de Empreendimentos Inovadores (Anprotec) em estudo realizado em parceria com o Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação.
Mas qual é o papel dessas incubadoras? Basicamente, ajudar a desenvolver o negócio em todas as linhas de frente. "A primeira vantagem para uma empresa concebida dentro dessas estruturas é a proximidade com meios acadêmicos, o que é muito importante na fase de pesquisa e desenvolvimento", diz Francilene Garcia, presidente da Anprotec. "Além disso, há troca de conhecimentos com outras empresas que estão situadas na mesma estrutura física".
As empresas recebem assessoramento em diferentes esferas de um negócio e, dessa forma, têm mais condições de sobreviver do que aquelas que resolvem dar o pontapé inicial sozinhas. A assessoria geralmente ocorre em administração, gestão de inovação, contabilidade, jurídico, recursos humanos, marketing e busca por investimentos. Em média, o período mínimo de incubação é de três anos, a depender do setor e do estágio do projeto.
Outro fator que interfere no tempo é a dinâmica de cada setor de atuação. As startups de biotecnologia, por exemplo, têm um ciclo mais longo - de 4 a 5 anos - enquanto os projetos da área de tecnologia da informação andam em velocidade maior. "Leva mais tempo desenvolver e testar uma vacina", explica Eduardo Cicconi, gerente do Supera Parque de Inovação e Tecnologia de Ribeirão Preto, no interior de São Paulo, gerido pela Fundação Instituto Polo Avançado de Saúde (Fipase).
O núcleo abriga 32 empresas na incubadora e sete projetos na fase posterior, o chamado centro de negócios. Todas as empresas atuam principalmente nos setores de saúde - biotecnologia, fármacos, equipamentos médicos -, tecnologia da informação - softwares - e agronegócios.
Outra importante figura para o desenvolvimento de produtos ou serviços de novos empreendedores são as empresas-âncora. Em geral, são os departamentos de pesquisa e desenvolvimento de companhias de grande porte, especializadas em seu segmento, e parques tecnológicos que reúnem startups coexistem em polos e há muita transferência de conhecimento. É como a Embraer em São José dos Campos e a Sony em Campina Grande, cita Francilene.
Outro apoio fundamental fornecido pelas incubadoras é dado na parte de obtenção de recursos, que podem ser aplicados em pesquisa e desenvolvimento, infraestrutura e outras necessidades do projeto. Muitos empreendedores desconhecem programas do governo e as alternativas encontradas em agências estaduais de fomento - como a AgeRio, no Rio de Janeiro, e Agefepe, em Pernambuco, além de outras espalhadas pelo país. Na primeira etapa de um novo negócio, o dinheiro costuma vir dos próprios sócios ou de familiares. Os recursos do governo são pleiteados logo depois, geralmente com apoio de incubadoras e do pessoal dos parques tecnológicos, que ajudam o empreendedor a formatar os projetos nos moldes necessários para obter verbas.
A Financiadora de Estudos e Projetos (Finep) opera programas para beneficiar empreendedores e os recursos geralmente não reembolsáveis se destinam principalmente à fase de pesquisa e desenvolvimento. Já os bancos estaduais e o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) também são opções, embora haja alguns desafios na hora de buscar recursos junto a esse tipo de fonte. A dificuldade está na hora de apresentar as garantias reais exigidas pelas instituições na hora de pedir o empréstimo. "Em algumas regiões há fundos garantidores que funcionam como avalistas desses empréstimos, o que minimiza um pouco esse gargalo", conta a presidente da Anprotec.
Quando a empresa chega ao estágio de realizar testes iniciais no mercado, outra alternativa de fonte de crédito é o chamado investidor anjo - geralmente empresários ou executivos com espírito empreendedor. Estima-se que o país reúna cerca de seis mil investidores com esse perfil atualmente.
O assessoramento na área financeira envolve vários capítulos: como pleitear recursos e em qual estágio se pode buscar a melhor fonte, entre outras orientações. Tudo dependerá da necessidade de cada projeto. Fundos investidores de maior porte costumam injetar dinheiro em empresas iniciantes, mas raramente em fase de incubação. O mais comum é que esse aporte aconteça depois que a empresa se 'formou' e já atua sozinha no mercado.
Para os especialistas, o empreendedor brasileiro ainda precisa desenvolver cultura para lidar com esse tipo de investidor. É que para investir os fundos costumam comprar uma participação da empresa recém-criada e se tornam sócios, passando muitas vezes a interferir no negócio e na gestão. "Muita gente não está preparada para lidar com essa troca", diz Francilene.
Site: Valor Econômico
Data: 20/05/2014
Hora: 05h
Seção: Empresas
Autor: Cris Galbin
Link:
http://www.valor.com.br/empresas/3553862/quantidade-e-relevancia-das-incubadoras-estao-em-ascensao