Internet das Coisas: como começar?

18/06/2014

O tema “Internet das coisas” vem despertando mais e mais atenção. Já sentimos no dia a dia que é crescente o numero de objetos (ou coisas) que estão se conectando à Internet. O interesse está cada vez maior (uma pesquisa com o termo “internet of things” no Google Trends mostra isso claramente) e vemos que, embora com focos diferentes, muitas das grandes empresas de tecnologia estão criando iniciativas pesadas na área. Alguns exemplos são o Smarter Planet, da IBM, a “Internet of Everything” , da Cisco, a “Industrial Internet” , da GE e, nos últimos meses, os aquisição da Nest pelo Google e, no seu recente Developers Conference, foi a vez da Apple anunciar sua entrada no jogo. Já existe inclusive um buscador voltado a localizar qualquer dispositivo ou objeto conectado à Internet, o Shodan.

É um mercado de grande potencial. Segundo o Gartner em 2020 deveremos ter mais de 26 bilhões de dispositivos (excluindo-se da lista smartphones, tablets e celulares) formando a Internet das Coisas, que deve girar quase 2 trilhões de dólares de valor econômico na economia mundial, em tecnologias e, principalmente, serviços. Este é um ponto importante. Não adianta  termos milhões de sensores gerando dados se não tratarmos estes dados e conseguirmos fazer coisas inovadoras, sejam novos processos, novos modelos de negócio ou mesmo criar novas industrias.

O conceito, as tecnologias e principalmente as oportunidades possibilitadas pela Internet das coisas ou Internet of Things (IoT) são importantes demais para não serem  alvo de atenção dos CIOs e demais C-level das empresas.

Primeiro vamos o conceito. IoT deve ser vista como uma convergência de múltiplas “internets”, a das informações (www), a dos sistemas (aplicativos como e-mail, ERP, bancos e de empresas aéreas que se conectam aos clientes via Internet), a das pessoas (nas mídias sociais) e, claro,  a dos objetos que se interconectam. O valor surge desta convergência quando objetos podem não só interagir entre eles, mas também com as pessoas, os processos de negócio e as outras “internets”. Um automóvel conectado pode dirigir sem motorista e, sabedor da agenda do passageiro, conduzi-lo aos locais que ele precisa. Pode interagir com a concessionária, automaticamente agendar uma revisão e ir até ela sozinho, depois de deixar o seu passageiro (o antigo motorista...) no destino. 

O vetor resultante desta convergência serão novos processos e novos modelos de negócio. Conectando objetos ao dia a dia das atividades executadas pelos processos de negócio criamos um contexto de hiperconexão, possibilitando que o próprio processo passe a ser autônomo ou quase autônomo, operando sem ou quase nenhuma interferência humana.
Esta possibilidade pode e deve ser explorada em praticamente todos os setores de negócio, como saúde (hospitais), educação, transporte, engenharia, etc. Alguns exemplos começam a despontar como monitoração remota de prédios e casas conectadas (foco da Google e Apple), otimização do consumo de energia (smart grids), seguradoras criando modelos de negócio “pay-as-you-drive”, cidades inteligentes,  e por aí vai, o limite sendo a nossa imaginação.

Já vemos exemplos bem interessantes de facilitar a conexão entre coisas e software, como a iniciativa OpenXC  criada pela Ford, uma API que permite conectar automóveis a dispositivos  Android. Com esta tecnologia você pode customizar seu próprio veículo e ajustá-lo às suas características pessoais de uso. Tem o potencial de criar um novo cenário de negócios. Você compra o carro de um fabricante e instala o software de gestão dele (inclusive assistente pessoal) de uma outra empresa.

Mas, e quanto ao papel do CIO neste cenário?  O novo CIO, que sabe que o I da sigla deixa de ser Information  e passa a ser Innovation, tem como missão buscar a criação de valor da aplicação da IoT para o negócio, seja de forma incremental, melhorando a eficiência (um processo hiperconectado é mais eficiente que um que demande muita interação humana), seja criando novas fontes de receita. Em termos práticos, isso significa buscar constantemente a identificação de novas oportunidades de inovação nas empresas, e para isso deve estar muito mais entranhado nas operações e estratégias da corporação do que  hoje.

A  IoT ainda está engatinhando. Temos muitos objetos conectados, mas em sua maioria eles ainda não mudaram a maneira de fazer negócios. Creio que o ponto de inflexão seja pelo fim da década ou inicio da próxima quando além da quantidade de objetos ultrapassar 20 bilhões o tráfego Internet gerado por eles  possivelmente ultrapassará o gerado pelos seres humanos.

Por outro lado, existem muitos desafios. Um mundo mais hiperconectado é mais dependente da tecnologia e da Internet. Os riscos de ataques cibernéticos aumentam exponencialmente  e eventuais falhas na operação podem ser desastrosas, uma vez que muitos processos funcionarão sem interferência humana. As preocupações com segurança e privacidade passam a ser muito maiores que hoje.

É um cenário desafiador. A TI deixa cada vez mais de cuidar de sistemas a qual está acostumada (servidores e laptops) para entrar em um mundo novo,  em nuvem, analisando imensos  e variados volumes de dados, com pessoas e objetos conectados full-time. Muda a maneira de pensar os sistemas e seu próprio posicionamento da TI na empresa. Muda a exigência de capacitação e skills. Muda a arquitetura dos aplicativos e a forma de desenvolvê-los.

O fato incontestável é que a velocidade das mudanças é cada vez mais acelerada. Queiramos ou não, os objetos inteligentes já estão se entranhando e se disseminando pelas empresas, pela sociedade, cidades e casas. E todos estes objetos tem o potencial de serem sensores gerando dados,  interagindo e até mesmo negociando entre eles.

Então, vamos esperar o quê?

(*) Cezar Taurion é consultor sênior, sempre envolvido em discutir e prever os impactos de TI nos negócios, com experiência em grandes corporações como IBM, PwC e Shell.

Site: CIO
Data: 17/06/2014
Hora: 07h26
Seção: Tecnologia
Autor: Cezar Taurion
Link: http://cio.com.br/tecnologia/2014/06/17/internet-das-coisas-como-comecar/