Um punhado de iniciativas está reforçando a vitalidade de pequenas e médias empresas de alto crescimento no Brasil com aconselhamento, mentoria, boas ideias e até capital. Estão em pauta as companhias atuantes em mercados promissores e com resultados acima da média.
Segundo o estudo Estatísticas do Empreendedorismo 2011, divulgado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) no fim do ano passado, as companhias de alto crescimento são aquelas com expansão mínima anual de 20% no número de assalariados por pelo menos três anos, com dez assalariados ou mais no ano inicial de observação. São cerca de 34,5 mil empresas, 0,8% do total no país, cujo número de assalariados aumentou 175% entre 2008 e 2011. Embora mais da metade contasse com menos de 49 assalariados, o grupo respondeu por 56% dos postos de trabalho criados no período e 15,4% de todos os assalariados do Brasil.
A rede de franquias de aluguel de equipamentos para construção civil Casa do Construtor e o grupo fabricante de equipamentos para a indústria alimentícia Prática Klimaquip ilustram o perfil de performance acima da média e entraram no radar de organizações como Endeavor e EY, antiga Ernst & Young. A primeira nasceu em 1993 como loja de materiais de construção e locação de equipamentos, virou franquia em 1998 e de lá para cá cresce cerca de 30% ao ano.
Depois de receber monitoria da Endeavor, profissionalizou a gestão e acelerou seus planos de crescimento. A segunda, criada em 1991, teve os empresários André e Luiz Eduardo Rezende nomeados Empreendedores do Ano na categoria Emerging da EY. "O prêmio analisa performance financeira, solidez, inovação, sustentabilidade e potencial de replicabilidade", diz André Ferreira, sócio da EY.
A performance acima da média está na mira da Endeavor, organização que apoia 126 empreendedores de 72 companhias reunidas nos últimos 15 anos. Elas têm em comum crescimento anual superior a 30%, empreendedores éticos e com capacidade de execução acima da média, produtos ou serviços inovadores e modelos de negócios escaláveis em mercados de grande potencial. Os selecionados recebem acompanhamento de um gestor de conta e um plano de mentorias. "São mais de 800 mentores voluntários", diz o diretor geral da Endeavor, Juliano Seabra.
Até chegar à organização, a Casa do Construtor era um negócio promissor, mas desorganizado. "Isso ficou patente nas questões a respeito de governança e estrutura logo no primeiro contato, em 2008", diz Altino Cristofoletti Junior, sócio da empresa. Com cerca de 40 lojas, documentação contratual inadequada, gestão baseada em pessoas e timidez no planejamento, a empresa fez as lições de casa indicadas pelos questionamentos a cada etapa do processo e, depois de medidas como a formatação de um acordo de acionistas, em 2011 a empresa entrou para o time.
Logo de cara seguiu o conselho de empresários como Emilio Odebrechet (Odebrecht) e Carlos Alberto Sicupira (3G Capital) e ampliou o plano de crescimento de 250 lojas em 2015 para 1 mil até 2020. Investiu na profissionalização da gestão - nos últimos dois anos, foram R$ 1,7 milhão em um novo software, além da implantação do ERP Mega - e este ano mira a meritocracia. Criou uma área de expansão para turbinar franquias tradicionais, lojas próprias e um novo modelo, as franquias de conversão, para atrair lojistas e pequenos locadores em cidades com até 80 mil habitantes. Formou um Conselho de Administração consultivo, renovado a cada dois anos, e passou a ser auditada. Até o fim do ano, a rede deve alcançar 250 unidades e faturamento de R$ 180 milhões.
A Prática aproveitou oportunidades desde o apagão no início dos anos 2000 até o crescimento do trabalho feminino. Primeiro, criou fornos com maior eficiência energética, graças a quesitos como melhor dimensionamento de potência, controles e isolamento da resistência, desenvolveu modelos a gás e bioenergéticos, identificou o crescimento da alimentação fora de casa e investiu em uma nova linha para o food service.
A profissionalização foi incrementada gradativamente. Até 2003, a empresa fez uso de parceria com o Sebrae. "Fechamos um ciclo de pequena empresa com o prêmio Gerdau de Excelência Empresarial em 2004", diz André Rezende. A chegada da Fundação Dom Cabral estimulou a gestão estruturada e o posicionamento estratégico, com desdobramentos até o chão de fábrica.
Depois, passou a compor o rol da Endeavor, cuja chancela acabou ajudando o aporte de R$ 15 milhões do BNDES no ano passado. Hoje o banco tem 10% da empresa. Em dez anos, a Prática passou de 50 para 400 funcionários. O faturamento somou R$ 111 milhões em 2013.
Site: Valor Econômico
Data: 30/06/2014
Hora: 05h
Seção: Empresas
Autor: Martha Funke
Link: http://www.valor.com.br/empresas/3597960/alto-rendimento-atrai-consultorias-e-boas-ideias