Passada a Copa, quando as atenções estavam concentradas nos televisores, a fabricante de chips Intel pretende fazer com que os PCs voltem a ter destaque. A aposta da companhia são os equipamentos conhecidos como híbridos, ou 2 em 1, que funcionam como um notebook tradicional, mas que também podem ser usados como tablet. Segundo David Gonzales, novo diretor da empresa no país, 20 modelos desse tipo de equipamento estão disponíveis no varejo, enquanto no ano passado eram apenas dois. Além disso, os preços estão mais atrativos - na faixa de R$ 1,4 mil, antes valores acima de R$ 3 mil um ano atrás.
"Os 2 em 1 estão trazendo inovação para esse mercado, atraindo a atenção dos consumidores", disse o executivo colombiano ao Valor.
O investimento nesse modelo de equipamentos faz parte da estratégia global da Intel para compensar o encolhimento do mercado de PCs nos últimos quatro anos. A ideia é buscar crescimento por meio de novos formatos dentro da categoria. No Brasil, por exemplo, as vendas de 2 em 1 apresentam uma expansão na faixa de 20%, contra uma expectativa de recuo de 25% para o mercado total no ano. A Intel não revela sua expectativa de crescimento por país. "Para 2015 pode haver uma retomada com mais compras por parte das empresas", disse.
Maior fabricante de chips para computadores do mundo, a Intel também tem olhado para outras duas áreas para sustentar seu crescimento: os tablets e a conexão de diferentes dispositivos à web, a chamada internet das coisas (IoT, na sigla em inglês).
De acordo com Gonzales, para os tablets, a lógica é semelhante à dos 2 em 1: colocar mais produtos com preços mais acessíveis para ganhar mercado. Atualmente, são dez modelos, com preços a partir de R$ 450. No ano passado, só havia um aparelho, com preço bem mais alto. A diferença, no caso dos tablets, é que o mercado apresenta um ritmo acelerado de crescimento. Para 2014, a estimativa é que as vendas passem de 11 milhões de unidades, superando, pela primeira vez, o mercado de PCs.
Em sua segunda passagem pelo Brasil - a primeira foi entre 2005 e 2008 -, o executivo diz acreditar que a maior oportunidade de crescimento no país é na área de internet das coisas. E a volta dele ao país está muito relacionada a essa visão. Ele substitui Fernando Martins, que esteve à frente das operações nos últimos três anos. Gonzales também liderava os esforços de pesquisa e desenvolvimento da Intel no país, que foram reforçados desde 2013. Martins agora se dedicará só à parte de pesquisa. "Ainda estamos estruturando como vai ficar, mas as oportunidades se mostraram tão grandes que precisamos dar atenção dedicada", disse Gonzales. Entre as oportunidades, estão os setores de transporte e logística, energia e educação.
Na segunda-feira, a Intel divulgou o balanço do 2º trimestre de 2014. O resultado veio acima das expectativas de analistas. A companhia teve lucro líquido de US$ 2,8 bilhões, 40% a mais que no período de abril a junho de 2013. A receita líquida subiu 8%, para US$ 13,8 bilhões.
Na divisão por segmentos, as vendas de PCs tiveram alta de 9%, impulsionadas pela substituição de equipamentos nas empresas. O resultado contrastou com a estabilidade do mercado no período, segundo a empresa de pesquisa Gartner. A fabricante também dobrou seu programa de recompra de ações, passando para US$ 4 bilhões por trimestre.
As notícias animaram os investidores. Na quarta-feira, os papéis fecharam em alta de 9,24%. Ontem, o movimento foi de realização de lucros, levando a uma queda de 2,74%. No acumulado do ano, os papéis acumulam alta superior a 34%. Para alguns analistas, a euforia é excessiva. "Os mercados consumidores ainda estão cautelosos nos países desenvolvidos na medida em que uma maior procura por dispositivos vestíveis [wearables] e smartphones pode limitar os investimentos em PCs", escreveu Maynard Um, do banco Wells Fargo.
Site: Valor Econômico
Data: 18/07/2014
Hora: 5h
Seção: Empresas
Autor: Gustavo Brigatto
Link:
http://www.valor.com.br/empresas/3617964/intel-aposta-na-retomada-dos-pcs