Como um geógrafo desempregado pode em quase três décadas formar uma multinacional em soluções tecnológicas que fatura R$ 2 bilhões por ano e está presente em 33 países, com 18 mil funcionários? Quem pode responder é Marco Stefanini, fundador e presidente da empresa que leva o seu nome. "Comecei em casa, sozinho, com um sonho de montar uma empresa de treinamento, e acabei formando uma multinacional em serviços de tecnologia da informação e consultoria especializada", conta ele, que antes de abrir a Stefanini trabalhou como analista de sistemas no Bradesco por seis meses para ganhar experiência. "Fiz também estágio na Engesa (empresa brasileira do ramo bélico que faliu em 1993). Quando percebi que já tinha experiência suficiente em tecnologia, segui com a ideia de montar a Stefanini". Na época estava com 26 anos.
Os investimentos iniciais foram ínfimos. "Trabalhava duro. Tive que dar muita palestra gratuita para ganhar credibilidade. O que eu vendia era conhecimento", diz ele. Mesmo diante dos solavancos da economia, o empreendedor foi conquistando seu espaço no mercado. Tudo o que ganhava, reinvestia. "Como sou prestador de serviços, os aportes que preciso fazer são menores do que de uma indústria. E isso ajudou", explica ele.
O que não colaborou, porém, foram as turbulências e os inúmeros planos econômicos mal sucedidos que teve que enfrentar. "Três anos depois que abri meu negócio veio o Plano Collor, que confiscou o dinheiro que a Stefanini e muitas outras empresas tinham no banco. Muitas cancelaram contratos já assinados para uma temporada de três anos e 31 cursos", conta. Esse volume, se realizado, significaria crescer três vezes em relação ao tamanho da empresa na época. "Mas com o Plano Collor só conseguimos manter um curso. Foi um baque. Só em 1992 comecei a me reerguer", conta o empreendedor.
Pode se dizer, aliás, que Stefanini deu uma bela volta por cima ao perceber oportunidades para além do filão de treinamentos e palestras. Passou a oferecer serviços de consultoria e soluções em tecnologia da informação para seus clientes. Em 1993 conseguiu faturar o primeiro milhão e disparou no crescimento. Em 1995 abriu três escritórios fora de São Paulo, nas cidades de Campinas, Curitiba e Porto Alegre.
No ano seguinte começou sua jornada internacional, com o início da atuação na Argentina. Quatro anos depois, Chile e México se agregaram à expansão externa, seguidos de Estados Unidos, Peru e Colômbia. Em 2003, a Stefanini alcançou também a Europa, por meio da Espanha, Portugal e Itália. O mapa-múndi da empresa ganhou ainda a Inglaterra e a Índia em 2006, o Canadá, em 2008, e a Africa do Sul, em 2010. A expansão geográfica foi acompanhada de muitas aquisições. Só nos últimos anos, a companhia adquiriu nada menos do que dez empresas, entre elas as brasileiras Tech Team e Vanguard, a americana CXI, a colombiana Informática & Tecnologia, além da Orbitall.
"Fomos crescendo com nossos erros e acertos e sem aportes externos ou participação de investidores. Hoje trabalho em um ambiente extremamente competitivo. A concorrência é forte. E uma das dificuldades de se atuar neste mercado é que as margens de ganhos são muito baixas. Por conta disso, temos que melhorar nossos processos de gestão o tempo todo. Somos os únicos do nosso mercado no Brasil que sobreviveu sem ser comprados", afirma Stefanini, que espera neste ano faturar entre R$ 2,3 bilhões a R$ 2,4 bilhões.
Site: Valor Econômico
Data: 31/07/2014
Hora: 5h
Seção: Empresas
Autor: Roseli Loturco
Link:
http://www.valor.com.br/empresas/3632736/erros-e-acertos-de-quem-construiu-uma-gigante-de-ti