Quando vender para o consumidor é melhor do que para outras empresas

04/08/2014
Os novos formatos de publicidade digital e as vendas de dispositivos móveis ajudaram as grandes empresas de internet, cujos negócios estão mais voltados ao consumidor, a obter, no segundo trimestre, um desempenho melhor que o das companhias de tecnologia mais tradicionais, que dependem em grande parte das vendas para outras empresas. A disposição do público em conectar-se à internet - seja para comprar produtos, navegar nas redes sociais ou ver filmes - favoreceu o primeiro grupo, integrado por Amazon, Facebook, Google, Netflix, Twitter e Yahoo. Enquanto isso, HP, IBM, Intel, Microsoft, Oracle e SAP têm enfrentado dificuldades para crescer, por conta do cenário econômico global instável, que tem feito os clientes empresariais gastarem menos.

Segundo levantamento do Valor Data, com base nos balanços do período, as seis empresas mais representativas do mercado de internet tiveram uma receita somada de US$ 40,94 bilhões, o que representa uma alta de 24% na comparação com o mesmo período do ano passado. O lucro avançou 11%, para US$ 4,28 bilhões. No 1º semestre, os percentuais de crescimento são os mesmo para os dois indicadores. À exceção do Yahoo, que continua em processo de reestruturação, as outras companhias mostraram uma forte curva de crescimento no começo do ano.

Já as empresas voltadas ao atendimento de clientes empresariais apresentaram, entre abril e junho, um avanço de 4% na receita, de US$ 100,2 bilhões. O resultado líquido avançou um pouco mais, 7%, para US$ 17,21 bilhões. No acumulado do semestre, o resultado dessas companhias está praticamente "empatado", com avanço de 2% na receita e 1% no lucro líquido.

O crescimento mais acelerado das empresas de internet é, de certa forma, uma tendência natural, considerando que esse é um mercado mais recente. Enquanto a IBM tem mais de cem anos e a Microsoft está perto de virar quarentona, o Twitter tem oito anos de existência, e o Yahoo, o mais velho da turma, tem 19 anos. Esses grupos de internet, no entanto, deixaram há muito tempo a condição de novatas - e enfrentam pressões, dentro de seus próprios campos, para manter a velocidade de crescimento.

Na avaliação de Bruno Tasco, analista da consultoria Frost & Sullivan, o cenário é reflexo da maturidade no consumo de novas tecnologias e de conexão por parte dos consumidores residenciais. "O acesso hoje é muito mais fácil", diz. À medida que mais gente tem condições de navegar com rapidez na web, maior o potencial de venda dos serviços digitais, o que explica também a importância crescente da publicidade on-line.

Concentrar-se na venda para empresas já foi considerada uma saída estratégica para evitar os problemas comuns do mercado de consumo, marcado por margens baixas e eventuais guerras de preço. A IBM, por exemplo, retirou-se aos poucos dessa área. Em 2005, vendeu sua divisão de PCs para a chinesa Lenovo, em meio a um processo de reorientação para os serviços empresariais.

A expectativa, para muitos no mercado de TI, era que as principais oportunidades de negócios migrariam para o segmento empresarial, tornando a área de consumo um campo para "commodities" - produtos parecidos uns com os outros, com margens minúsculas só compensadas por grandes volumes.

O exemplo da Apple mostra, porém, que há oportunidades na área de consumo, dependendo das habilidades em inovação, design e marketing. A empresa, concentrada em consumidores comuns, tem acumulado bons resultados. No trimestre fiscal encerrado em junho, a receita aumentou para US$ 37,4 bilhões, frente aos USS$ 35,3 bilhões do ano anterior. No mesmo período, o lucro líquido subiu de US$ 6,9 bilhões para US$ 7,5 bilhões.

Os grupos de TI estão atentas à influência crescente que as redes sociais e os dispositivos móveis, até agora muito identificados com o consumidor residencial, passaram a ter sobre o ambiente de trabalho. HP, Oracle e IBM tem oferecido produtos e serviços para companhias que estabelecem uma ligação com a esfera do consumidor, como os sistemas de análise de informações em redes sociais. A IBM também fechou, recentemente, um acordo com a Apple para vender iPhones e iPads com aplicativos destinados ao uso empresarial.

Para os grupos de internet, o investimento em ofertas e na expansão geográfica continua um calcanhar de aquiles. A expansão de 11% no lucro no 2º trimestre representou uma desaceleração em comparação com o ano passado. Em 2013, o avanço foi de 36%. Amazon e Netflix foram as principais responsáveis pela queda.

Site: Valor Econômico
Data: 01/08/2014
Hora: 5h
Seção: Empresas
Autor: Gustavo Brigatto
Link: http://www.valor.com.br/empresas/3635088/quando-vender-para-o-consumidor-e-melhor-do-que-para-outras-empresas