TI como um centro de lucro

08/08/2014
Durante décadas, os departamentos de TI têm sido considerados como um centro de custo. A tecnologia da informação é vista como um custo para as empresas em todo o mundo. Entretanto, na minha humilde opinião, em muitos casos, esta perspectiva está prestes a mudar.

Desde o início, a maior parte do meu trabalho, como economista-chefe da Hitachi Data Systems, consiste em encontrar meios para ajudar os departamentos de TI a reduzir os seus custos. Como um centro de custo, um dólar (ou ringgit) poupado é um dólar ganho. Quase todos os meus esforços foram focados em identificar, medir e recomendar opções para reduzir custos.

Paralelamente, prestadores de serviços de TI ou provedores de serviços em nuvem, estavam organizando seus departamentos de TI para que se tornassem centros de lucro. E as minhas estratégias de redução de custo alinhadas às deles resultaram em um menor custo de mercadorias vendidas (CMV), que por sua vez melhorou a rentabilidade de muitas empresas com as quais trabalhamos.

Hoje, os gestores de TI estão antenados, olhando para toda e qualquer ideia que possa abrir novos canais de negócios e, consequentemente, aumentar a receita. E, na minha opinião, muitas dessas perspectivas operacionais e de planejamento devem tornar-se a norma em organizações no mundo inteiro, transformando realmente a TI um centro de lucro.

No meu dia a dia, otimização de custos ainda é importante, mas vejo que a ênfase agora está em como conseguir lucros mais elevados. As perspectivas, as tradições e as práticas de TI estão sendo desafiadas e, à medida que as inovações geram mais lucros, elas são vistas como positivas e assimiladas por todos.

O que tenho visto em algumas áreas, como nos dois exemplos abaixo, são gestores de TI que estão indo além. Ao invés de simplesmente apoiar outros departamentos dentro das empresas, estão encontrando formas de vender suas soluções internamente e ganhar dinheiro com isso. Veja como:

1) provedor de serviços de nuvem privada

Este é um exemplo muito comum no governo. Devido às crescentes demandas por tecnologia de alta performance e segurança, a TI torna-se muito boa em entregar serviços de tecnologia e sistemas de qualidade a um preço competitivo. Sendo assim, alguns gestores decidiram oferecer e vender suas soluções para outras agências de governo, ministérios, etc.

Como o Governo não pode ser uma empresa com fins lucrativos, esses grupos de TI assumem este tipo de liderança internamente e conseguem transformar suas soluções em ofertas competitivas seja por preço, qualidade do serviço, proximidade, disponibilidade ou conhecimento. Ao passar para um modelo com fins lucrativos, esses departamentos garantem a rentabilidade e a sustentabilidade de suas operações.

Paralelamente, eles são capazes de conter desperdícios, sejam eles técnicos ou econômicos, otimizam recursos e licenças e minimizam riscos. Além do Governo, alguns hospitais e instituições de ensino superior também estão fazendo essa transição, oferecendo soluções de TI muito personalizadas e serviços específicos para organizações com as quais eles já tenham um acordo bilateral de negócios ou alguma forma de cooperativa.

2) Outra área que tem se beneficiado é o Big Data

Aqui há uma nova oportunidade de negócios para os departamentos de TI, já que eles podem extrair anos (ou décadas) de dados (ou metadados) e geri-los para que se tornem um produto que pode ser vendido dentro e fora de suas próprias organizações. Se o armazenamento, gestão e propriedade dos dados pertence a TI, por que não transformar essa massa cinzenta de conhecimento e gerar receita de forma controlada? Esta entrevista do Vice Presidente da HDS para o canal Bloomberg aprofunda um pouco mais o tema e as possibilidades de negócios com o Big Data.

Estes dois exemplos acima podem não ser suficientes para convencer alguém em transformar seu departamento de TI em um centro de lucro. Certamente há vários desafios, mas não custa lembrar que a informação que as empresas armazenam tem seu valor no mercado, e se estruturadas podem ser pensadas sim como uma mercadoria. Melhores práticas e eficiências operacionais poderiam ser vendidas, por sua vez, a outras organizações que não possuem os mesmos níveis de conhecimento ou rentabilidade.

Aproximar a TI a uma atividade voltada para gerar lucro (e não apenas apoio) também pode alterar algumas das tradições arquitetônicas, operacionais e atitudinais que existem dentro da área e, no mínimo, pode levar a um caminho secundário de OPEX e eficiências de custo unitário. Portanto, mesmo que a sua empresa continue sem enxergar a TI como um centro de lucro, reavaliar os processos internos e revisar o planejamento do departamento pode muito bem trazer melhores resultados para este centro de custo. 

*David Merrill é Economista Chefe da Hitachi Data Systems

Site: Convergência Digital
Data: 07/08/2014
Hora: 16h33
Sessão: Opinião
Autor: David Merrill
Link: http://convergenciadigital.uol.com.br/cgi/cgilua.exe/sys/start.htm?infoid=37443&sid=15#.U-PkUOOrrkU