Foram feitos pedidos, apelos, alertas e pressões, mas continuam sendo deixados para mais tarde os investimentos para a transição ao novo sistema de endereçamento da Internet, com a implantação da versão 6 do protocolo IP, ou IPv6. Segundo o Núcleo de Informação e Coordenação do Ponto BR, não é por falta de gente qualificada.
“Somos um dos países melhores preparados para o IPv6. Desde 2009 a gente tem treinado técnicos dos sistemas autônomos, como operadoras, universidades. Já treinamos mais de 3 mil técnicos capazes de colocar a mão na massa e preparar redes IPv6. Portanto, basta uma decisão e o pessoal implementa, mas isso precisa de vontade”, diz o diretor de projetos especiais do Nic.br, Milton Kashiwakura.
Há, certamente, avanços. “Temos um cronograma para que grandes conteúdos fossem colocados em IPv6, já praticamente pronto”, diz Kashiwakura. Por “grandes”, entenda-se que provedores de conteúdo como Uol, Globo e Terra já os disponibilizam também em IPv6. Mas faltam outros atores importantes.
“Estamos na etapa de conversar com bancos, lojas de comércio eletrônico, governo, para colocar os conteúdos em IPv6, mas a adesão nisso ainda é muito insignificante, 0,3%. Quem esta adiantado são algumas universidades, a Unesp [em São Paulo], algo em Santa Catarina, nada mais do que isso”, avalia o diretor do Nic.br.
Do lado dos grandes sistemas autônomos, também se espera mais. “Queríamos que as teles oferecessem acesso IPv4 e IPv6 de ‘prateleira’, o que ainda não acontece. Elas prometem algo até o fim do ano.” A promessa, no entanto, não é nova.
Os sinais são de que ainda há anos de gambiarras pela frente – como, no fundo, foram as últimas duas décadas de “alocação dinâmica” (DHCP) e NAT, acrônimo inglês para ‘tradução de endereços de rede. São soluções que deram sobrevida ao IPv4. A onda mais recente são os CGNs, ou carrier-grade NATs, que basicamente são NATs em uma escala maior.
Existe até um mercado de compra e venda de IPv4, embora o Nic.br o considere desprezível. De fato, um estudo americano, da Association for Computing Machinery, indica que as transações são na casa das dezenas por ano, especialmente na Ásia e na Europa.
Para o Nic.br, as gambiarras não deixam de ser saídas “sujas”, visto que ainda “mascaram” equipamentos conectados à rede, complicam a identificação de endereços IP quando isso é necessário e, mesmo no campo mais “filosófico”, fere a ideia básica de simplicidade da Internet, com inteligência nas pontas, não no núcleo. Mas o apelo é ao bolso das empresas.
“Equipamentos tipo CGN são talvez necessários para a fase de transição, porque parte da Internet ainda está em IPv4, parte em IPv6, parte IPv4 e IPv6 e precisam conversar. Só que custa caro. Para reduzir investimento nesse tipo de equipamento, pedimos para que os provedores de conteúdo coloquem também em IPv6. Daí não precisaria desse CGN para acessar o conteúdo”, sustenta Kashiwakura. O especialista participou do IT Security, evento realizado em Brasília, pela Network Eventos.
Site: Convergência Digital
Data: 08/08/2014
Hora: 12h04
Sessão: Internet
Autor: Luís Osvaldo Grossmann
Link:
http://convergenciadigital.uol.com.br/cgi/cgilua.exe/sys/start.htm?infoid=37432&sid=4#.U-UqeeOrrkU