Fortalecer as bases da inovação é estratégia que depende da criação de ambientes que privilegiem a transferência de conhecimento, a pesquisa e desenvolvimento e, acima de tudo, a colaboração. A velocidade da evolução tecnológica e a busca constante por mais competitividade demandam alianças firmes, alto grau de confiança entre os parceiros de um projeto e capacidade de gerir as entregas e os orçamentos. Ninguém inova sozinho. A figura do inventor isolado em seu laboratório está cada vez mais distante da realidade. "O potencial das parceiras entre empresas e universidades é imenso. Por isso, os acordos têm crescido", acredita John Biggs, diretor de pesquisa e desenvolvimento da Dow para a América Latina.
Além da proximidade com a academia, Biggs aponta que é necessário estabelecer redes para a inovação aberta, o que traz maior complexidade ao ecossistema, a partir da inclusão de fornecedores, clientes e outros agentes das cadeias de valor. E os envolvidos não estão presos a mercados isolados. A conectividade permite a colaboração global, derrubando as paredes dos laboratórios e também as fronteiras geográficas. "A colaboração reduz os custos das pesquisas e torna os projetos viáveis", aponta Biggs.
No Brasil, a Dow ampliou o laboratório de Jundiaí (SP) para fomentar a colaboração. A estrutura transformou-se em uma unidade da rede que inclui os centros de pesquisa de Freeport (USA), Horgen (Suíça) e Xangai (China) e incorporou a iniciativa Pack Studios - projeto para o desenvolvimento de aplicações voltadas ao mercado de embalagens flexíveis. A ideia é permitir que convertedores, fabricantes de máquinas e empresas de produtos finais tenham acesso a uma moderna estrutura para realizar testes práticos de aplicações relacionadas ao mercado de embalagens flexíveis.
Além da Jundiaí, a empresa mantém laboratórios de pesquisa em Mogi Mirim e Cravinhos, cidades do interior paulista. "Nossas equipes trabalham em parceria com institutos de pesquisa e universidades", explica. Ao todo, 400 pessoas trabalham na área de pesquisa e desenvolvimento da Dow no Brasil, metade delas dedicada à área de ciências do agronegócio.
"Em inovação, temos de aproveitar o potencial regional para amplificar as pesquisas. No Brasil, enxergamos muitas oportunidades no campo da agricultura e da sustentabilidade", afirma. Para ele, sem acesso ao conhecimento produzido nas universidades, é impossível levar adiante os projetos corporativos de inovação.
Há nove anos morando no Brasil, Biggs compartilha a visão de que a relação entre as empresas e as universidades têm evoluído muito. Assim como outros especialistas, assume que ainda há um trabalho grande para definir a regulamentação para pesquisa e as negociações sobre propriedade intelectual. "Ainda muito complexas por aqui", ressalta. Também é preciso menos burocracia para acessar as linhas de fomento, como as da Finep.
Glauco Arbix, presidente da Finep, também destaca evolução no ecossistema, desde a promulgação da Lei da Inovação, em dezembro de 2004. "Hoje existe uma sintonia mais fina entre governo e iniciativa privada", diz. Vale lembrar que o Brasil-- assim como outros países - montou as bases para promoção da inovação sob a estratégia da tríplice hélice, que prevê a integração e a cooperação entre o governo, as empresas e a academia para o avanço dos projetos. "Em dez anos, conquistamos amadurecimento político e institucional. A sociedade brasileira entende que pode fazer ciência e as empresas sabem que podem utilizar o conhecimento produzido aqui para inovar", conta.
O salto nos dispêndios com atividades de pesquisa, desenvolvimento e inovação é um indicador da evolução. De acordo com dados dO Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI), o volume de investimentos cresceu 201%, de R$ 25,4 bilhões (2004) para R$ 76,5 bilhões (2012) - 52,3% desse montante vêm de recursos públicos. "O diálogo com os empresários tem se intensificado, completando ações de fortalecimento da infraestrutura como a construção de polos de inovação, parques tecnológicos e institutos de pesquisa", diz Arbix.
A colaboração entre empresas também tem crescido, aponta a Pesquisa de Inovação Tecnológica (Pintec), realizada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Os resultados apurados mostram que 7.694 empresas implementarem inovações por meio de acordos de cooperação com outras corporações. Em 2005, o número foi de 2.776. Essa evolução demonstra, segundo Arbix, que o país está preparado para estabelecer redes mais eficientes de inovação e impulsionar o número de projetos. "Na academia, enxergo a evolução das universidades para hubs de conhecimento, uma vez que elas estão cada vez mais integradas à sociedade e entendem de forma mais ampla as demandas das cadeias produtivas", avalia.
Para o professor Milton Mori, diretor-executivo da Inova Unicamp, o Brasil ainda enfrenta o desafio de ampliar o interesse do empresariado na pesquisa e desenvolvimento. "É uma questão cultural. Ainda há um trabalho importante para incutir a inovação como estratégia de negócio", diz. A academia acredita Mori, tem papel fundamental no fortalecimento do empreendedorismo - que abarca tanto a formação dos empresários como dos cientistas. "Mais do que financiar projetos, é preciso preparar profissionais para tocar negócios de base tecnológica e centros de pesquisa." Um número maior de empreendedores atrai maior interesse de investidores, ampliando a rede de parcerias para inovação.
Sergio Luiz Gargioni, presidente do Conselho Nacional das Fundações de Amparo à Pesquisa, adverte que é preciso combater a burocracia para melhorar as relações entre universidades e empresas no Brasil. "Ainda é mais fácil realizar pesquisa nos Estados Unidos e na Europa", afirma. Segundo ele, os impasses sobre a propriedade intelectual dos projetos afugentam as empresas e reduzem os negócios que podem ser fechados com os centros de pesquisa e institutos ligados às universidades. "É um dinheiro que deixa de entrar no caixa das instituições brasileiras por falta de clareza nas obrigações e direitos de cada um", comenta.
Site: Valor Econômico
Data: 22/08/2014
Hora: 5h
Seção: Empresas
Autor: Ediane Tiago
Link:
http://www.valor.com.br/empresas/3663406/boas-conexoes