Compartilhar recursos ajuda a desengavetar projetos

25/08/2014

As redes de inovação podem ajudar empresas a desenvolver produtos e serviços com rapidez e custo menor. Para especialistas, o compartilhamento de recursos, laboratórios e pesquisadores pode alavancar projetos que dificilmente sairiam do papel sem um esforço conjunto da academia e do setor privado. Mas, para que entreguem resultados mais eficazes, é preciso conhecer as necessidades da indústria e mapear as competências dos cientistas envolvidos.

No ano passado, o Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (Senai) criou a Rede Nacional de Institutos Senai de Inovação (ISIs), com 26 unidades previstas e investimentos de R$ 654,8 milhões. "O conjunto presta serviços de inovação, conectando a pesquisa das universidades com a indústria", explica Gustavo Leal, diretor de operações do Senai. Com 184 pesquisadores, atua em áreas como automação industrial, eletroquímica e manufatura integrada.

Segundo Leal, existem 47 projetos em curso. Um dos mais ousados é a criação de um robô comercial. A expectativa é que, em dois anos a máquina trabalhe na inspeção submarina de estruturas da indústria de petróleo e gás. O investimento, de R$ 30 milhões, inclui verbas do fundo setorial da Agência Nacional de Petróleo (ANP) e da Empresa Brasileira de Pesquisa e Inovação Industrial (Embrapii).

"Por meio de um convênio com o DFKI (Centro Alemão de Pesquisa em Inteligência Artificial, da sigla em alemão), está previsto o intercâmbio entre pesquisadores dos dois países", diz. "Em dez anos, estima-se que o projeto reúna mais de cem profissionais das áreas de robótica e inteligência artificial."

Para Leal, o modelo de redes de inovação pode ajudar no desenvolvimento de produtos e serviços com o intercâmbio de conhecimento entre os integrantes. A previsão é que os institutos do Senai sejam auto-sustentáveis em oito anos, após o início da operação. Do total de 26 centros previstos, quatro estão funcionando. A expectativa é chegar a 12 operações até dezembro e 20 até o final de 2015.

De acordo com Márcio Roberto Machado da Silva, responsável pela Rede Ulbra de Inovação (Ulbratech), o setor enfrenta desafios como a mudança na cultura de pesquisa, que precisa de uma maior integração com as necessidades das empresas, e a identificação das habilidades dos cientistas recrutados. "O mapeamento das competências dos pesquisadores é uma tarefa que precisa evoluir."

A Ulbratech, criada há quatro anos, é uma rede privada que integra iniciativas de empreendedorismo da Universidade Luterana do Brasil (Ulbra). Tem 15 unidades em seis Estados, com mais de 200 pesquisadores que desenvolvem projetos em áreas como saúde animal e petroquímica.

"A rede possibilita o compartilhamento de laboratórios e pesquisadores para atender as empresas que fazem parte dela", explica. "Uma companhia do parque tecnológico da Ulbratech em Itumbiara (GO), por exemplo, já utilizou a estrutura da unidade de Canoas (RS) para analisar a destinação de resíduos agrícolas."

Nos últimos dois anos, segundo Silva, a Ulbratech definiu um modelo de governança baseado em ambientes de inovação na Espanha, Chile, Brasil e Portugal. "Pretendemos captar empresas âncoras e consolidar a rede em cidades como Manaus (AM) e Santa Maria (RS)."

No Mato Grosso, a Rede Inova MT, criada em 2007, investe em tecnologias sociais. Uma das iniciativas é o "pesquisador cooperado", em que um professor universitário se associa a cooperativas de trabalhadores para acompanhar as demandas do grupo. Segundo Wilson Luconi Júnior, coordenador da rede que reúne oito incubadoras, há trabalhos em desenvolvimento com associações de pescadores e artesãos.

Para Bruno Rondani, diretor-presidente do Wenovate-Open Innovation Center, que trabalha com a estruturação de redes, grandes empresas podem obter vantagens nesses ambientes como o acesso a tecnologias que reduzam o tempo, o risco e o investimento no desenvolvimento de inovações. "Agora, a competitividade das organizações passa a depender também da capacidade de se articular com comunidades externas, em benefício da sua estratégia empresarial."

Site: Valor Econômico
Data: 22/08/2014
Hora: 5h
Seção: Empresas
Autor: Jacilio Saraiva
Link: http://www.valor.com.br/empresas/3663378/compartilhar-recursos-ajuda-desengavetar-projetos