Afinal, qual o tamanho do mercado brasileiro de computação na nuvem? Os números dos três mais conceituados institutos de pesquisa e consultorias de tecnologia divergem. Para a Frost&Sullivan, o mercado somou US$ 328,7 milhões em 2013. Para o Gartner foi US$ 1,9 bilhão. E para o IDC, US$ 257 milhões.
De acordo com a Frost, o mercado cresce a uma taxa de 40% ao ano e deve chegar a US$ 1,11 bilhão em 2017. A empresa leva em conta apenas as três principais categorias e um conjunto limitado de serviços: Infraestrutura como Serviço; Software como Serviço; e Plataforma como Serviço.
Os números do Gartner são os que mais destoam e um dos motivos é que o instituto leva em conta outras três categorias de serviços e, em todas as seis, considera mais itens para análise. A categoria que mais pesa na balança dos US$ 1,9 bilhão é a de Business Process as a Service (BPaaS - processo de pagamentos, de e-commerce, de finanças e contabilidade, de RH, de operações industriais e de supply chain) que gerou US$ 968,3 milhões. Outras categorias não computadas nos números da Frost e da IDC são advertising, que soma US$ 364,5 milhões e segurança (gerenciamento de operações de TI, segurança e gerenciamento de armazenamento), num total de US$ 45,9 milhões.
As três destacam ainda que os dados referem-se apenas a nuvens públicas, pois não é possível contabilizar os valores das nuvens privadas e híbridas. Elas calculam que esses segmentos sejam ainda maiores.
Segundo Sergio Paulo Gallindo, presidente da Associação Brasileira das Empresas de Tecnologia da Informação e Comunicação (Brasscom), a entidade utiliza os dados da Frost&Sullivan. Ele destaca que o US$ 1,11 bilhão projetados para 2017 levam em conta o cenário atual do mercado brasileiro, que tem sérias restrições de custo e competitividade. "Os datacenters brasileiros estão com alta densidade e a cloud é uma tendência forte. Se forem adotadas medidas corretivas que permitam ao Brasil tornar-se um hub global, esse valor em 2017 pode chegar a US$ 3,7 bilhões."
"A transformação do modelo de negócios para uma contratação de serviços traz vantagens financeiras para os usuários, que não precisam incorrer em custos altos", afirma Bruno Tasco, analista senior de TI da Frost&Sullivan. Pietro Delai, gerente de pesquisas do IDC Brasil, cita a forte tendência das empresas de transformarem custos fixos e despesas de capital (Capex) em custos variáveis e despesas operacionais (Opex).
A flexibilidade de poder aumentar ou reduzir a infraestrutura e dispor das informações em todos os lugares e a qualquer hora são outros fatores que aceleram a adoção. Já os fatores inibidores incluem, em primeiro lugar, a segurança; seguida pela conectividade, que é crucial para a computação em nuvem. E também pela falta de cultura ou insegurança dos chief information officers (CIOs), que temem perder o status de líderes de tecnologia para o de gestores de SLA (contratos de níveis de serviço).
Para a indústria de TI, a computação na nuvem é irreversível. Todos definem estratégias, de fabricantes, fornecedores de software a provedores de serviços. Ainda que fabricantes como IBM, HP, EMC e Cisco adotem uma estratégia mais defensiva com ênfase maior nas nuvens híbridas e privadas, nas quais as empresas continuam adquirindo produtos. "Na verdade, eles vivem uma adaptação e começam a perceber que as margens nos serviços podem ser mais vantajosas do que as de produtos", diz Tasco.
Com a compra da Softlayer em junho de 2013, a IBM passou a ter também uma estratégia forte para cloud pública. José Luís Spagnuolo, chief technology officer de computação na nuvem da IBM Brasil, diz que a empresa investiu R$ 40 milhões em cloud no país.
A empresa oferece consultoria, SaaS - um portfólio de 100 aplicações - além de IaaS ofertado no datacenter de Hortolândia. "Soluções que antes só eram disponíveis para grandes empresas, com a nuvem, tornaram-se acessíveis paras as pequenas", analisa.
A HP oferece desde ferramentas que viabilizam a nuvem em ambientes heterogêneos, como o Hyper Visor, a soluções abertas Open Stack e IaaS. Segundo Antônio Couto, estrategista de cloud da HP, ao contrário do que se imagina, a nuvem alavanca o negócio de venda de hardware. "A virtualização e a facilidade de se habilitar máquinas aumentaram a demanda por servidores", diz Couto.
Carlos Werner, gerente de desenvolvimento de negócios de datacenter da Cisco, defende que o caminho é a cloud híbrida, pois é praticamente impossível que as empresas levem todas as aplicações para a nuvem. "A cloud tem um apelo absurdo. Vendemos infraestrutura para as clouds públicas dos provedores de serviço ou para os clientes empresariais construírem suas nuvens privadas. Oferecemos ainda SaaS de soluções colaboração como Webex e HCS", diz Werner.
A EMC aposta no conceito de federação reunindo a EMC (armazenamento), a VM Ware (vitualização), a RSA (segurança), e a Pivotal (Big Data). "As empresas podem atuar juntas ou separadas integrando soluções heterogêneas", diz Márcio Sanchiro, gerente de aplicações de cloud.
Já a Microsoft, SAP e a Oracle entraram tão fortemente na nuvem que anunciaram a criação de datacenters em 2013. Com exceção da Microsoft, por enquanto não se trata de infraestrutura física própria, mas, sim, de aluguel de espaço de provedores. Tanto a SAP quanto a Oracle aceleraram a estratégia de cloud por meio de aquisições de empresas que já operavam na nuvem.
"A criação do datacenter está amarrada à estratégia da SAP, que é de simplificação da oferta, para a qual a nuvem é um dos caminhos. O datacenter será localizado em um provedor de serviço em Barueri e estará disponível no primeiro trimestre de 2015", diz Cristina Palmaka, presidente da SAP.
Na Oracle, o datacenter brasileiro é o 18º da empresa. "Faturamos US$ 1 bilhão em serviços na nuvem, e 80% são hospedados no data center dos EUA. À medida que ganharmos volume no Brasil, teremos uma infraestrutura física própria", diz Luiz Meisler, vice-presidente executivo da Oracle para a América Latina.
Site: Valor Econômico
Data: 30/09/2014
Hora: 5h
Seção: Empresas
Autor: Carmen Nery
Link: http://www.valor.com.br/empresas/3715542/caminho-sem-volta