O satélite geoestacionário encomendado pela Telebras e pelo Ministério da Defesa ajuda muito pouco, se ajuda algo, a indústria aeroespacial brasileira. Para o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais, faltou combinar essa iniciativa e o parque instalado de fabricantes existentes no país – para não mencionar os projetos já existentes no programa espacial.
“Haveria necessidade da utilização do poder de compra para apoiar capacitação nacional, exercitar mais a base industrial que existe. Temos entre 15 e 20 empresas que estão sem contratos, com risco de perder essa capacidade. É importante um mínimo de contratações para não correr o risco de que ela se desarticule. Seria importante que houvesse maior sinergia entre os programas”, disse o diretor do INPE, Luiz Fernando Perondi.
Como visto em audiência pública no Senado Federal nesta terça 18/11, não se trata de uma análise isolada. O Instituto de Pesquisas Econômicas Aplicadas, que fez um levantamento sobre a capacitação brasileira no campo espacial, e o sindicato nacional de funcionários do setor aeroespacial fizeram o mesmo diagnóstico: não parece haver vasos comunicantes entre a encomenda do satélite e o avanço nas competências nacionais nesse território.
“É preciso previsibilidade e continuidade dos projetos espaciais e de aumento da participação da indústria nacional. Seria importante uma avaliação do que está sendo feito para ver se realmente a absorção de tecnologia como proposta é adequada à indústria nacional para que a gente não tenha uma surpresa desagradável”, alertou a diretora adjunta de políticas setoriais de inovação e infraestrutura do Ipea, Flávia Schmidt.
Autora do levantamento que identificou 104 empresas brasileiras ligadas ao setor aeroespacial, Schmidt destacou que se trata de um segmento com investimentos acima da média nacional em inovação, mas que sofre com a interrupção de encomendas – fatal em um mercado onde prevalecem pequenas indústrias. “Estão perdendo contratos”, repisou a pesquisadora.
O presidente do SindTC, Ivanil Barbosa, é mais enfático. “O modelo é equivocado. É preciso que se aproveite a força do poder de compra para fomentar a transferência de tecnologia que absolutamente é incipiente, não existe. A compra do SGDC, mesmo reconhecida sua necessidade, não deve figurar como desenvolvimento do programa espacial brasileiro. Até a especificação do satélite foi contratada de uma empresa canadense.”
Como ressaltou o diretor do INPE, o Brasil ainda não tem qualificação em todas as áreas, mas há campos onde a indústria nacional poderia atuar. “Na parte de cargas úteis e controle de altitude e órbita ainda não temos. Mas poderíamos atuar na plataforma, na estrutura, área que o Brasil domina muito bem, e na área de suprimento de energia e controle térmico também”, afirmou Perondi.
Previsão é que o satélite seja lançado em 2016. Ele já está em fase de construção na França, pela empresa Thales Alenia Space, que venceu a seleção internacional de fornecedores, promovida pela Visiona Tecnologia Espacial, joint-venture da Telebras e Embraer que atua como empresa integradora do projeto do satélite geoestacionário de defesa e comunicações estratégicas.
Site: Convergência Digital
Data: 18/11/14
Hora: 12h45
Seção: Governo
Autor: Luís Osvaldo Grossmann
Link: http://convergenciadigital.uol.com.br/cgi/cgilua.exe/sys/start.htm?infoid=38442&sid=7#.VGuhlPnF92E