Para Rodrigo Fonseca, 39, diretor de Desenvolvimento Científico e Tecnológico da Finep (Financiadora de Estudos e Projetos), o Brasil deu um grande salto em inovação nos últimos anos. Frente à Finep há treze anos, o dirigente aponta que o interesse das empresas em investirem em inovação aumentou, números que são vistos em um recente balanço do Inova 30 dias, novo modelo de análise da instituição que consegue aprovar em um mês projetos destinados à inovação.
Desde que foi lançada, em setembro de 2013, a plataforma soma 200 empresas cadastradas, 370 projetos submetidos e 144 projetos aprovados. Para este ano, a previsão é que a Finep aumente em quase 60% a contratação de crédito voltado à inovação. A projeção da financiadora pública é contratar R$ 10 bilhões até o final de 2014, em comparação a R$ 6,3 bilhões no ano passado.
Em entrevista ao iNOVA!Br, Rodrigo também comenta sobre o recém-lançado Programa Nacional de Plataformas do Conhecimento, que tem como objetivo estimular a pesquisa na área de ciência, tecnologia e inovação com um prazo de dez anos. Ao todo, estão previstas 20 plataformas em diferentes áreas do conhecimento, como agricultura, saúde, defesa, que pretendem reunir lideranças científicas para organizar recursos e desenvolver produtos com o apoio de empresas para lançá-los ao mercado.
Inova!Br: Rodrigo, você esta há 13 anos frente à Finep e acompanhou de perto toda a evolução da financiadora e de seus projetos. Como você avalia o cenário de ciência, tecnologia e inovação no Brasil nesses últimos anos?
Rodrigo: Nos últimos anos a área de Ciência, Tecnologia e Inovação deu um grande salto no Brasil. E com o aumento do apoio da Finep, empresas que não tinham costume, ou que inovavam esporadicamente estão aumentando o interesse em investir em P&D. Por esse lado, temos um cenário positivo. Por outro, temos um cenário onde isso não é suficiente. Todo o avanço que tivemos é significativo, avançamos vários níveis, tanto em termos de ciência, em inovação nas empresas, mas ainda não é suficiente para colocar o Brasil em outro patamar de desenvolvimento. Se formos comparar com outros países, com os quais queremos nos comparar em termos de desenvolvimento, esses países ainda investem muito mais em CT&I, produzem mais artigos, patentes, e as empresas investem muito mais em inovação. Então, temos um caminho muito longo a ser percorrido.
Inova!Br: Alguns indicadores, como o último Índice Global de Inovação (The Global Innovation Index), mostram que o Brasil tem se mostrado à frente de países do Mercosul e da América Latina. Também melhoramos nossa posição em relação à publicação de artigos científicos nos últimos anos. Mas ainda estamos distantes de países que compõem a OCDE – Organização para Cooperação do Desenvolvimento Econômico. O que o país precisa priorizar para melhorar o setor?
Rodrigo: Acho que o objetivo não pode ser melhorar nesses rankings. Senão, você prioriza melhorar o indicador. O que acho que a gente tem que fazer efetivamente para melhorar é priorizar nos grandes problemas do país que são grandes mobilizadores da economia e do desenvolvimento. O grande tema para o país é o pré-sal, por exemplo. Ele vai mobilizar toda uma cadeia produtiva, por isso temos que focar em investir em inovação nessas áreas. Assim como o etanol. Não é porque a gente vai ter pré-sal, que vamos parar de depender de biocombustíveis. Também temos oportunidades aí, então acho que inovação em educação é uma coisa na qual a gente tem que investir para já, há uma revolução tecnológica no mundo da educação chegando aí e não podemos ficar para trás. Outro ponto é a questão da sustentabilidade, é um campo para se priorizar em termos de desenvolvimento e tecnologia imenso.
Inova!Br: E quais são os entraves que o setor ainda encontra e são impeditivos para o Brasil se desenvolver nesta área?
Rodrigo: Eu não gosto de falar em “entraves”, senão a gente acaba ficando no discurso comum. Eu acho que temos coisas que precisamos priorizar. Temos que melhorar a eficiência das nossas empresas, a eficiência da burocracia pública e privada. Precisamos ganhar em eficiência em produtividade em todas as esferas, no setor público, no setor privado, para conseguirmos fazer as coisas mais rápido. Também temos que apoiar as empresas para que elas possam investir mais em inovação e investir com mais ousadia. Então uma das coisas que a gente pode fazer, por exemplo, é usar o poder de compra do Estado, um dos entraves que eu vejo ao aumento de investimento em inovação no Brasil é o pouco uso do poder de compra do Estado que a gente faz. No mundo inteiro se desenvolve tecnologias onde se utiliza o poder de compra do Estado. Isso é um dos mecanismos de incentivo que se usa e no Brasil se usa muito pouco. Usa-se uma coisa em saúde, está começando a se usar em defesa, mas a gente pode usar muito mais para alavancar o potencial que a gente já possui nas empresas e nas universidades.
Inova!Br: Maior parte do investimento em P&D no Brasil vem do governo. Diferente de outros países, onde a iniciativa privada investe mais em inovação. Esse cenário precisa ser revertido no país?
Rodrigo: Eu acho que tem que ser mudado, mas a mudança vem com o tempo, com o fortalecimento das empresas, com o aumento da competição para que elas possam ser instigadas em investir mais. Este cenário tem que se inverter, mas este cenário não tem que se inverter por um menor investimento do governo, e sim inverter por um maior investimento das empresas que pode ser viabilizado por diferentes mecanismos, como incentivo fiscal, poder de compra, financiamento, crédito, a gente tem vários mecanismos para isso. Também é preciso sofisticar os mecanismos de políticas públicas de fomento à inovação.
Inova!Br: No Brasil, uma das críticas é que a academia se permanece distante do empresariado. Um dos objetivos do programa Plataformas do Conhecimento é diminuir esta distância. Esta parceria entre academia e mercado, é fundamental para nos colocar em melhor destaque no cenário mundial? Como você vê a atuação do programa?
Rodrigo: Acho que sim. Ela é fundamental. Ela já acontece já em muitas áreas, e é bem sucedida, em outras áreas menos. Mas a ideia das plataformas, não é só priorizar esta parceria, é alinhar, dar um foco e um objetivo. Quando se coloca o mesmo objetivo, colocar recursos, o mesmo foco, você consegue alinhar os interesses e eu acho que este é o principal diferencial da plataforma, colocar o interesse estratégico nacional como um direcionamento e alinhar as diferentes capacidades. Você alinha as capacidades desde a academia, em pesquisa cientifica e a capacidade da empresa em transformar aquilo em produto. Esse é o grande diferencial das plataformas em relação a outras ações de fomento, que às vezes não conseguem fomentar esse casamento entre a empresa e a universidade.
Inova!Br: A Finep anunciou recentemente um aumento de quase 60% na oferta de crédito para inovação em 2014, com uma estima de alcançar os R$10 bilhões, destinados para o programa Finep 30 Dias.
Temos outras linhas de financiamento em parceria com o BNDES. Em relação aos recursos destinados à CT&I e à educação científica, você avalia que tem sido o suficiente para atender a demanda?
Rodrigo: Eu acho que claramente não tem sido suficiente para atender a demanda. Nós temos feito seleções muito duras, muito difíceis. Foram colocados focos, prioridades. Então a gente tem feito as escolhas baseadas nos focos do Plano Brasil Maior, nas prioridades estabelecidades pelas diferentes áreas de governo, mas pela própria demanda que surgiu no Inova Empresa, que para os R$ 32 bilhões que foram disponibilizados, a gente teve uma demanda de R$94 bilhões. Tivemos um número gigantesco de empresas demandando. Então claramente não tem sido suficiente. Como eu disse, a gente avançou muito, se comparar com o passado, tivemos saltos significativos, contudo insuficiente para atender já a demanda que está colocada.
Inova!Br: Enfim, você vê com otimismo esse mesmo cenário de CT&I para os próximos anos?
Rodrigo: Eu vejo com otimismo por uma razão simples, porque o Brasil não tem opção. Ou a gente melhora, e qualifica o investimento em Ciência, Tecnologia e Inovação ou nós vamos ficar para trás enquanto país, enquanto sociedade. Senão, não vamos ser capazes de resolver os nossos próprios problemas. O Brasil é um país rico, com muita gente inteligente, e eu acredito que isso vai ser um tema vencedor na sociedade.
Site: Computerworld
Data: 08/12/14
Hora: 8h25
Seção: Negócios
Autor: Carla Matsu
Link: http://computerworld.com.br/negocios/2014/12/08/brasil-avancou-em-inovacao-avalia-diretor-da-finep/