Em julho, David Byttow e Chrys Bader tiraram a sorte grande no setor de novatas de tecnologia, recebendo milhões de dólares em dinheiro da empresa que fundaram.
Mas eles não venderam a empresa, que é sediada em San Francisco, nem abriram o capital dela ou geraram qualquer receita — a rota normal para se fazer fortuna no setor. De fato, a dupla tinha acabado de lançar sua “startup”, fabricante do aplicativo de mensagens Secret, sete meses antes.
O que os dois fundadores fizeram foi vender uma parcela de suas ações por cerca de US$ 6 milhões para capitalistas de risco, como parte de uma rodada inicial de captação de US$ 25 milhões, segundo pessoas a par do acordo.
Mesmo se a empresa fracassar — e pesquisas mostram que a maioria das firmas novatas não dão retorno a seus investidores — Byttow, de 32 anos, e Bader, de 30, já serão milionários.
Os fundadores normalmente conservam suas ações pelo menos durante os primeiros anos da empresa, até ela ganhar tração, ou esperam por uma abertura de capital ou venda direta. Mas os capitalistas de risco estão tão ansiosos para entrar no negócio que estão permitindo que parte dos recursos seja sacada pelos fundadores, em vez de serem usados para desenvolver a empresa.
Para os fundadores, vender ações no início pode ser arriscado — se a empresa acabar fazendo um grande sucesso, as ações podem vir a valer muito mais. Tais negócios, embora raros, estão cada vez mais se espalhando pelo Vale do Silício, dizem capitalistas de risco. As firmas de capital de risco estão famintas para possuir o maior número de ações possível — uma fatia de 20% ou mais — e, assim, em alguns casos, estão permitindo que os fundadores peguem o dinheiro mesmo antes de um produto ser lançado.
Alguns fundadores de novatas de tecnologia estão ganhando milhões de dólares em rodadas iniciais de financiamento, à medida que a competição entre investidores elevam as avaliações das novatas mais promissoras.
Sócios de várias firmas de capital de risco importantes, como Andreeseen Horowitz, Founders Fund e Khosla Ventures, foram incisivos ao ressaltar que a venda de ações pode remover obstáculos financeiros que distraem os fundadores, como dívidas contraídas para financiar a faculdade. Mas, alertam eles, essas chamadas vendas secundárias de ações, se realizadas muito no início, também podem atrapalhar os empreendedores ao criar um falso senso de sucesso. “Não investi em uma empresa somente porque os fundadores estavam planejamento obter uma liquidez significativa [na primeira rodada de captação] — antes de a empresa ter um mercado e um produto claros”, diz Geoff Lewis, sócio da Founders Fund, que há muito defende que os fundadores devem vendar ações pessoais em rodadas posteriores. Lewis não revela o nome da novata, mas diz que ela ainda conseguiu levantar um capital substancial devido ao interesse dos investidores.
“Acredito que a liquidez dos fundadores deve estar vinculada ao sucesso da empresa e não à dinâmica competitiva dos investidores de risco”, diz ele.
Em sua primeira grande rodada captação, a Robinhood Markets Inc., fabricante de um aplicativo de serviços financeiros, arrecadou US$ 13 milhões em setembro de firmas como a Index Vultures e empreendedores como Aaron Levie, diretor-presidente da Box Inc., e celebridades como o rapper Snoop Dogg. Os fundadores da empresa, Vladimir Tenev, de 27 anos, e Baiju Bhatt, de 29, ex-colegas de quarto da Universidade de Stanford que, no seu emprego anterior, montavam plataformas de operações eletrônicas para empresas financeiras de Nova York, venderam ações antes do lançamento público do aplicativo, no início de dezembro, segundo pessoas a par do assunto.
Quando o Snapchat Inc. captou US$ 80 milhões numa rodada posterior (série B), em junho de 2013 — mais de um ano antes do aplicativo de mensagens começar a vender anúncios – os fundadores, Evan Spiegel, de 24 anos, e Bobby Murphy, de 26, embolsaram cerca de US$ 10 milhões cada, segundo pessoas a par do negócio. Aquela rodada avaliou a empresa em cerca de US$ 800 milhões — mais recentemente, novos investimentos levaram o valor do Snapchat a US$ 10 bilhões, agora que o aplicativo tem mais de 100 milhões de usuários.
Mas poucas novatas podem igualar a ascensão meteórica do Snapchat.
O caminho do Secret não foi tão favorável. O aplicativo de mensagens anônimas rapidamente ganhou popularidade quando foi lançado, em janeiro de 2014. Em agosto, logo depois de ter captado recursos numa rodada que o avaliou em US$ 100 milhões, o aplicativo ficou entre os 100 principais dos Estados Unidos, segundo dados da App Annie, serviço que monitora a popularidade dos apps.
Este mês, contudo, o Secret não está listado nem no ranking dos 1.500 principais apps da App Annie, o que indica que o aplicativo caiu em desuso. Na semana passada, a empresa iniciou uma reformulação expressiva no app, numa tentativa de reconquistar sua popularidade.
Durante anos, foi relativamente fácil para os fundadores de novatas vender ações antes de uma abertura de capital. Mas as ações eram normalmente vendidas um ponto mais avançado do ciclo de vida das startups, bem depois de a empresa estar registrando dezenas de milhões de dólares de milhões em receita, se não centenas. Em 2010, um boom das chamadas ações secundárias deu origem a uma atividade expressiva de corretagem, em que compradores e vendedores negociavam ações em empresas comoFacebook Inc. FB -0.15% e Groupon Inc., GRPN -1.38% que eram então de capital fechado.
Hoje em dia, contudo, os investidores dizem que existe tanto dinheiro em busca de negócios que essa atividade está sendo antecipada para as rodadas iniciais. Tão logo uma startup dá sinais de que terá sucesso — não importa o quão nova seja ela — todo mundo investe, na disputa por participação.
Site: The Wall Street Journal
Data: 08/01/2015
Hora: 00h03
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Autor: Evelyn M. Rusli
Link: http://br.wsj.com/articles/SB10484597358113043698404580385740568676982?tesla=y&linkSource=valor&mg=reno64-wsj&url=http://online.wsj.com/article/SB10484597358113043698404580385740568676982.html?linkSource=valor