Um funcionário da Lenovo pega uma cenoura, volta-se para o tablet recém-lançado pela empresa e começa a desenhar na tela. A tela reconhece a cenoura como uma caneta "stylus", e converte seu manuscrito em texto. Escrever nela com uma caneta ou lápis comum também funciona. Experimentar fazer o mesmo num iPad deixa manchas de sujeira na tela (no caso da cenoura) e o uso de canetas pode riscá-la.
Embora as aplicações para essas sofisticações exóticas da tecnologia de toque sejam secundárias, talvez limitadas a cozinheiros cujas mãos estão sujas demais para operar seus computadores, elas ilustram como as empresas mais antigas de PCs estão se concentrando em inovações para manter sua relevância, numa era dominada por dispositivos móveis.
"A caneta vai se tornar uma das melhores interfaces do usuário", disse Gianfranco Lanci, diretor operacional da Lenovo. A próxima: desenvolver o controle de gestos para computador, qualificados por Lanci como "a maneira natural de se comunicar".
Os PCs podem ser consideravelmente mais velhos que os aparelhos "vestíveis" e os conectados lançados na Feira Internacional de Eletrônicos de Las Vegas, mas suas fabricantes provam para o mundo que não estão velhas demais para aprender novos artifícios.
Com a queda do mercado de PCs - as vendas baixaram de 317,6 milhões de unidades em 2013 para 314,1 milhões de unidades em 2014, segundo a empresa de pesquisa de mercado Gartner -, esses artifícios são importantes. Embora os especialistas digam que os números poderão aumentar este ano, o "melhor dos cenários", segundo Lanci, é uma alta apenas ligeira.
Isso fez empresas como a Lenovo, a Dell e a Acer se apressarem para tornar seus aparelhos mais relevantes e mais diferenciados em relação aos das concorrentes. Isso significa lançar, na feira de Las Vegas, notebooks mais rápidos, mais leves e mais baratos, além de melhorar seus tablets e os seus tablets conversíveis a PCs para que possam concorrer com o iPad e o ultrafino MacBook Air da Apple.
A Lenovo apregoa que dois de seus mais novos laptops pesam "menos que uma garrafa de água de 32 onças [909 ml]", enquanto a marca Asus, de Taiwan, se gaba de que sua nova linha Chi, uma família de laptops cuja tela pode ser destacada para se transformar num tablet, tem espessura menor que o McBook Air da Apple, além de ser vendida a partir de US$ 299.
A Dell, que fechou recentemente seu capital, está lançando um tablet que afirma ser o mais delgado do mercado, e inclui uma câmera 3D parcialmente desenvolvida pela fabricante de chips Intel. Está lançando também uma nova versão de seus laptops de alto desempenho para games, capazes de rodar jogos com maior definição que os consoles tradicionais.
O dia inteiro de duração da bateria e a mobilidade fácil são atualmente quase onipresentes entre os laptops e tablets oferecidos ao consumidor, e o custo das telas sensíveis ao toque caiu o suficiente para que elas sejam cada vez mais comuns em modelos de laptop de faixa de preço média.
Isso estimula as empresas a tentar diferenciar seus produtos com tecnologias inteiramente novas, não apenas a de escrever usando uma cenoura, mas com câmeras 3D, tecnologia de controle de gestos e de reconhecimento facial capaz de destravar um computador quando seu dono olha para ele, disse John Byrne, que comanda a divisão de computação e de gráficos da fabricante de chips AMD.
A Intel, a fabricante responsável pela maioria dos chips de PCs do mundo, lançou também um produto para desenvolvedores chamado Curie, que facilitará a tarefa de montar dispositivos "vestíveis".
"Não dá para deter o avanço, mas o importante é o que é adequado e o que vai pegar", disse Renée James, presidente da Intel. "Não tem fim - é simplesmente a evolução."
Site: Valor Econômico
Data: 09/01/2015
Hora: 05h
Seção: Empresas
Autor: Sarah Mishkin
Link: http://www.valor.com.br/empresas/3851730/industria-busca-inovacoes-para-manter-pcs-relevantes