“Estamos transformando a Bematech”. A frase é do presidente da empresa, Cleber Morais, indicando uma movimentação da companhia para deixar de ser uma fornecedora de tecnologia para automação comercial e posicionar-se como uma provedora de soluções completas de gestão para o varejo. Na entrevista a seguir, o executivo compartilha suas perspectivas, estratégias e desafios que observa no horizonte para a provedora.
Computerworld Brasil – Com que expectativa vocês veem 2015?
Cleber Morais – Vai ser um ano difícil. No início de 2014, a história era assim: o carnaval será longe, tem a Copa do Mundo, uma eleição... e o Brasil nunca viveu uma situação daquelas. Diria que 2015 continua nesse ritmo “diferente”, só que, dessa vez, sobre outra ótica.
CW – Em que sentido?
Morais – Há o desafio do cenário econômico mais complexo. Mas olhando só o segmento de varejo e para onde atua a Bematech, acabo estando em segmentos que talvez não estejam tão impactadas no processo macroeconômico.
CW – Por exemplo?
Morais – Hotelaria, que é uma atividade com um processo muito longo, onde a abertura de um hotel parte de uma decisão tomada há dois anos. Pode-se até postergar um pouco, mas a estrutura estará lá. Restaurantes ainda tem um potencial muito grande, dada a quantidade de pequenos fornecedores e a possibilidade de consolidação que vem das grandes redes. Além disso, o varejo tem uma diversidade e resiliência muito forte.
CW – Por quê?
Morais – Por exemplo, quando o setor de materiais de construção está em baixa, o segmento de eletromagazine ou cosméticos vai bem. É uma vertical extremamente fragmentada e isso significa que não tenho dependência muito grande de um único nicho.
CW – Mas, pensando que a economia será fraca, quais as estratégias?
Morais – Inovação, que significa trazer tecnologia nova para segmentos que tradicionalmente não tínhamos uma oferta completa; aumento do portfólio, sendo que investimos tradicionalmente 5% da nossa receita, que dá quase R$ 20 milhões por ano, em trazer novidades e tecnologias; e agressividade de mercado.
CW – Há planos de comprar de empresas?
Morais – Aquisições é um tema que é tratado dentro de nosso planejamento estratégico. Sempre que surgir uma oportunidade boa, estamos aptos a fazer, temos dinheiro em caixa. Agora é uma questão de ter um link de geração de valor que seja forte para o acionista. Essa é nossa preocupação.
CW – Vocês pretendem entrar em novos mercados. O que tem olhado nesse sentido?
Morais – Um dos mercados olhamos é de moda. Estamos usando e desenvolvendo novas funcionalidades para entrar nesse segmento, que tem potencial, precisa de uma tecnologia diferente e enxergamos que, ao longo desse ano, conquistaremos novos clientes.
CW – Como a Bematech vem tratando a questão de mobilidade e nuvem?
Morais – Parte das novas tecnologias que lançamos tem muito a ver com isso. O futuro do varejo vai passar por mobilidade e cloud computing. Estive em um cliente de porte médio, com 15 lojas, onde hoje a complexidade de operação de tecnologia é gigantesca, pois tem que ter um servidor em cada loja, um profissional de TI e uma estrutura que ele, com o tamanho que tem, começa a ter dificuldade. Solução em nuvem, com alguém gerindo isso para ele, vai facilitar muito sua vida. O varejo demanda muito isso. É o futuro: cloud de um lado e mobilidade de outro, com o usuário conseguindo comparar preços ou ofertas que te dará fidelidade. O percentual de investimento em tecnologia no varejo tem aumentado em função disso, sobre trazer diferenciais competitivos. Não tem como mais o varejista operar sem investir em tecnologia.
CW – O setor, então, manterá o ritmo de expansão?
Morais – Talvez em abertura de lojas, não; mas o investimento em tecnologia terá que continuar, senão as empresas perderão vantagem competitiva.
CW – Por que o varejo é a menina dos olhos das provedoras de TI brasileiras?
Morais – O que aconteceu foi o que chamo de ondas. A primeira onda de atualização e consolidação ocorreu no mercado financeiro, com investimento em tecnologia para garantir diferenciais; a segunda veio na indústria de telecom, com um boom de empresas e novos sistemas entrando com investimento pesado. O que acontece agora é que essa onda de TI vem por cima do varejo. É o consumidor com um poder como nunca em suas mãos e os varejistas com um gap tecnológico necessitando se adaptar. O que aconteceu no Brasil nessas outras duas indústrias começa a acontecer agora no varejo.
CW – Hoje, o quanto da receita de vocês vem de hardware, quanto é software e quanto é serviço?
Morais – Software e serviços têm crescido no montante da receita ao longo do tempo. O que é importante é que não olhamos mais software, hardware ou serviço separadamente. A minha preocupação não é essa. Minha preocupação é uma coisa chamada solução. Hoje quando chego num restaurante, ofereço uma solução completa de gestão para o restaurante. Olho a venda completa. É uma mudança de mentalidade muito forte na companhia que se tornou muito mais presente em nossa abordagem de um ano para cá.
Site: Computerworld
Data: 06/02/2015
Hora: 8h25
Seção: Negócios
Autor: Felipe Dreher
Link: http://computerworld.com.br/negocios/2015/02/06/futuro-do-varejo-brasileiro-passa-por-mobilidade-e-cloud-cre-bematech/