A indústria digital brasileira terminou o ano de 2014 a todo o vapor. Cada vez mais empresas iniciantes com boas ideias atraíram investimentos. E, o que é ainda mais importante, o setor amadureceu. Por isso, é possível dizer que este é o melhor momento para se fazer transações no Brasil. Isso não significa que os ativos estão mais baratos, mas que os ruídos que existiam no setor acabaram. Com isso, as perspectivas para 2015 não poderiam ser melhores.
A sensação de estagnação do setor digital no ano que terminou pode ser explicada por dois fatores principais. O primeiro é que 2014 foi desafiador para a economia nacional. Baixo crescimento do país, um grande evento – a Copa do Mundo – que atraiu muitos olhares internacionais, mas que também parou o Brasil por um mês, e o clima de incertezas por conta das eleições certamente não animaram investidores.
Fim do hype
Por outro lado, acabou a euforia. O período de hype, que aconteceu em 2011 e 2012, apresentou alguns projetos baseados em uma visão de curto prazo e que tinham o objetivo de dar retorno financeiro rápido. É aqui que entra a figura do “coffee shop entrepreneur” (empreendedor de cafeteria), muito comum também em outros países: idealistas que se reuniam para tomar café com seus laptops e faziam projetos de criação de uma empresa que, acreditavam, mudaria o mundo em seis meses. O mesmo valia para investidores que achavam ter redescoberto o Brasil como a “nova Serra Pelada”.
Com o passar do tempo, tornou-se nítido que o mercado brasileiro não é para “aventureiros” que buscam sucesso e dinheiro rápidos – por mais bem intencionados que sejam. Essa “seleção natural” terminou por deixar na ativa aqueles empreendedores com comprometimento maior e com visão mais ampliada sobre o que o Brasil precisa. Empresas criadas há alguns anos que preferiram primeiro amadurecer no mercado só agora estão em busca de capital para crescer mais.
Mais dinheiro
Pelo outro lado, hoje os fundos sérios que procuram possibilidades de investimentos olham para a frente e veem o país de daqui 10 anos, além de estarem mais alinhados com as características do nosso mercado. Na comparação com dois anos atrás, há mais capital disponível para boas empresas em estágios iniciais.
O Brasil é um país repleto de oportunidades. Em termos de mercado, apenas metade da nossa população está on-line. Além disso, esses cerca de 100 milhões de usuários de internet ainda estão amadurecendo. Muitos ainda precisam aprender a utilizar todos os recursos que a rede proporciona e sentir segurança para realizar transações. Aquela frase “ainda há muito pela frente” não se aplica ao nosso país. Aqui, em termos digitais, “ainda temos tudo pela frente”.
Também não faltam áreas carecendo de boas ideias. O Brasil tem grandes gargalos necessitando de inovação para que sejam, pelo menos em parte, amenizados ou resolvidos. As oportunidades estão em áreas que já existem, mas que possuem qualidade de serviço ruim. Os setores de logística, educação, saúde e burocracia são apenas alguns deles. O empreendedor apaixonado, com desejo de fazer algo nessas searas, pode se dar bem e ainda ajudar o país a crescer e a se desenvolver.
20 vezes o crescimento do PIB
Daqui para a frente, esse amadurecimento deve se acentuar e o mercado digital brasileiro vai se tornar cada vez mais expressivo, apesar do desempenho da economia. A internet cresce descolada do PIB (Produto Interno Bruto). Enquanto a previsão é de um “pibinho” em 2015, o setor avança de 20% a 30% ao ano. Neste ano, fizemos um recorde de investimentos e aumentamos nosso portfólio para 15 empresas – foram 6 novos aportes. Claro que, quando a economia como um todo vai bem, todos conseguimos crescer ainda mais. Por isso, nossas expectativas para 2015 são muito positivas, com mais produtividade e mais transações de nossa parte.
Devemos comemorar o momento do setor, mas também continuar trabalhando em prol do ecossistema empreendedor brasileiro. Assim, continuaremos criando mais espaço para o surgimento de boas ideias e empresas inovadoras que possam facilitar e melhorar a vida de todo o mundo. Nosso mercado robusto de internautas está sempre ávido por novidades.
Anderson Thees é sócio-fundador da Redpoint e.ventures, fundo de capital empreendedor (venture capital) voltado a empresas em estágio inicial de desenvolvimento e que busca trazer o conhecimento e as boas práticas do Vale do Silício para o ecossistema empreendedor brasileiro.
Site: Computerworld
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Seção: Plural
Autor: Anderson Thees
Link: http://idgnow.com.br/blog/plural/2015/02/23/o-brasil-digital-segue-a-todo-vapor/