A economia brasileira passa por ajustes, necessários para a retomada do crescimento, que impactam profundamente todos os setores da atividade econômica. Inflação com tendência de alta, retração do PIB (Produto Interno Bruto) e aumento da taxa Selic são preocupações que estão na ordem do dia, pois comprometem os resultados, inviabilizam projetos, geram incertezas e inibem investimentos. O segmento de distribuição de soluções de TI (Tecnologia da Informação) está inserido nesse cenário. Entretanto, além dos problemas comuns aos que atuam em diversas áreas, os quais sinalizam que a travessia de 2015 será muito difícil, os distribuidores se deparam com obstáculos adicionais que são particularmente desafiadores em função da natureza de seu ramo de negócio.
Um desses obstáculos é o câmbio. O fator crítico para o setor não é exatamente a valorização do dólar, mas a sua oscilação para cima que vem sendo registrada nos últimos meses porque pressiona a inflação, cria enormes dificuldades de caixa para reposição de estoques, prejudica o planejamento de importação e de venda, e contribui para reduzir ainda mais as já apertadas margens. Para se ter ideia, as margens das distribuidoras de valor agregado (VADs) oscilam entre 8% e 15%, enquanto as das distribuidoras de volume é de 4% a 5%.
Este ano, a moeda norte-americana disparou em relação à cotação registrada em 2014, ultrapassando a barreira dos R$ 3,00. Em dezembro o dólar valia R$ 2,63, chegou a R$ 3,11 em março e um mês depois teve uma ligeira queda, para R$ 3,08. É preciso ressaltar que a grande maioria dos produtos de TI comercializados no mercado brasileiro é importada e os que são fabricados localmente utilizam componentes trazidos de outros países. E como o ciclo de maturação de negócios no setor demanda tempo, não é raro haver o fechamento de contrato para fornecimento de produtos com dólar em um determinado patamar e ter o negócio efetivamente viabilizado para entrega com uma taxa de câmbio mais elevada. O resultado é que as distribuidoras, assim como o canal de revendas, e as integradoras muitas vezes não conseguem suportar essa oscilação cambial e se deparam com o desafio de elaborar um bom planejamento para comercializar os seus produtos a um valor que permita fazer a reposição de estoques.
A conjuntura econômica desfavorável gera um clima de incertezas, fazendo com que as empresas do setor fiquem à espera da estabilidade cambial para retomar com segurança os seus investimentos. Ao mesmo tempo estabelece uma barreira para a chegada de novos players com novidades em termos de soluções tecnológicas. Muitas startups estrangeiras do setor de TI abortaram o plano de ingressar no mercado brasileiro em virtude do momento atual do País. Assim, o cenário atual torna-se propício ao ressurgimento de tecnologias que foram desenvolvidas com foco na redução dos custos operacionais.
O Brasil praticamente não cresceu em 2014. O PIB teve uma retração de 0,1% no ano passado e para 2015 o Banco Central projeta uma retração de 0,5%. A economia brasileira precisa voltar a crescer rapidamente para que toda a cadeia de distribuição possa operar com segurança no mercado porque no setor de TI, diferentemente de outras áreas, as empresas atuam com uma perspectiva de curto prazo. Em outras palavras, elas não podem se dar ao luxo de esperar dois ou três anos para a melhoria das condições econômicas.
*Rodrigo Martini é diretor de marketing e vendas da Axyon Distribuidora.
Site: Computerworld
Data: 14/04/2015
Hora: 8h
Seção: Negócios
Autor: Rodrigo Martini
Link: http://computerworld.com.br/o-impacto-da-oscilacao-cambial-no-setor-de-ti