A muito falada – e iminente, ao que tudo indica – escassez de endereços de internet pode ter sido solucionada. Caso acesse o Google ou o Facebook através de uma das grandes operadoras dos Estados Unidos, Alemanha ou França, você pode colaborar para sua solução. Tudo isso porque estaria usando o IPv6 (Internet Protocol Version 6), protocolo de internet de última geração capaz de abrigar todos os futuros endereços da rede e nunca ser esgotado.
Apesar de suas vantagens, o IPv6 demorou a conquistar seu espaço. O descaso de empresas que minimizavam a escassez de endereços levou o novo protocolo a definhar e só agora esse quadro começa a ser revertido.
Embora seja praticamente invisível para destinatários finais, o novo protocolo já faz as redes dos provedores de serviço rodarem melhor e pode acelerar suas conexões. Todos os novos smartphones já são capazes de ler IPv6, bem como alguns gateways de banda larga. Alguns modelos mais antigos podem ser atualizados pelo provedor de serviço para suportar o protocolo.
“Se você é cliente da Verizon e tem um dispositivo móvel, é provável que seja um usuário do IPv6 e não saiba”, afirmou John Curran, presidente e CEO da Arin (American Registry for Internet Numbers), responsável pelos endereços da América do norte.
“Acho que as pessoas não percebem a quantidade de IPv6 disponível”, comenta Mat Ford, gerente de programação técnica da Internet Society, organizadora do lançamento mundial do protocolo.
Há alguns dias, o grupo de Ford divulgou os índices globais de conectividade do IPv6. As medições dizem respeito ao tráfego de IPv6 para as cinco grandes companhias de internet que disponibilizam conteúdo via o novo protocolo: Google, Facebook, Yahoo, LinkedIn e Akamai.
Entre as descobertas está que mais de 66% das conexões dos clientes Verizon Wireless com grandes companhias de internet foram através do IPv6. Já na T-Mobile americana, o tráfego excedeu os 53%.
Celulares são onde a tecnologia se disponibiliza mais rápido, em muitos casos devido à quantidade única de endereços exigida pelas conexões de todos esses dispositivos.
As redes com fios também estão entrando no jogo. Mais de 46% das conexões feitas pela rede de fios AT&T usaram o novo protocolo, exemplo seguido por cerca de um terço do tráfego dos consumidores Comcast. Fora dos Estados Unidos, a Deutsche Telekom e a francesa Free registraram uso do IPv6 em 29% de suas conexões.
O Facebook afirmou que cerca de 8% de seus membros ao redor do mundo usam o IPv6 para acessar seu conteúdo. Nos Estados Unidos, são 17,5%. Esses percentuais dobram a cada ano, afirma o engenheiro de software da empresa, Paul Saab. Já o Google registra um pouco mais de 6% de seus visitantes chegando pelo IPv6.
Mas, enquanto muitos ISPs e grandes provedores de conteúdo da internet disponibilizaram parcialmente o IPv6 e o promovem agressivamente, uma grande quantidade de participantes menores ainda não o fez.
“À medida que você se distancia dos grandes provedores e migra para diferentes partes da internet, a quantidade de adeptos despenca”, indica Doug Madory, diretor de Internet Analytics na Dyn Research. Dos mil primeiros sites medidos pela Alexa (empresa de web analytics), apenas 14,2% podem ser acessados usando o IPv6.
Em termos de bits atravessando a Internet como um todo, o caminho é ainda mais longo. Relatórios da Amsterdam Internet Exchange (uma das maiores empresas de peering do mundo) apontam que o auge do tráfego de IPv4 se situa próximo de 3.5 Tbps. Enquanto isso, o pico de tráfego de IPv6 costuma ficar em 30 Gbps, o que sugere englobar apenas 1% dos dados movimentados.
Um mapa mundial criado pela APNIC (Asia-Pacific Network Information Centre) e pelo Google mostra que a capacidade do IPv6 varia entre quase 39% na Bélgica e 0% na maioria dos países emergentes. Enquanto a Alemanha fica entre 20% e os Estados Unidos em quase 17%, poucos países superam os 10%. No Brasil, a taxa figura em 1,5%.
"Está acontecendo aos poucos", avalia o cientista chefe da APNIC, Geoff Huston, por e-mail. “Hoje são apenas 30 contas ISP para a maioria das atividades de IPv6 visíveis. São grandes ISPs, influentes na indústria, mas ainda assim, são apenas 30”, declarou.
Vint Cerf, diretor da Arin, acredita que a grande inversão no uso de protocolos (do IPv4 para o IPv6 ) ocorrerá assim que o uso geral do IPv6 atingir os 25%, o que com a necessidade de conectar mais dispositivos móveis e a popularização da internet das coisas, deve acontecer nos próximos anos.
IPv6 vs IPv4
A maior parte da internet ainda é composta de PCs, web servers, telefones e outros dispositivos que se identificam como usuários do IPv4. O protocolo implantado em 1981 só conta com 4.3 endereços únicos. Caso conte com mais de 700 milhões de combinações, o IPv4 pode ter problemas, e tem: as organizações regionais que disponibilizam novos endereços de IP afirmam que os suprimentos de IPv4 diminuíram consideravelmente, o que aumenta o espaço no mercado para novos endereços.
O modelo novo resolve a carência do IPv4 através um espaço maior de endereços disponíveis. Além de resolveu o problema original, o IPv6 promove um aumento de velocidade nas conexões, mas é cedo para dizer se será ou não visível pelos usuários. Depois de sua implantação, o Facebook afirma carregar seu feed de notícias de 20 a 40% mais rápido em celulares. Testes da Time Warner Cable indicaram um aumento de 15%. Uma das razões desse aumento é o não compartilhamento de um endereço IPv4 com outros inscritos usando o Network Address Translation, técnica que permite à rede trabalhar mais.
Site: CIO
Data: 02/06/2015
Hora: 8h29
Seção: Tecnologia
Autor: ------
Link: http://cio.com.br/tecnologia/2015/06/02/atencao-sua-empresa-ja-esta-usando-ipv6-mas-nao-sabe/