O código aberto pode alavancar a Internet das Coisas?

08/06/2015

O open source já está presente em diversos elos da cadeia de valor da Internet das Coisas. Aplicativos em nuvem que coletam e analisam dados são fortemente dependentes e balizados em softwares e padrões de código aberto, por exemplo. Além disso, muitos dos dispositivos e gateways de IoT são executados em alguma versão do Linux.

“Os fabricantes de dispositivos assumiram o código aberto em sistemas operacionais em uma participação de 40 a 50%, mas há também um monte de software proprietário e legado incorporado nos aparelhos que rodam hoje em dia e isso tende a continuar da mesma forma no futuro”, projeta Bill Weinberg, diretor da Black Duck Software. “As aplicações provavelmente serão proprietárias porque representam uma oportunidade, pelo menos na mente dos fabricantes de dispositivos, para fornecer diferenciação”, acrescenta.

Porém, não é tanto a tecnologia dentro dos dispositivos ou nas aplicações de controle o local onde o open source tende a fazer a maior diferença no universo de IoT. É onde a necessidade é maior - o middleware, estabelecendo os padrões de mensagens e os aplicativos de gerenciamento por trás das cenas que essas ferramentas serão determinantes. Sem isso, os clientes e as empresas pensando em investir no conceito terão dificuldade em juntar as peças.

Muitas empresas retardam alguns projetos com receito de apostar em plataformas que não garantam sucesso quando a fumaça da novidade em torno da Internet das Coisas começar a baixar. “Os principais padrões ainda são proprietários e de verticais específicas”, observa Ian Skerrett, vice-presidente de marketing da canadense Eclipse Foundation, um dos grupos que procuram criar padrões de código aberto comuns para a IoT.

Uma maior adoção e proliferação de padrões open source tende a ajudar o ecossistema em torno da IoT a crescer e a se desenvolver, facilitando que produtos de diferentes fornecedores se comuniquem entre si. Além disso, é algo que reduzirá barreiras de entrada (em certos termos) e diminuirá alguns custos. No entanto, com diversos frameworks de código aberto de diferentes concorrentes, e várias plataformas proprietárias entrincheiradas, levará tempo para saber quem serão so vencedores.

Você pode me ouvir agora?

A fragmentação é o maior desafio não só para usuários corporativos, mas também por qualquer fornecedor que procura para participar do jogo de IoT. “Há um monte de opções diferentes de softwares e protocolos de comunicação”, observa Weinberg, para avaliar: “Ainda é muito cedo e não veremos uma possível padronização tão cedo”.

Por exemplo, um fabricante sistemas de iluminação inteligente, de câmeras de segurança, de controles de temperatura que interagem entre si pode usar a nuvem para realizar o processamente e ter gerenciamento por meio de um aplicativo rodando em um smartphone. Outra marca pode usar os mesmos recursos e configurações, porém ser completamente incompatível com a primeira.

“Se você está construindo um app, você vai ter para acomodar uma ampla gama de tipos de dispositivos, bem como uma ampla gama de protocolos de outra forma incompatíveis”, comenta Weinberg. “E você vai ter que tomar algumas decisões difíceis sobre quais dispositivos usará e como acomodará isso”, adiciona, sugerindo a busca por um middleware capaz de colocar aparelhos para falar com soluções de distintos fabricantes.

O projeto IoTivity é um framework lançado pelo Open Interconnect Consortium que pretende funcionar como uma “cola” que agrupa todas as iniciativas de Internet das Coisas. “Ele permite que dispositivos descubram uns aos outros, entendam suas capacidades e funcionalidades de controle”, ilustra Mark Skarpness, diretor de software da Intel e presidente do grupo de coordenação da entidade.

O executivo afirma que a iniciativa tem a missão de apoiar uma diversa gama de aplicações. Sua expectativa, contudo, não considera que toda a indústria embarque nesse tipo de discurso de uma única vez. “Claro que a Apple vai fazer de seu jeito, a Microsoft de outro”, comenta. “Mas, para o amplo mundo dos dispositivos de IoT, a plataforma de código aberto, Linux embarcado e IoTivity são um alicerce perfeito para construir estes produtos”, comenta.

Na opinião de Skarpness, essas três frentes ajudarão a acelerar novos dispositivos e aplicativos direiconados à Intenet das Coisas. O consórcio foi criado em outubro de 2014 com o apoio da Intel e hospedado na Linux Foundation. A iniciativa agrupa mais de 50 membros incluindo Cisco, Acer, Dell, GE, Samsung, Honeywell, HP, Siemens, Lenovo e McAfee.

Uma iniciativa semelhante (e concorrente) é a AllJoyn, a partir do AllSeen Alliance. Em meados de fevereiro de 2015, a aliança – também projeto da fundação Linux – agrupava mais de 120 membros, incluindo nomes Qualcomm, Microsoft, Haier, Panasonic, a Sharp, TP-Link, Sony, LG, Cisco, D-Link, ADT, Honeywell, HTC, Lenovo, Netgear, Symantec e VeriSign.

“AllJoyn tem uma porta de entrada que permite o acesso remoto a dispositivos e controle de dispositivos granulares", comenta Philip Desautels, diretor de IoT no AllSeen Alliance. Além de permitir que os dispositivos conversem através de gateways para a nuvem, a estrutura também permite que aparelhos e aplicações falem entre si mesmo sem a necessidade de um gateway. "Não queremos ser tecnólogos com relação aos dispositivos ao nosso redor. Queremos apenas que essas coisas trabalhem”.

Soltando amarras

Open source faz mais do que ajudar produtos de diferentes fabricantes a trabalharem juntos. Ao fornecerem soluções de simplificação, a comunidade pode ajudar uma organização a iniciar seu processo de desenvolvimento.

"As empresas ganham acesso a uma volume exponencialmente maior de habilidades técnicas que não têm de adquirir e pagar diretamente", comenta Jeffrey Kaplan, diretor-gerente da empresa de consultoria IoT THINKstrategies. "E se você conhece esta indústria, as coisas mais difíceis de encontrar e adquirir são as habilidades de desenvolvimento de software."

Projetos de aplicações de código aberto para IoT ajudariam, assim, a empresas a acelerarem a adoção do conceito sem necessariamente terem que reinventer a roda, reduzindo significativamente o tempo de desenvolvimento e entrega de projetos. 

Além disso, a estrutura baseada em um ecossistema, permite que um fornecedor se concentre em seu produto sem ter que se preocupar com a construção de uma infraestrutura de apoio.

Mas há certas resistências e barreiras a serem vencidas. "Se uma empresa quiser fazer automação residencial com uma solução da Apple, você tem que comprar tudo e é por isso que eu acho que vai falhar", avalia Skerrett, da Eclipse Foundation. "O seu portão de garagem nem seu monitor de frequência cardíaca não vai ser construído para a Apple”, acrescenta.

Soma-se a isso o fato de as plataformas proprietárias exigirem o pagamento de royalties, observa o executivo, sinalizando ali mais um obstáculo  a ser superado. Seu grupo atualmente comporta mais de 220 membros, incluíndo nomes como IBM, Google, Oracle, SAP, Siemens, Texas Instruments, BMW, Cisco, Dell, Ericksson, HP, Intel, Nokia e Bosch.

Quem está na frente?

De acordo com Weinberg, da Black Duck, a AllJoyn é a iniciativa open source focada em IoT mais conhecida, “mas ainda é muito cedo para fazer qualquer aposta”. Isso ocorre, também, devido ao fato de que outros grupos ganham tração.

Site: Computerworld
Data: 05/06/2015
Hora: 16h48
Seção: Tecnologias Emergentes
Autor: ------
Link: http://computerworld.com.br/o-codigo-livre-pode-alavancar-internet-das-coisas