Cada vez mais as tecnologias de informação e comunicação (TICs) se tornam presentes na vida cotidiana. Os cidadãos as percebem com facilidade em seu dia a dia, seja por meio de aplicativos que localizam uma rota melhor no trânsito, ou em redes sociais que juntam as pessoas em prol de uma causa. Mas na visão de especialistas do setor, esse auxílio trazido pela tecnologia pode também fomentar políticas públicas em temas estratégicos para a comunidade, ao mesmo tempo em que aproxima os cidadãos de uma governança mais democrática.
Tecnologias usadas por cidadãos contribuirão para as cidades do futuro - Foto: CPqD
Durante o "Workshop e-Planning Territórios Sustentáveis", realizado pelo Instituto Brasileiro de Informação em Ciência e Tecnologia (Ibict), em Brasília (DF), foi debatido o papel das novas tecnologias e como usá-las de forma planejada. A doutoranda na Universidade de Lisboa em e-Planning - estudo sobre o impacto da tecnologia na sociedade -, Francesca Savoldi, afirmou que tais inovações devem ser um incentivo para reduzir as desigualdades e diminuir o vácuo que há entre os cidadãos e seus governos.
"É preciso reavaliar e reimaginar quais são os valores das cidades do futuro. A participação dos cidadãos na construção da sua cidade é fundamental, não só para melhorar a definição dos problemas urbanos, mas para reduzir desigualdades, gerar soluções e corrigir políticas. Isto daria uma nova perspectiva para a inovação social e a regeneração democrática", comentou Savoldi, que também integra o Centro de Investigação de Tecnologias de Informação para uma Democracia Participativa (Citidep).
Tecnologia a favor do cidadão
Ainda que defenda a implantação das cidades inteligentes, Savoldi alerta que é necessário a população entender o que é e quais são as ferramentas que fazem parte deste mundo digital. Ela cita dois exemplos de como a tecnologia usada pelos cidadãos pode aproximá-los das decisões importantes em seus países. Foi criado em Kiev, capital da Ucrânia, uma plataforma online, chamada Better Reykjavik, onde todos os partidos políticos tinham seu espaço e podiam debater diretamente com a população suas ideias durante a campanha eleitoral.
"Foi um êxito total, porque somente em um mês eleitores de Kiev puderam participar e propor suas ideias. Também foi ótimo porque deu um espaço igualitário a cada partido, tornando tudo mais democrático”, disse a doutoranda.
Já na Estônia, foi criada uma proposta colaborativa de reforma anti-corrupção. Por meio de uma plataforma online, ao longo de apenas três semanas, foram inscritas mais de duas mil propostas da população, que apontavam mecanismos para impedir a corrupção política em seu país. Todas foram apresentadas ao Parlamento da Estônia, com sete dessas ideias virando leis.
"No contexto de renovação, a governança também tem que ser renovada. Nesta nova época, voltada para tecnologia, com um novo rol de ferramentas, os governos precisam enfrentar seus problemas de valores, integrar a participação cidadã usando ferramentas transversais, e ao mesmo tempo, proteger os direitos e a privacidade da sociedade, adotando um produto novo, responsável e que fomente a aproximação", destacou.
Mudança
Seguindo a proposta da busca por soluções, a metodologia das smart cities - ou cidades inteligentes - ainda é uma saída apontada por especialistas para melhorar a infraestrutura das cidades e tornar os centros urbanos mais eficientes. Contudo, no contexto das mudanças trazidas pelas tecnologias, o próprio conceito de smart cities pode vir a mudar com o tempo, na opinião de Savoldi.
"Essa definição de smart cities vai mudar, com base na percepção que teremos do impacto da tecnologia. De fato, há cinco anos, as definições eram baseadas sobretudo na eficiência e integração de dados, mas nos últimos dois anos essas definições começaram a incluir o poder do cidadão", disse a doutoranda.
Para ela é necessário fomentar sistemas de acessos abertos, onde os dados podem ser usados pelas pessoas de forma acessível, compreensível e reutilizável. "Por um lado a smart city é vendida como um modelo de uma cidade resiliente, com serviços efetivos e qualidade de vida melhorada, mas ao mesmo tempo há de ter também uma aproximação mais crítica com as pessoas, feita por meio da tecnologia e sabendo como ela afeta cada um, para assim buscar soluções", declarou.
Francesca Savoldi palestrou na sede do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) sobre "Cidades Democráticas", dentro do tema "Cidades Inteligentes e Sustentabilidade Social" trazido pelo workshop promovido pelo Ibict.
Site: Agência Gestão CT&I
Data: 24/06/2015
Hora: 16h
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Autor: Leandro Cipriano
Link: http://www.agenciacti.com.br/index.php?option=com_content&view=article&id=7549:especialista-garante-cidades-inteligentes-tem-poder-de-transformacao-social&catid=3:newsflash