O negócio baseado em oferta de sistemas open source é uma receita para o fracasso e, para terem sucesso, os desenvolvedores de software adeptos ao modelo devem mover suas aplicações para a nuvem. Essa é a conclusão de Peter Levine, sócio da Andreessen Horowitz, empresa de capital de risco do Vale do Silício que apoiou iniciativas como Facebook, Skype, Twitter e Box enquanto ainda não passavam de startups.
Para o executivo, que também foi CEO da XenSource, a abordagem convencional atrelada ao conceito tem falhas: empresas de software open source que cobram por manutenção, suporte, garantias e indenizações por aplicativos ou sistemas operacionais disponíveis gratuitamente não conseguirão gerar receita suficiente para impulsionar sua perpetuação.
"Isso significa que essas organizações têm problemas para investir em inovação, passando a depender demais da comunidade para gerarem inovações", explica. Mas por que isso seria um problema? Afinal, o modelo baseado na comunidade se provou mais do que capaz de desenvolver software inovador e útil.
Limites de receita
A resposta é que sem o investimento adequado, as empresas de sistemas open source não são capazes de diferenciar seus produtos do código aberto no qual se baseiam. Isso reduz o incentivo de compra para um possível cliente, que poderia usar o código atual sem pagar nada. "No mínimo", argumenta Levine, "é algo que limita a possibilidade de mudança dos negócios, reduzindo seu potencial de receita. É um círculo vicioso".
O executivo cita como exemplo a Red Hat, que tem metade dos consumidores potenciais usando a Fedora (distribuição gratuita para Linux) e os demais usando a Red Hat Enterprise Linux (versão mantida à base de licenças). "Uma grande parte do mercado potencial é reduzida. Por que as pessoas deveriam pagar para a Red Hat?", indaga o especialista.
É possível argumentar que isso seria bom para os negócios, já que a disponibilidade de software de código aberto sem custo fornece uma competição às ofertas das empresas, baseando-se no mesmo código e assegurando que sejam vendidas a preços razoáveis. Na outra ponta, é uma oportunidade para ampliar presença dentro da base usuária.
Porém, na prática, não é assim que acontece. Quando as companhias não conseguem monetizar efetivamente seus produtos para investir em inovação, clientes corporativos potenciais não podem se beneficiar dos frutos desse aperfeiçoamento -- o que não é nada bom.
Concorrência desnivelada
O problema se intensifica quando lembramos que os produtos das empresas open source não concorrem unicamente com o software gratuito no qual suas soluções são desenvolvidas. Pelo contrário, é comum que disputem mercado com produtos semelhantes vendidos por empresas de software proprietário. O desnivelamento é claro.
As receitas magras que as empresas de código aberto conseguem gerar com assinaturas não chegam aos pés do número de vendas colossal e verbas robustas de marketing dos competidores de software proprietário.
Isso é importante porque, mesmo caras, iniciativas de marketing são efetivas. Se não fossem, as companhias não gastariam dinheiro com elas.
Como resultado, as empresas de open source perdem em vendas mesmo quando seu produto é superior, porque ter a melhor oferta nem sempre é suficiente, é preciso convencer os clientes a comprá-la por meio de campanhas publicitárias.
Na opinião de Tony Wasserman, professor na Carnegie Mellon University, o problema é que, ao comprar um novo software, "as empresas de código aberto não levarão o cliente para jogar golf", citando uma tática comercial bastante comum no mundo corporativo.
Para Levine, é impossível que elas disputem com as companhias de software proprietário em iguais condições. "Se você olhar para a Red Hat, MySQL, KVM... em todos os casos onde há um fornecedor proprietário concorrendo, ele terá mais fôlego nos negócios e muito mais receita que os demais", expõe.
O executivo observa que a Red Hat ilustra bem o problema. Com seus sistemas operacional e de virtualização, a empresa é tida como o modelo para empresas open source, mas sua receita total é cerca de um terço da verificada pela VMware e um quarenta avos se comparada com a da Microsoft.
Futuro híbrido
Levine conclui que a maneira viável para que organizações faturem sobre software de código aberto é abandonar o modelo padrão de oferta de suporte e manutenção à base de assinaturas, usando o produto como uma plataforma na qual construir ofertas de software como serviço (SaaS).
"É possível rodar uma aplicação SaaS usando a Fedora como base e então criar produtos proprietários sobre ela, vendendo-o. A monetização iria para o produto SaaS, não para o de código aberto", sugere. "Acredito que veremos um aumento no número de ofertas híbridas desse tipo".
Ele assinala que muitas companhias de SaaS (incluindo Salesforce, Digital Ocean e GitHub) já usam a mistura de open source e software proprietário para projetarem seus serviços, com o Facebook sendo a maior empresa de código aberto dentre todas. "Eu fiquei chocado ao perceber isso. O Google é provavelmente a segunda maior", pontua.
O Facebook desenvolve e usa software open source na infraestrutura da rede social, adicionando seu software proprietário para monetizar serviços. O Google também gera um grande volume de código aberto para infraestrutura, embora seu software de busca e publicidade seja proprietário.
Enquanto a existência de programas disponíveis para download gratuito sem dúvidas dificulta que as empresas promovam a monetização do mesmo software com a adição de suporte e manutenção, eles também prejudicam as tentativas de comercialização de produtos no mesmo mercado para fornecedores de software proprietário.
Isso acontece porque a existência das alternativas de baixo ou nenhum custo necessariamente reduzem o mercado para as alternativas pagas, mesmo que elas tenham receita e verba de marketing suficientes para diferenciar e anunciar seus produtos.
Em partes, o fato ajuda a explicar a migração das ofertas de empresas de software proprietário para a nuvem, assim como a criação de alternativas de SaaS.
Um produto maduro como o pacote Office pode ser facilmente replicado por uma versão gratuita, como a LibreOffice, motivando a Microsoft a desenvolver o Office 365 que, baseado em nuvem, usa as funcionalidades básicas do modelo clássico e adiciona serviços extras, como o armazenamento de arquivos, integração de Active Directory e aplicativos móveis.
Isso torna a ferramenta muito mais difícil de ser copiada, independentemente da abertura de seu código. Isso pode sugerir uma tendência de migração em massa para ofertas de software em nuvem, não somente das empresas open source.
Site: Computerword
Data: 14/07/2015
Hora: 8h30
Seção: Negócios
Autor: ------
Link: http://computerworld.com.br/por-que-o-modelo-de-negocios-de-fornecedores-open-source-falha