Recebido pelo Laboratório Nacional de Computação Científica (LNCC/MCTI) no começo de julho, o maior supercomputador da América Latina pautou palestra do tecnologista Roberto Souto no pavilhão do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI) na 67ª Reunião da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), no campus da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar).
A máquina é petaflópica, ou seja, tem capacidade para realizar mais de 1 quatrilhão de operações matemáticas por segundo. "Realmente, trata-se de um computador muito grande e poderoso para aplicações científicas, que vai permitir a processadores nacionais, em colaboração com processadores de outros países, fazer pesquisas até então inimagináveis", explicou Souto.
Batizado como Santos Dumont, o supercomputador está sendo montado no LNCC, em Petrópolis (RJ), e sua estrutura física deve remeter ao chapéu-panamá do aviador brasileiro. Segundo o tecnologista, a montagem está prevista para ser finalizada em agosto, com fase de testes, e a máquina pode estar disponível para a comunidade científica brasileira em setembro.
Souto apontou o equipamento como o futuro "nó principal" do Sistema Nacional de Processamento de Alto Desempenho (Sinapad), rede de centros de computação distribuídos pelo Brasil e coordenada pelo LNCC, com apoio da Rede Nacional de Ensino e Pesquisa (RNP).
Aplicações
O tecnologista detalhou possíveis avanços em áreas de pesquisa como bioinformática, meteorologia e prospecção e exploração de petróleo. A máquina seria capaz, por exemplo, de tornar ainda mais rápido e preciso o trabalho do Centro de Previsão de Tempo e Estudos Climáticos (CPTEC) do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe/MCTI), que já possui o supercomputador Tupã.
A busca por petróleo em águas profundas também deve evoluir com o Santos Dumont. "Uma área que vai ter grande desenvolvimento é a simulação de reservatórios do pré-sal", disse Souto. "Existe um grupo de pesquisadores que trabalha na modelagem de escoamento de fluidos em meios porosos. Esses modelos são muito bem feitos, mas têm limitação pelo tamanho do domínio que conseguem simular. Com essa capacidade computacional, eles vão ter condições de simular um reservatório próximo da dimensão real."
Em bioinformática, de acordo com o tecnologista, sequenciamentos de genoma que demoram cerca de 40 dias passariam a ocorrer em três ou quatro dias. Ele ainda prevê benefícios para a área de modelagem molecular, que possibilita o desenvolvimento de novos fármacos. "Então, é um computador que não só vai permitir rodar atividades existentes, que já vem rodando, em tempo mais curto e com mais precisão, mas resolver problemas que até então as pessoas nem imaginavam que poderiam resolver, porque não havia recurso disponível."
O equipamento pode, inclusive, evitar que projetos brasileiros sejam viabilizados apenas ao passar pelo exterior. "Muitas vezes, era necessário alocar recursos para rodar uma máquina nos Estados Unidos, na Alemanha ou na França, a fim de desenvolver uma pesquisa em colaboração", contou. "Geralmente, acontecia de as patentes ficarem compartilhadas com aquela instituição que cedia o processamento. Você tinha todo o trabalho de desenvolvimento, de modelagem, e esse colaborador ficava como coautor da patente."
Liderança
O Santos Dumont ocupa três das seis posições brasileiras no ranking semestral do site Top500, atualizado há menos de um mês. Até junho do ano passado, segundo Souto, o País aparecia quatro vezes na classificação, com três máquinas da Petrobras e uma do Centro de Supercomputação para Inovação Industrial do Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (Senai Cimatec), em Salvador.
"Pela lista que saiu agora, o Brasil tem seis inserções entre os 500 supercomputadores mais rápidos do mundo", informou o tecnologista. "O do Cimatec permaneceu, ao lado de dois da Petrobras, somados a três referentes só a essa máquina nova, porque na verdade o Santos Dumont contém três tipos de nó de processamento, como se fossem três máquinas reunidas numa só. Essas três máquinas perfazem uma entrada cada na lista do Top500."
Quem tiver interesse em usar o supercomputador deverá pedir ao Sinapad. "O pesquisador vai ter que submeter uma proposta e um comitê científico vai analisá-la, pois haverá determinados requisitos para rodar a máquina", adiantou. "Não vai ser uma máquina de uso exclusivo do LNCC. Aliás, ela não é do LNCC. Vai estar disponível para quem possuir um sistema que demande uma grande capacidade computacional." Os visitantes da ExpoT&C da 67ª SBPC podem saber mais no estande da instituição.
Transferência
Parte do Programa Estratégico de Software e Serviços em Tecnologia da Informação (TI Marior), a aquisição do supercomputador deriva de acordo do MCTI com o Ministério francês da Educação Superior e Pesquisa, assinado em dezembro de 2013, durante encontro dos presidentes Dilma Rousseff e François Hollande. A Financiadora de Estudos e Projetos (Finep/MCTI) aportou ao projeto R$ 60 milhões do Fundo Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (FNDCT).
A concepção é da empresa francesa Bull, fundida em 2014 com sua compatriota Atos. Souto lembrou que o acordo prevê como contrapartida a transferência de tecnologia e a instalação de dois centros de pesquisa, um em Petrópolis, em parceria com o LNCC, e outro no Instituto Alberto Luiz Coimbra de Pós-Graduação e Pesquisa em Engenharia (Coppe), no Rio de Janeiro.
Fonte: MCTI
Site: Ministério da Ciência Tecnologia e Inovação
Data: 15/07/2015
Hora: 19h08
Seção: ------
Autor: ------
Link: http://www.mcti.gov.br/visualizar/-/asset_publisher/jIPU0I5RgRmq/content/publico-da-sbpc-conhece-maior-supercomputador-da-america-latina;jsessionid=68999E30AB2B9D14871E6E76DD901E2B?redirect=/&