Há alguns dias, o blogueiro Aidan Finn postou trechos de um email da Microsoft anunciando um aumento de 13% nos preços de seus serviços em nuvem na região europeia. A notícia provocou um furor e alimentou a especulação quanto ao futuro do mercado de cloud computing.
Em seu artigo “Surpresa! O custo da nuvem vai subir!”, a jornalista da Fortune, Barb Darrow, aconselhou as empresas acostumadas a sucessivas quedas de preço nos serviços a se prepararem para uma mudança.
O vice-presidente sênior da Cloud Technology Partners, David Linthicum, concordou com o ponto de vista em seu blog. “Suspeito que registraremos mais aumentos de preço em 2015 e 2016”, comentou, atribuindo isso à pressão que recai sobre os provedores para fazerem dinheiro com as ofertas e não só conquistar percentual de mercado.
“Com as margens de lucro reduzidas, o aumento dos preços é a única maneira de aumentar o fluxo de caixa uma vez que a demanda caminha para um crescimento sólido. Uma vez conquistada a fidelidade dos clientes, os provedores devem aumentar os preços como fizeram as fabricantes de software com as licenças corporativas”, argumentou.
Para o analista da 451, Owen Rogers, o aumento tem outra razão: taxas de câmbio. “Nós acreditamos que essa alta nos preços seja uma eventualidade causada pelas flutuações da moeda”, comentou.
“Entendemos que os serviços em nuvem, principalmente de infraestrutura como serviço, continuarão reduzindo seus custos nos próximos anos. Antecipamos que muitos provedores de absorverão as flutuações de moeda, reduzindo temporariamente as margens brutas de alguns de seus serviços, mas mantendo o preço competitivo”, declarou.
Na opinião de Aidan Finn, as taxas de câmbio também são culpadas. “A Microsoft anunciou por email que o preço da Azure na zona do euro aumentará em 13%. Isso não surpreende, com a queda da moeda nos últimos seis meses motivada pela Grécia”.
É provável que a desvalorização do euro tenha levado à redução das receitas da Azure, podendo responder pela mudança nos preços.
Mau presságio?
Talvez a verdadeira pergunta diz respeito às implicações da decisão da Microsoft. Ela sinalizaria um revés da tradicional queda dos preços de cloud computing? Deveriam os usuários atuais e potenciais reavaliar o custo de implementação desses serviços? Mais do que isso, a alta nos preços será repetida pelos demais provedores?
A resposta é que não é impossível, mas improvável. O mercado é emergente e os consumidores ainda tomam as decisões iniciais que prometem se tornarem escolhas de fornecedores para longo prazo. Aumentar os preços em um mercado novo costuma afastar clientes potenciais, especialmente os que encaram o baixo custo como uma característica fundamental do setor.
Dificilmente a Amazon aumentará seus preços. A empresa possui uma estratégia ampla, em grande parte baseada em preços baixos e aumentá-los em resposta a taxas desfavoráveis de câmbio não condiz com a filosofia. Além disso, os dados financeiros da AWS divulgados em abril mostram que a oferta na nuvem da Amazon possui margem suficiente para absorver o impacto das mudanças na moeda.
Mesmo se o cenário só piorar nos próximos 3 a 5 anos, o custo para a operação de serviços básicos de cloud computing ainda cairá. Algumas empresas podem usar a redução como oportunidade de aumentar suas margens de lucro, mas alguns provedores, como a AWS e o Google, abominam essa abordagem e reduzem os preços de modo a condizerem com a redução de custos internos.
David Mytton, fundador da Server Density, defendeu que os serviços básicos na nuvem (como armazenamento e redes) são ofertas de commodities e tendem à competitividade, relacionando-se com os custos internos. Em outras palavras, as empresas são levadas a abaixarem o preço para serem competitivas e é improvável que a decisão da Microsoft acarrete uma tendência geral.
Para Aidan Finn, a ação da Microsoft não se justifica. Ele alegou que a taxa de câmbio não deveria ter grande efeito, já que a Azure cobre seus custos na Europa em euros. Assim, se a moeda desvaloriza, a receita diminui, mas o valor para operar a plataforma também. Logo, os dois deveriam se anular e o único montante sujeito a flutuações monetárias seria o dinheiro revertido em dólares aos Estados Unidos após conversão.
Não é tão simples assim. Grande parte da receita está atrelada a investimentos em capital, custeou a operação no passado com o euro mais valorizado. O montante de hoje em dia precisa ser aplicado em relação a esses custos. Com ele valendo bem menos, isso significa que uma parte maior deve se aplicar à taxa de câmbio. Em última instância, a variação monetária afeta mais do que somente a diferença entre custo e receita na Europa.
Uma questão de timing
Aumentar os preços é uma decisão estranha da Microsoft. A curto prazo, ela pode ser desastrosa, levando clientes potenciais a buscarem outro provedor. A mudança só faria sentido se Amazon, atual líder do mercado, acompanhasse a tendência, o que não deve acontecer.
A decisão é especialmente estranha para um mercado em ascensão. Os clientes tomando decisões hoje tendem a mantê-las por anos e é curiosa a escolha de abrir mão de uma base longeva de consumidores para evitar perder dinheiro na atual conjuntura.
A ação também surpreende após o esforço da Microsoft para chegar à vice-liderança do setor. Aumentar os preços deve levar o consumidor a migrar para a AWS, maior competidora. Tradicionalmente, as empresas reduzem seus preços para concorrer com a líder. Com sua mudança, a Microsoft reverteu essa lógica.
O que mais assombra é a motivação. Comparada à Amazon, a Microsoft possui verbas virtualmente inesgotáveis, então por que não tirar vantagem delas? Nesse cenário, ao invés de aumentar os preços, a companhia deveria reduzi-los ainda mais, sangrando as receitas e o potencial de mercado da Amazon -- estratégia idêntica a do Google.
É possível especular que a divisão da Azure elevou os preços seguindo a tendência geral da Microsoft: a venda de pacotes de software responde por grande parte da receita da empresa e, embora não enfrente grande pressão dos concorrentes, não cresce com tanta velocidade. Pensando assim, seria importante para a companhia ajustar os preços europeus, levando à situação atual.
Site: Computerworld
Data: 17/07/2015
Hora: 16h07
Seção: Cloud Computing
Autor: ------
Link: http://computerworld.com.br/preco-de-tecnologias-em-nuvem-tende-aumentar-no-futuro