“A nova geração dificilmente compra CD’s, até mesmo porque não existem mais lojas físicas. A web 2.0 revolucionou não só a música como o vídeo e os conteúdos de entretenimento. Hoje é possível ouvir música pelo Youtube, saber o que seus amigos e até seus ídolos estão ouvindo. As tecnologias integraram as redes sociais e existem algoritmos de sugestão de música surpreendentes”, afirma Marcos Chomen, representante do CD Baby na América Latina, plataforma de distribuição de música digital, que participa do painel “Integração Música e TI”, durante o Rio Info 2015. A CD Baby representa cerca de 360 mil artistas independentes em todo o mundo, em diferentes plataformasstreaming e de download de músicas com o iTunes, Youtube, Spotify, AmazonMP3, entre outras.
Segundo Marcos, a indústria da música no Brasil demorou para investir no mercado digital por falta de conhecimento do processo de distribuição digital e resistência ao novo. Hoje, pagando uma mensalidade, o usuário tem acesso a um grande catálogo de músicas. “O principal desafio agora está em conquistar e educar o público, para que ele compreenda que por R$ 10,00 mensais, por exemplo, ele tem acesso a 30 milhões de músicas em alta qualidade para ouvir a qualquer hora e em qualquer lugar. Por outro lado, as empresas de telefonia têm que melhorar o serviço de banda larga e expandir para todo o território nacional. Temos ainda muitas cidades onde o acesso é precário, ou sequer existe”.
As vendas de música digital – via streaming ou download – cresceram 6,9% em todo o mundo, e chegaram aos US$ 6,85 bilhões em 2014, de acordo com a IFPI. O Brasil já representa o maior mercado de música digital da América Latina, com crescimento de 2% no ano passado. Segundo Marcos, isso mostra a necessidade do mercado de música agregar o formato digital como mais um meio de divulgar e vender música. “Os CDs vão ficar cada vez mais restritos, assim como a volta do vinil, para um público específico que quer um encarte, uma capa, enfim por vários motivos. Mas o modelo físico não vai voltar como era, pois o custo é alto, os estoques são caros e obviamente a facilidade de ouvir o seu artista em qualquer lugar e qualquer hora é imbatível. Seu smartphone hoje é sua central de entretenimento.”
Música independente – Grande parte do segmento de música digital tem sido abocanhada por artistas independentes, que viram as plataformas digitais como uma grande alternativa às gravadoras, que ainda priorizam a música popular. “A música independente ganhou espaço em todo o mundo. O Brasil adotou tardiamente, mas, felizmente, os artistas entenderam que não necessariamente precisam de uma gravadora para avançar em sua carreira. As gravadoras continuam no mercado, mas com a crise focam agora só no ‘mainstream’, somente no que vai dar retorno financeiro. Dificilmente esse cenário vai se inverter, hoje o independente tem todas as ferramentas necessárias para seguir em frente”.
A distribuição independente também tem permitido quebrar paradigmas e, em alguns casos, inverter a trajetória da carreira de artistas que apostam no mercado independente. “Temos muitos artistas que iniciaram com o CD Baby, como Jack Johnson, Gary Clark Jr. e Macklemore, e depois assinaram com gravadoras. Assim como temos vários que estavam em gravadoras e foram para o CD Baby distribuir independente. E ainda artistas que começaram e continuam independentes. Não há caminho certo a seguir. Depende do que você quer como artista, do seu estilo. Não existem regras”.
Segundo Marcos, hoje o artista independente precisa pensar como um empreendedor. “Viver de música não significa ser um popstar. É uma profissão, um meio de vida e também uma paixão. O modelo mudou, o artista vai lucrar com a venda digital, merchandising, sincronização, vídeos, branding, CD, vinil, execução pública, shows, cassete e até cerveja ou vinho com a marca do artista. O artista independente tem que pensar como uma empresa, isso não significa que ele vai fazer tudo, mas deve contratar pessoas e empresas para estas atividades”.
Novo modelo de negócios – Embora as plataformas streaming sejam a nova onda do mercado de música, o grande desafio é descobrir o melhor modelo de negócios que valorize o trabalho do artista. “Para o usuário final o serviço destreaming é uma maravilha, porém, para os artistas, nem tanto. Com mais de 43 milhões de audições, a música “Happy”, de Pharrell Williams, por exemplo, rendeu ao artista menos que U$ 3 mil. Alguns serviços de streaming focam somente no consumidor final tornando seu modelo de negócios pênsil, desequilibrado e pouco sustentável”, afirma Dauton Janota, diretor da Pleimo, serviço de streaming com mais de onze milhões de músicas e presente em 135 países.
A Pleimo, que recentemente iniciou suas operações no Brasil, promete um serviço diferenciado de remuneração do artista, que detêm 100% dos direitos arrecadados sobre as execuções e oferece sistema em que o fã pode ajudar a “financiar” o seu artista favorito com parte do valor de sua assinatura mensal. “Quando se tem um modelo de negócios onde todos ganham é fácil entender que não haverá haters – nestas circunstâncias – à nossa empresa”, afirma.
No caso da distribuição, segundo Marcos, este conceito também já é colocado em prática pela CD Baby. “Ao contrário das gravadoras que ficam com grande parte dos lucros, pagamos semanalmente 91% do líquido de vendas em todas as lojas e streamings diretamente para o artista ou seu representante. O artista ainda tem acesso aos dados das vendas em detalhes por loja, streaming, país, entre outras informações relevantes, em nosso site”.
Apesar dos avanços, segundo Dauton, o Brasil ainda tem recebido com certa resistência este novo formato. “Em tese, estamos vivenciando os primórdios dostreaming no Brasil para se pensar em algo mais evoluído. Ainda é difícil fazer entender que o streaming veio para ficar num país onde a contrafação de direitos autorais é alarmante. Ainda assim, a tendência é ter tudo em seu bolso, com praticidade e custo baixo.”
Também participarão do painel “Integração Música e TI”, durante o Rio Info, no dia 15 de setembro, os palestrantes convidados: Marinilda Bertolete, do Midem, e Robert Singerman, diretor da Make Music New York e da Marcato Digital, Eduardo Andrade, especialista em Soluções de Áudio da AVID, Felipe Llerena, diretor da Nikita Music, Rafael Belmonte, diretor da Netshow e Rafael Pissurno, diretor da BRtrax. Além dos moderadores Heliana Marinho da Silva, gerente de Economia Criativa do Sebrae-RJ, e Pedro Sá Moraes, músico, agitador cultural e apresentador do programa Rádio Chama, na rádio Roquette Pinto FM.
Fonte: Rio Info