O desafio da inovação no Brasil é um tema recorrente e, como mostrado em série de reportagens da Agência CT&I, ainda está longe de ser solucionado. Os percalços ainda são muitos, mas possíveis de serem atravessados. Uma das questões principais trata sobre o papel da iniciativa privada para o desenvolvimento deste setor.
Na avaliação do ministro da Ciência, Tecnologia e Inovação, Aldo Rebelo, é preciso criar as condições fundamentais para que o empresariado se interesse em investir em novos produtos processos e serviços. Em entrevista à Agência Brasil, o dirigente foi claro: “Não tem como inovar sem a iniciativa privada”. Até porque, segundo ele, as descobertas da ciência pura só trazem benefício coletivo quando produzidas para a sociedade.
“A inovação é sempre para uma determinada finalidade, econômica ou social, o resto é ciência pura. Se o Butantã desenvolve uma vacina, por exemplo, traz um benefício social. Mas para produzi-la em larga escala, precisa da indústria. Também não existe um projeto espacial sem indústria espacial. Sem dinheiro público não se faz, então o governo tem que liderar e criar a indústria. Além da geração de empregos de alta tecnologia e tributos, os desdobramentos das pesquisas podem ter utilidade muito vasta para fins industriais, civis e médicos”, afirmou Aldo.
Uma das alternativas destacadas pelo ministro para alavancar o investimento de capital privado em inovação foram as renúncias fiscais. Ele citou programas como o Inovar Auto e o Inova Empresa, além do advento da Lei do Bem. O titular do MCTI estimou que a renúncia de tributos rondou entre 10% e 15%.
“O resto é a empresa que faz. Quando incentivada, a empresa faz”, garantiu o ministro, que defendeu a criação de mais parques tecnológicos. “A instalação de parques tecnológicos também é uma aposta. Os parques reúnem as condições para a economia de alta tecnologia, ao colocar no mesmo passo empresas, incubadoras, startups e mão de obra qualificada”, completou.
Espaço
O dilema brasileiro na área espacial também teve destaque na entrevista de Aldo Rebelo. O ministro defendeu o fim do acordo com a Ucrânia para a construção de um lançador de foguetes, uma vez que um estudo feito entre o MCTI, o Ministério da Defesa e o Ministério de Relações Exteriores (MRE) constatou que os valores envolvidos inviabilizavam a empreitada comercialmente. Além disso, não havia transferência de tecnologia para a construção do foguete no País.
“Nós ainda tentamos. Oferecemos que a Ucrânia fizesse o foguete por conta própria, usando a nossa base. Mas nós não tínhamos interesse em continuar porque não íamos ter lucro e iríamos subsidiar a construção do foguete para nós mesmos lançarmos”, observou.
Aldo lembrou ainda que o País trabalha na construção de acordos com outras nações na área de lançamento de foguetes. O principal parceiro é a China, com quem o Brasil desenvolve o programa Cbers. Com a França, o acordo envolve o desenvolvimento e construção do Satélite Estacionário de Defesa e Comunicações Estratégicas. O trabalho com a Alemanha envolve a construção de um pequeno lançador de pequenos satélites. Há ainda um acordo de assistência técnica para a construção do veículo lançador de satélites com a Rússia. Por fim, o governo brasileiro trabalha para retomar o acordo de salvaguardas para fazer lançamentos com os Estados Unidos.
“O Brasil tem dois objetivos. Um deles é ter a missão espacial completa, ou seja, termos condição de lançar um satélite projetado e fabricado pelo Brasil, com um foguete e a base de lançamento nacional. O outro é emprestarmos a nossa base para o foguete de um país e o satélite de outro, que vem nos pagar aluguel por isso. Outro tipo de acordo é o Brasil ter um satélite, outro país ter um foguete e lançarmos daqui. Tudo é possível com acordos de salvaguardas, que são acordos comerciais, sem objetivo de transferir tecnologia”, explicou o titular do MCTI.
*Com informações da Agência Brasil
Site: Agência Gestão CT&I
Data: 04/08/2015
Hora: 9h40
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