O Brasil está na vanguarda da proteção de dados digitais. O Marco Civil da Internet, sancionado no ano passado pela presidente Dilma Rousseff, dá ao País o status de ter uma das legislações mais modernas do mundo sobre o tema. Ainda assim, é preciso avançar na questão da cibersegurança. O tema foi tratado por especialistas brasileiros e alemães em encontro promovido pela Câmara de Comércio e Indústria Brasil-Alemanha (AHK), em Brasília (DF). Mesmo diante dos avanços promovidos pela legislação brasileira, a avaliação é de que é necessária uma maior sinergia para consolidar as ações do setor.
Um dos motores desse movimento é a abertura de diálogo entre governo, iniciativa privada e sociedade civil. Para tanto, quatro pontos principais devem ser destacados: cooperação, um marco legal eficaz, parcerias e coordenação. Esta é a avaliação do general Marconi Bezerra, diretor do Departamento de Segurança da Informação e Comunicações do Gabinete de Segurança Institucional (GSI) da Presidência da República.
“Precisamos de cooperação em diversos setores de governo, sociedade, empresas, etc. Precisa de um marco legal eficaz, que os servidores possam cumprir. Precisamos de parcerias no setor privado e no setor público. Temos alcançado isso por meio do Comitê Gestor da Internet e diversos órgãos públicos e privados. Contudo, é preciso ter alguém para que coordene e some esses esforços, para que não tenhamos iniciativas isoladas que possam estar fora do contexto, mas que tenham uma coordenação central”, resumiu.
Para o secretário de Logística e Tecnologia do Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão (MPOG), Cristiano Heckert, as dificuldades de articulação no âmbito governamental precisam ser superadas. Além disso, ele defende uma maior liberdade de ação para os agentes públicos.
“Temos que deixar de ser um governo que faz políticas para a sociedade e passar ser um governo que faz políticas com a sociedade. Precisamos, falando de administração pública no Brasil, desenvolver um ambiente em que empodere mais as pessoas e que permita que o servidor público inove. O que elas encontram muitas vezes é um ambiente que não as permite implementar aquilo que elas gostariam e que fazem na sua vida privada”, disse Heckert.
Antecipação
Responsável global por Relações Governamentais da multinacional alemã SAP, Andreas Tegge acredita que a questão tem uma amplitude maior. O europeu defende uma atuação ampla na área econômica. Não só no aumento do volume de gastos relacionados à grande rede, mas uma verdadeira digitalização da economia. Segundo ele, é fundamental que as nações se antecipem a problemas futuros.
“Um líder político de um país precisa compreender que esse é um problema de magnitude. O que você precisa é construir uma estratégia com base nos ativos e desafios específicos de cada nação. O que você quer conduzir digitalmente? Na perspectiva europeia, que também é válida para o Brasil, é tentar se antecipar à indústria da internet. Tudo bem, não podemos alterar a dominação dos EUA no consumo da grande rede, mas podemos vencer na indústria da internet e isso é muito mais importante. Competitividade para criar empregos, para gerar inovação. Para fazer progressos nessa área é necessário isso digitalizar todos os setores da economia”, defendeu o executivo.
Questões econômicas
A despeito da necessidade de ampliar a preocupação com a cibersegurança, o governo brasileiro só passou muito recentemente a destinar verba exclusivamente para estas atividades. Em maio, o SGI publicou a estratégia de segurança cibernética nacional até 2018, já com dotação orçamentária prevista em vários ministérios e órgãos públicos.
“A partir deste ano, acredito que foi mais um grande passo nesse sentido de motivar os órgãos públicos de que precisa-se realmente investir e que o recurso venha específico para se investir naquela área de segurança”, observou o general Marconi Bezerra.
Na avaliação de Cristiano Heckert, dificuldade econômica do Brasil pode representar uma virada na questão do orçamento destinado à tecnologia. O representante do MPOG acredita que investir nesta área pode representar um ganho de produtividade para o País. A economia de papel e de redução da burocracia foram listadas como medidas implementadas já comprovadamente efetivas, segundo ele.
“E o momento de contração ou restrição com esse que estamos vivendo, pode ser encarado como uma oportunidade. Acho que é justamente a oportunidade do Estado se tornar mais eficiente, se tornar mais ágil, e aí a tecnologia aparece como um habilitador desse processo. Isso reflete diretamente em produtividade”, resumiu.
Site: Agência Gestão CT&I
Data: 05/08/2015
Hora: 18h35
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Autor: Vicente Melo
Link: http://www.agenciacti.com.br/index.php?option=com_content&view=article&id=7753:questao-da-seguranca-digital-no-brasil-envolve-muito-mais-que-criar-legislacoes&catid=3:newsflash