MADRI - A recuperação da economia brasileira é uma questão de meses. A afirmação foi feita nesta segunda-feira pelo ministro da Fazenda, Joaquim Levy, durante o seminário “Infraestruturas, o estímulo da economia brasileira”, realizado em Madri. O ministro afirmou também que os resultados do ajuste fiscal aparecerão mais rápido aqui do que na Espanha, mas que é preciso ter paciência para colher os benefícios. Além disso, disse que o Brasil está bem preparado para lidar com qualquer volatilidade do mercado resultante de uma alta na taxa de juro dos Estados Unidos.
— A recuperação é uma questão de meses exatamente porque o governo tem tido a força de tomar as medidas necessárias a curto prazo.
O ministro afirmou que o foco é completar programas como “Minha casa minha vida”, preservando-o dentro do Orçamento de 2016, “sem entrar necessariamente em grandes novos projetos” .
— É preciso ter muita humildade para entrar em novos gastos. Temos que pensar em como lidar com as despesas obrigatórias. Não é questão de corte linear destas despesas, mas pode-se melhorar a eficiência na hora de executar certos serviços determinados pela lei. Evitando duplicidade de programas, podemos fazer economias importantes para dar sustentabilidade.
MINISTRO NEGA DIFICULDADES NO GOVERNO
Perguntado sobre os problemas que vem enfrentando no governo, o ministro negou que haja qualquer dificuldade. E, desconversou quando o assunto foi a especulação sobre sua saída do governo.
— Estou saindo, porque agora tenho uma reunião.
Levy, no encontro em Madri, ressaltou a importância da atual “agenda de cooperação legislativa”, na qual os impostos indiretos e a revisão da Previdência Social são prioridades.
— Simplificar a maneira que o valor agregado funciona diminui a insegurança jurídica. E também está na agenda criar um horizonte de novas regras na Previdência Social. Não é um novo modelo, mas acertaremos certas coisas.
Levy também tentou tranquilizar os investidores espanhóis, dizendo que os resultados colhidos no Brasil, depois do período de ajustes, “virão mais rápido do que na Espanha”, que entrou em crise em 2007/2008 e só agora começa a mostrar sinais de recuperação. Eesclareceu que o governo ainda está analisando possíveis gastos a serem reduzidos na máquina do Estado.
— A própria questão do número de ministérios está sendo discutida. A gente tem que rever processos como a judicialização de algumas despesas — disse Levy, em um evento com empresários espanhóis.
De acordo com jornal “El País”, Levy afirmou que a economia espanhola, que este ano deve crescer 3,1%, tornou-se uma referência para o Brasil. O país europeu, assim como o Brasil faz agora, teve de passar por anos de sacrifício depois da crise financeira de 2009.
— A Espanha teve determinação de cortar gastos e ajustar receitas durante a crise e agora cresce — disse Levy no seminário, de acordo com o “El País”.
Ainda segundo o jornal espanhol, mais uma vez Levy afirmou que o mantra dos países em crise é: primeiro o custo do ajuste, e depois os ganhos.
— No Brasil nos encontramos nesse estágio. É preciso paciência para colher os benefícios — disse o ministro brasileiro.
A economia brasileira entrou em recessão oficialmente ao encolher mais do que o esperado no segundo trimestre, com contração da indústria, serviços e agricultura, assim como queda nos investimentos e consumo das famílias, pavimentando ainda mais o caminho para o país fechar 2015 com o pior desempenho da atividade em 25 anos. Entre abril e junho, o Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil encolheu 1,9% sobre os três meses anteriores e caiu 2,6% na comparação anual, conforme informou o IBGE no fim de agosto.
— Austeridade sozinha não resolve. É indispensável, necessária, mas não é a única saída — afirmou Levy, segundo o “El País”, lembrando que a Europa só conseguiu sair do labirinto em que se encontrava quando houve o resgate aos bancos em 2011. — Enquanto não se criaram mecanismos bancários, a crise parecia não ter fundo.
Apesar de todo esse cenário, para Levy, o Brasil está bem preparado para lidar com qualquer volatilidade do mercado resultante de uma alta na taxa de juro dos Estados Unidos, porque os bancos brasileiros foram bem capitalizados e têm grandes reservas cambiais.
— Isso nos assegura que, mesmo se começar uma volatilidade após o início de ajustes na taxa de juro dos EUA, e haverá volatilidade, porque hoje o mercado está menos fluido e não fazemos o trabalho que costumávamos fazer para absorver os choques, no Brasil estamos bem preparados para enfrentar esse primeiro período de volatilidade — disse Levy.
O ministro da Economia espanhol, Luis de Guindos, em discurso no mesmo evento, disse que um aumento da taxa nos EUA poderia produzir certa volatilidade e incerteza, mas acredita que o Federal Reserve (Fed, banco central americano) fez um bom trabalho na preparação do terreno para um aumento.
— Não acho que vai ter um impacto significativo (na economia espanhola) — afirmou ele no evento organizado pelo jornal espanhol “El País”.
Muitas economias emergentes estão preocupadas que uma alta na taxa do Fed desencadeie grandes saídas de capital, criando uma turbulência no mercado que prejudicaria o crescimento.
Site: O Globo
Data: 07/09/2015
Hora: 9h50
Seção: Economia
Autor: Priscila Guilayn
Link: http://oglobo.globo.com/economia/para-levy-recuperacao-do-brasil-questao-de-meses-17421858