Empreendedor precisa ter visão internacional e rede de contatos

29/10/2015

Vitor Andrade, da Start-Up Brasil: "Além de dinheiro, as novatas precisam de mais conexão com o mercado e investidores"

O universo das startups brasileiras está em ebulição. Investimentos públicos e privados em programas de capacitação, aceleração e eventos de relacionamento promovem negócios, parcerias e processos de internacionalização. "O empreendedorismo chegou, de fato, à universidade", afirma Felipe Matos, fundador da aceleradora de empresas Startup Farm. A afirmação do investidor baseia-­se na própria experiência e em dados da Endeavor. Pesquisa da instituição mostra que 62% dos universitários brasileiros querem abrir o seu próprio negócio.

As estratégias de fomento e a maior participação do capital privado estão ampliando o volume de empresas nascentes de base tecnológica, o que motiva o empreendedorismo. Segundo Matos, as novatas querem seguir os passos de brasileiras como Easy Taxi, 99 Taxi, NuBank, ViajeNet e Hotel Urbano ­ que captaram dinheiro e se tornaram ótimos negócios em seus segmentos. "Como o mercado de capitais diz: nós já temos nossos unicórnios."

A capacitação das empresas tem sido a principal estratégia seguida para ampliar o volume de negócios promissores no país. No ecossistema da inovação, transformar criatividade e competência técnica em produtos e serviços depende de conhecimento de mercado, visão internacional e elaboração de projetos capazes de encantar o investidor. "Em geral, o empreendedor não está preparado para enfrentar rodadas de negócios, questionamentos sobre seus produtos ou serviços e lançar­-se no mercado internacional", comenta Maycon Stahelin, coordenador do programa InovAtiva, do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (Mdic).

O InovAtiva é o que os técnicos do ministério chamam de um "banho de negócios" no empreendedor. O programa engloba empresas de diferentes segmentos, como tecnologia da informação e comunicação (TIC), saúde e robótica. "Oferecemos um programa robusto de treinamento", revela Stahelin. As startups acessam uma plataforma on­line com conteúdo específico. Ao terminarem a primeira etapa, inscrevem seus projetos, já formatados como negócios, e participam de um processo de seleção para receber quatro meses de mentoria individual. "Nesse momento, conectamos os empreendedores aos investidores e executivos que se voluntariam nessa capacitação", diz Stahelin.

A etapa seguinte compreende a seleção de empresas para o processo de aceleração. Desde 2013, mais de 2,4 mil empresas já se inscreveram no InovAtiva, cerca de 300 empresas receberam treinamento e quase 200 ingressaram no programa de aceleração. Além do acesso a uma importante rede de relacionamento, as novatas mais promissoras participam de eventos internacionais, realizados pelo Mdic, com foco na promoção de negócios inovadores.

No Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI), o programa de aceleração de empresas Start­Up Brasil ­ que é gerido pela Softex e tem parceria com aceleradoras em todo o país ­ trouxe uma nova dinâmica para o segmento de TIC, que viu o número de aceleradoras especializadas crescer substancialmente. "Além de dinheiro, as novatas precisam de mais conexão com o mercado e investidores", explica Vitor Andrade, coordenador do programa.

Na iniciativa, o MCTI abre processos seletivos para aceleradoras. Essas entidades serão responsáveis pelo acompanhamento e capacitação das empresas, que são selecionadas por meio de outro edital. "Nossa meta é ter aceleradoras em todo o país para ampliar o volume de startups atendidas", conta Andrade. O diferencial do programa está na internacionalização dos negócios, já que ele recebe empresas brasileiras e estrangeiras. "A inovação só faz sentido em uma base global. Temos de aprender com o intercâmbio de ideias."

Desde 2013, duas turmas de empreendimentos foram formadas no Start­Up Brasil. Ao todo, 1.617 empresas se inscreveram (sendo 414 estrangeiras). Deste total, 132 negócios (20 estrangeiros) foram selecionados para participar da iniciativa. Após a capacitação, 94 negócios foram apoiados (10 estrangeiros). Até agora, o investimento público somou recursos de R$ 17,5 milhões, as aceleradoras parceiras aportaram outros R$ 3,4 milhões e o total captado no mercado financeiro ultrapassou a cifra de R$ 47,5 milhões. As receitas geradas pelo grupo de empresas cresceram, em média, 37% na primeira turma e 174% na segunda. "Os números mostram que temos potencial para criar negócios modernos e inovadores", conclui.

 

Site: Valor Econômico
Data: 29/10/2015
Hora: 5h
Seção: Empresas
Autor: Ediane Tiago
Link: http://www.valor.com.br/empresas/4291494/empreendedor-precisa-ter-visao-internacional-e-rede-de-contatos