Vitor Andrade, da Start-Up Brasil: "Além de dinheiro, as novatas precisam de mais conexão com o mercado e investidores"
O universo das startups brasileiras está em ebulição. Investimentos públicos e privados em programas de capacitação, aceleração e eventos de relacionamento promovem negócios, parcerias e processos de internacionalização. "O empreendedorismo chegou, de fato, à universidade", afirma Felipe Matos, fundador da aceleradora de empresas Startup Farm. A afirmação do investidor baseia-se na própria experiência e em dados da Endeavor. Pesquisa da instituição mostra que 62% dos universitários brasileiros querem abrir o seu próprio negócio.
As estratégias de fomento e a maior participação do capital privado estão ampliando o volume de empresas nascentes de base tecnológica, o que motiva o empreendedorismo. Segundo Matos, as novatas querem seguir os passos de brasileiras como Easy Taxi, 99 Taxi, NuBank, ViajeNet e Hotel Urbano que captaram dinheiro e se tornaram ótimos negócios em seus segmentos. "Como o mercado de capitais diz: nós já temos nossos unicórnios."
A capacitação das empresas tem sido a principal estratégia seguida para ampliar o volume de negócios promissores no país. No ecossistema da inovação, transformar criatividade e competência técnica em produtos e serviços depende de conhecimento de mercado, visão internacional e elaboração de projetos capazes de encantar o investidor. "Em geral, o empreendedor não está preparado para enfrentar rodadas de negócios, questionamentos sobre seus produtos ou serviços e lançar-se no mercado internacional", comenta Maycon Stahelin, coordenador do programa InovAtiva, do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (Mdic).
O InovAtiva é o que os técnicos do ministério chamam de um "banho de negócios" no empreendedor. O programa engloba empresas de diferentes segmentos, como tecnologia da informação e comunicação (TIC), saúde e robótica. "Oferecemos um programa robusto de treinamento", revela Stahelin. As startups acessam uma plataforma online com conteúdo específico. Ao terminarem a primeira etapa, inscrevem seus projetos, já formatados como negócios, e participam de um processo de seleção para receber quatro meses de mentoria individual. "Nesse momento, conectamos os empreendedores aos investidores e executivos que se voluntariam nessa capacitação", diz Stahelin.
A etapa seguinte compreende a seleção de empresas para o processo de aceleração. Desde 2013, mais de 2,4 mil empresas já se inscreveram no InovAtiva, cerca de 300 empresas receberam treinamento e quase 200 ingressaram no programa de aceleração. Além do acesso a uma importante rede de relacionamento, as novatas mais promissoras participam de eventos internacionais, realizados pelo Mdic, com foco na promoção de negócios inovadores.
No Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI), o programa de aceleração de empresas StartUp Brasil que é gerido pela Softex e tem parceria com aceleradoras em todo o país trouxe uma nova dinâmica para o segmento de TIC, que viu o número de aceleradoras especializadas crescer substancialmente. "Além de dinheiro, as novatas precisam de mais conexão com o mercado e investidores", explica Vitor Andrade, coordenador do programa.
Na iniciativa, o MCTI abre processos seletivos para aceleradoras. Essas entidades serão responsáveis pelo acompanhamento e capacitação das empresas, que são selecionadas por meio de outro edital. "Nossa meta é ter aceleradoras em todo o país para ampliar o volume de startups atendidas", conta Andrade. O diferencial do programa está na internacionalização dos negócios, já que ele recebe empresas brasileiras e estrangeiras. "A inovação só faz sentido em uma base global. Temos de aprender com o intercâmbio de ideias."
Desde 2013, duas turmas de empreendimentos foram formadas no StartUp Brasil. Ao todo, 1.617 empresas se inscreveram (sendo 414 estrangeiras). Deste total, 132 negócios (20 estrangeiros) foram selecionados para participar da iniciativa. Após a capacitação, 94 negócios foram apoiados (10 estrangeiros). Até agora, o investimento público somou recursos de R$ 17,5 milhões, as aceleradoras parceiras aportaram outros R$ 3,4 milhões e o total captado no mercado financeiro ultrapassou a cifra de R$ 47,5 milhões. As receitas geradas pelo grupo de empresas cresceram, em média, 37% na primeira turma e 174% na segunda. "Os números mostram que temos potencial para criar negócios modernos e inovadores", conclui.
Site: Valor Econômico
Data: 29/10/2015
Hora: 5h
Seção: Empresas
Autor: Ediane Tiago
Link: http://www.valor.com.br/empresas/4291494/empreendedor-precisa-ter-visao-internacional-e-rede-de-contatos