Durante palestra na Maratona Valor PME 2015, Stelleo Tolda, vice-presidente executivo do MercadoLivre na América Latina, mostra uma foto feita na sede da empresa no Brasil, há 16 anos, quando foi fundada. A imagem exibe um jovem diante de um computador. "Na época, ele era um estagiário. Hoje, é o nosso diretor-geral", diz. O exemplo retrata bem duas das principais estratégias que acompanham a operação até agora: assumir riscos e investir em pessoal.
"Para executar todas as ideias que tínhamos, foi necessário levantar recursos financeiros e humanos", afirma. "O cuidado com as pessoas é característico da empresa, reconhecida como um dos melhores lugares para se trabalhar."
Com três mil funcionários em 14 países, sendo 945 no Brasil, o MercadoLivre oferece uma plataforma de comércio eletrônico para que pessoas e empresas possam comprar, pagar, vender, enviar produtos e anunciar na internet.
A receita líquida da operação na América Latina foi de US$ 556,5 milhões em 2014, um crescimento de 17,8% sobre 2013. Somente no Brasil, essa cifra alcançou R$ 557 milhões, um salto de 36% ante 2013. A meta para 2015 é crescer acima de 20%. No primeiro semestre, o avanço no mercado nacional foi de 22% em dólares e de 58% em reais, quando comparado ao mesmo período de 2014.
Segundo ele, o que realmente fez a diferença para o negócio ganhar musculatura foi a disposição de investir. "É preciso investir mesmo que o retorno não seja imediato. Essa tensão entre investimentos e resultados permanece até hoje."
Tolda explica que o arranque do grupo é baseado em três fatores principais: a melhoria de serviços, como os sistemas de pagamento e de envio de produtos entre os vendedores do marketplace? o lançamento de lojas oficiais, em 2014, que funcionam como âncoras, e somam hoje 180 pontos? além da adoção do modelo de plataforma aberta. Desde 2010, comerciantes e desenvolvedores podem se conectar diretamente com o portal, adicionando ofertas. Nos últimos anos, o site também deixou de ser um leilão eletrônico de objetos usados para atuar como um revendedor de itens novos, a preços fixos. "É importante ser flexível para se adequar ao cliente", diz.
Com o objetivo de alimentar a cadeia de vendas que criou, o MercadoLivre ainda montou o Meli Fund, um fundo no valor de US$ 10 milhões que financia startups que melhor utilizam o potencial da plataforma tecnológica. Em menos de dois anos, a carteira já realizou 12 aportes na América Latina, sendo cinco no Brasil. O mais recente foi na paulista ThirdLevel, que desenvolve sistemas de gestão para lojas virtuais. Há interesse também em negócios que oferecem soluções de crédito, de inteligência de mercado e logística.
Para garantir maior agilidade no desenvolvimento de novos produtos, a empresa também investe em aquisições na América Latina. No Brasil, a compra mais recente aconteceu em abril. O alvo foi a KPL, companhia de sistemas ERP (Planejamento de Recursos Empresariais, da sigla em inglês), por R$ 50 milhões. "Essas ações são sempre tomadas pensando no que é importante para os usuários, principalmente para melhorar a experiência de compra e venda."
Nessa fase de estagnação econômica no país, Tolda afirma que voltou a investir em marketing, depois de dois anos fora da mídia, com uma campanha publicitária feita para a internet, rádio e TV. A ação foi lançada, simultaneamente, no fim de setembro, no Brasil, Argentina, México, Colômbia e Venezuela, além do Chile e Uruguai. "A crise que ocorre aqui não acontece em outros locais da região. Em todos os mercados onde estamos, o comércio eletrônico mostra crescimento."
Site: Valor Econômico
Data: 30/10/2015
Hora: 05h
Seção: Tecnologia
Autor: Jacilio Saraiva
Link: http://www.valor.com.br/empresas/4293668/recursos-financeiros-e-humanos-sao-bases-da-estrategia