Embrapii quer captar mais recursos para atender MPEs e startups

09/11/2015

Criada em 2013, a Empresa Brasileira de Pesquisa e Inovação Industrial (Embrapii) conta desde agosto com um novo presidente. Jorge Almeida Guimarães assumiu a Organização Social com a missão de expandir as unidades credenciadas, consolidar a atuação dos Institutos Federais de Educação, Ciência e Tecnologia como polos Embrapii e apoiar o desenvolvimento tecnológico de áreas estratégicas.

No currículo dele, destaca-se a atuação no Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), de 1990 a 1993, e na Coordenação de aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), onde foi presidente por 11 anos. Somado os anos em que foi docente nas universidades federais do Rio de Janeiro (UFRJ), Fluminense (UFF), Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ), do Rio Grande do Sul (UFRGS), e de São Paulo (Unifesp), são mais de 30 anos dedicado à formação de recursos humanos.

Setores da comunidade científica acreditam que essa bagagem pode ser o diferencial da gestão de Guimarães. Em entrevista exclusiva à Agência Gestão CT&I, ele aponta setores que a Embrapii deve apoiar no futuro, fala sobre os planos para aumentar os recursos que fomentam projetos tecnológicos de alto risco, traça um panorama sobre a aproximação da academia e institutos de pesquisa com o setor industrial e parcerias com o Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae).

Muitos especialistas apontam o distanciamento entre a comunidade científica e o setor empresarial como um dos principais entraves para o Brasil tornar-se uma nação inovadora. Por que esses setores ainda não interagem da maneira como deveria ser?

A interação entre o mundo acadêmico e empresarial requer uma cultura, ou seja, algo que vem sendo cultivado. Como o nosso sistema universitário é muito novo, temos poucas universidades com mais de 50 anos, a USP [Universidade de São Paulo], por exemplo, que é a mais antiga delas, tem 80 anos. Ainda não deu tempo para essa cultura se estabelecer no País.

O Brasil optou por formar os recursos humanos, onde já qualificou diversos profissionais, embora ainda estejamos longe do ideal – que é algo da ordem de 3 mil cientistas e engenheiros para cada milhão de habitantes e estamos na faixa de 600 para cada milhão –, mas temos áreas e grupos qualificados do ponto de vista de qualificação científica. Temos que começar desde agora.

O governo vem anunciando medidas que trarão impacto no processo de inovação. É o caso da suspensão do benefício da Lei do Bem e contingenciamento de 30% dos recursos do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação. A Embrapii foi afetada por essas decisões?

O orçamento da Embrapii não tem sido afetado pelos ajustes anunciados pelo governo, mas não sei se, mais para frente, isso ocorrerá. A Embrapii é um órgão muito enxuto e pesa pouco no orçamento da República. O recurso que ela tem é totalmente destinado a colocar as empresas em contato com os segmentos qualificados na área de CT&I para fazer pesquisa e desenvolvimento.

Temos participado das discussões sobre a suspensão dos benefícios da Lei do Bem na MEI [Mobilização Empresarial pela Inovação], mas o assunto ainda não está encerrado. Tem espaço para discussão dentro do governo e com o setor empresarial para se buscar um entendimento. Acho que ainda é possível que isso ocorra de uma maneira que não traga prejuízo maior, uma vez que para as empresas brasileiras terem competitividade elas precisam inovar e esse tipo de incentivo é importante para o setor partir para uma inovação mais frequente e acentuada.

A Embrapii oferece esse espaço de recurso não reembolsável, facilitando muito o investimento da empresa, não apenas do ponto de vista dos recursos em si, mas também pelo fato de selecionarmos aqueles grupos que têm capacidade, predisposição e experiência em interagir com o setor empresarial.

A Embrapii mantém Contratos de Gestão com o MCTI e o MEC, que garante recursos de R$ 560 milhões de 2014 a 2018 . A organização social vê outro caminho para aumentar o orçamento?

Estamos buscando ampliar nosso orçamento com outros ministérios, como o da Saúde, que tem um foco muito grande na área de inovação, com o MDIC [Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio exterior] e das Cidades. As pastas estão percebendo a importância de um modelo como este. As negociações já estão em andamento. Além disso, temos negociações fortes com o Sebrae para ampliarmos nossa atuação para pequenas empresas, que não estão contempladas no modelo da Embrapii. Está acertado que faremos uma parceria para incorporar na nossa missão o apoio a pequenas empresas e startups.

Estamos estudando qual é o melhor modelo. Há várias possibilidades. Uma delas é fomentar as interações de pequenas empresas com grandes corporações para um determinado projeto que está sendo discutido e contratado por uma unidade Embrapii. Esse modelo serve muito bem para a área farmacêutica, já que as grandes companhias preferem fazer parcerias com pequenas empresas. O Sebrae está estudando outros formatos possíveis.

Como está o processo de credenciamento de novas Unidades Embrapii?

Abrimos dois editais que já estão na fase de avaliação das propostas. Estamos falando de contratar sete unidades Embrapii no total, mas é muito provável que a gente passe disso à medida que apareçam boas propostas. Tivemos 110 propostas para as duas chamadas. Isto significa que provavelmente podemos passar das sete unidades.

Esse modelo de credenciamento serve muito como uma forma pedagógica para outros grupos que tinham a intenção de interagir com empresas, mas não estavam preparados. Tem muitos grupos se preparando para se credenciarem como Unidade Embrapii. Vários centros de pesquisa com uma forte atuação técnico-científica ainda não se candidataram por não atender à regra de ter um mínimo de recursos obtidos a partir de interação com empresas.

Foi aberto um edital para selecionar instituições de ciência e tecnologia que atuam na área de biotecnologia e saúde e a outra chamada era mais abrangente. A tendência para os próximos processos seguirá esse formato: um edital para uma área estratégica e outro universal

Estamos estudando isso. A resposta das chamadas da área biotecnologia e saúde foi bastante significativo. Temos setores nessas áreas que têm uma balança de pagamento muito desfavorável, como o farmoquímico e os biofármaco. Praticamente toda a área de Saúde tem uma balança de pagamento muito negativo. Setores como esses são os que queremos estimular. Essa chamada teve 38 propostas. A chamada dois, que é a mais ampla, teve 72 propostas encaminhas e dentre elas de ICTs que atuam no setor de biotecnologia e biofármacos, mostrando que temos outras unidades pleiteando entrar nesse segmento.

Quais áreas são vistas pela Embrapii como estratégicas que ainda não foram contempladas com unidades Embrapii?

Existem muitas áreas, como a defesa, que estimula muito a inovação e impacta o setor industrial; a agrícola, que tem muito espaço ainda na biotecnologia; e a química. Neste momento, temos muitos projetos na área de engenharia e TI, mas são setores que  ainda têm muito a ser explorado.

Podemos considerar que alguns segmentos tem vocação natural. É o caso da indústria farmacêutica. Estamos apostando que haverá um desdobramento importante, sobretudo nos farmoquímicos e biofármacos. Nosso mercado de medicamentos é o sexto maior do mundo e precisamos fazer inovação nesse segmento.

Estamos buscando atuar com as indústrias farmacêuticas brasileiras e com as empresas internacionais que estão aqui também. Esse é um segmento que temos um carinho especial porque terá um impacto enorme na economia do País e nas diversas áreas da saúde. A biodiversidade também é um segmento rico de possibilidades, que junto com a bioeconomia, está nos nossos horizontes de atuação. Temos que aproveitar o novo marco legal para o uso do patrimônio genético nacional em pesquisas. Essa lei foi um grande passo.

Site: Agência Gestão CT&I
Data: 06/11/2015
Hora: 14h38
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Autor: Felipe Linhares
Link: http://www.agenciacti.com.br/index.php?option=com_content&view=article&id=8201:embrapii-quer-captar-mais-recursos-para-atender-mpes-e-startups&catid=3:newsflash