Apesar da ideia de que os chief digital officers substituiriam os CIOs, apenas 6% das grandes empresas possuem um executivo com título de CDO em suas estrutura. A constatação é da PwC, que realizou um estudo junto a 1,5 mil corporações globais. O documento aponta para um total de 86 líderes digitais atuando no universo de companhias pesquisadas. Desse total, quase metade (31) foi contratado nos últimos doze meses.
Os CDOs emergiram quando os CEOs passaram a encarar os seus CIOs como gerentes de tecnologia de back-office, incapazes de promover a inovação digital. E os especialistas de pesquisas de mercado continuam a alimentar o frenesi em torno da figura do líder digital.
A IDC aponta que, até 2020, 60% dos gestores de tecnologia da informação serão substituídos por CDOs para a entrega de produtos de TI focados no processo de digitalização dos negócios. A Forrester, por sua vez, afirma que as empresas não só vão contratar especialista para liderar esse movimento, como ele irá criar confrontos entre os CIOs e CMOs.
De acordo com a PwC, alguns CEOs continuam contemplando a contratação de CDOs para liderar a transição digital, mesmo em negócios B2B. "O CEO quer alguém que possa pensar e reinventar experiências de usuário, e buscar tecnologias emergentes em universidades e startups. Quando um CEO procura um CDO, o que ele está realmente tentando fazer é inovar e oferecer uma nova perspectiva para evitar a perda de quota de mercado", afirma Chris Curran, CTO da consultoria.
Alguns CIOs - especialmente aqueles que já traçaram a sua própria estratégia de digital - consideram o surgimento do CDO como uma afronta às suas capacidades. Mas nem sempre a competição fala mais alto.
Alguns CIOs em empresas que já contrataram CDOs estão compartilhando confortavelmente as responsabilidades, proporcionando força dupla ao enfrentamento do desafio de usar tecnologias digitais para estimular o crescimento do negócio. É o caso dos CIO e do CDO da McGraw-Hill Education. No Brasil acontece o mesmo no Magazine Luíza, onde a transformação digital é tocada por dois executivos.
Na estratégia digital da rede varejista, o CIO Marcelo Koji Tahara é par do líder digital, responsável pelo Luiza Labs (a TI digital, formada por pequenas startups focadas em inovação).
"O nosso momento atual é o da transformação digital. Nós de TI estamos sendo provocados a mudarmos o nosso posicionamento. Estamos sendo provocados para sermos mais inovadores", afirma o CIO.
Koji define transformação digital como "a quebra de modelos tradicionais de negócio através da adoção de tecnologias disruptivas e agilizadoras". Os novos negócios digitais estão gerando ganhos de escala tremendos, que nenhum negócio tradicional está conseguindo gerar. E ganhos de escala exponenciais afetam diretamente a TI. "Minha equipe está na retaguarda de qualquer vertente transacional, seja rede social, e-commerce, loja física...", explica Koji.
A transformação digital obrigou a TI do Magazine Luíza a mudar radicalmente os seus processos, para suportar as soluções de front-end digital geradas pelo Luiza Labs, ajudando a gerar maior valor para o negócio.
Nas palavras do próprio CEO da companhia de varejo, Frederico Trajano, a equipe do Labs é formada por “pessoas mais jovens, nativos digitais, com espírito empreendedor muito forte, que só estão felizes na companhia enquanto estão empreendendo”.
“Se eu quero digitalizar meu cliente, tenho de começar digitalizando minha equipe para poder fazer isso ainda melhor com o cliente”, comentou o executivo, em entrevista à Exame.com. Essa galera está envolvida com Big Data, Social Media, Mobile, e por aí vai.
Koji complementa: “O recado aqui é, que para dar certo, esse cara que lidera a TI digital tem que ser o seu irmão. Ter os mesmos objetivos. No caso do Magazine Luíza, nós desenhamos juntos o modelo de transformação digital”.
Angelo DeGenaro, da McGraw-Hill Education, vai além. "É crucial que eu e o Laster, nosso CDO, cultivemos um alto nível de respeito entre as equipes, para garantir um trabalho unificado. Pode haver alguns pontos de divergência, mas devem ser tratados profissionalmente, sempre. Egos nunca entram em jogo aqui", diz o CIO.
Na opinião de Curran, da PwC, a integração natural entre o CIO e o CDO da McGraw-Hill e do Magazine Luíza deve causar inveja de outras organizações onde um CDO já está presente. Em muitas empresas os CDOs chegaram como tornados, adotando software em nuvem com abandono imprudente do legado, sem conseguir construir uma visão única de seus clientes, cadeia de abastecimento social e dados operacionais.
Resultado: tiveram que voltar a contragosto para o CIO para integrar e normalizar os dados antes que pudessem analisar os dados.
Curran acredita que cabe aos CEOs evitar esses cenários de pesadelo, promovendo a colaboração entre seus diretores desde o início. As empresas devem chegar a um acordo explícito em torno de quem está no comando e unificar a estratégia, os sistemas, as análises e os departamentos.
"Alguém tem que possuir uma visão única dos investimentos, das estratégias, dos relacionamentos com terceiros", diz o especialista. Não fazer isso irá levar a interrupções, ao caos organizacional e, em última análise, a desperdício de gastos com tecnologias concorrentes.
Em última análise, Curran suspeita que o papel CDO irá desaparecer lentamente, assim como vice-presidentes de comércio eletrônico foram retirados como posições independentes antes de suas funções serão revertidas para a TI, quando ficou claro para CEOs que o e-commerce era simplesmente um novo canal de vendas.
Site: Computerworld
Data: 11/01/2016
Hora: 8h15
Seção: Gestão
Autor: ------
Link: http://computerworld.com.br/apenas-6-das-grandes-empresas-globais-possuem-um-cdo