Há cerca de um ano, o russo Eugene Chereshnev resolveu viver a própria história de ficção científica instalando um microchip na sua mão esquerda. Com isso, ele consegue poupar a si mesmo alguns esforços físicos cotidianos, como abrir portas da sua casa e escritório, destravar dispositivos conectados e ligar o carro.
De alguma forma, Chereshnev, também conhecido como “Che”, é uma espécie de Jedi cuja “força” reside na Internet das Coisas. Ele mesmo diz ser fã de "Star Wars", algo que não soa muito como surpresa.
Durante a Campus Party 2016, realizada em São Paulo nesta semana, Chereshnev, que também é VP Global da Kaspersky Lab, conta entusiasmado que um dos principais motivos que o levou a se tornar o homem “biônico” da companhia russa, conhecida mundialmente pelas suas soluções de antivírus, foi a ciência.
“Muitas pessoas me perguntam por que eu fiz isso. Primeiro, experimentação. É também uma forma de fazer o mercado repensar o que é IoT [Internet of Things]”, disse.
Para o executivo, há inclusive um erro essencial em todo o conceito quando o mercado de tecnologia deveria colocar as pessoas no centro das soluções conectadas e não em “coisas”. Nesse contexto, a Internet das Coisas assumiria seu aspecto mais humano: "Internet of People" ou "Internet de Pessoas".
É claro que quando alguém diz que implantou um chip na mão, pessoas ao redor ficam curiosas. Na Campus Party não foi diferente.
“Você não tem medo que alguém corte a sua mão e leve todos os dados da sua empresa?”, questionou um dos ouvintes da plateia ao homem biônico da Kaspersky. “Olha, se cortarem a minha mão, acredite, o chip será a coisa com que eu menos me preocuparei”, brincou Che.
Mas há uma preocupação que deixou o executivo paranóico: sua privacidade. A medida que objetos conectados deixam rastros valiosos pela web, empresas de tecnologia, como Google, Facebook, Microsoft e agências de vigilância como a NSA, se apropriam de dados seja para vigiá-lo ou para vender coisas das quais provavelmente você não precise.
Se um smartphone consegue dar uma clara ideia de quem você é pelas coisas que você acessa e consume em tempo real, agora imagine isso em um chip instalado no seu corpo. A noção de privacidade digital não só se torna mais íntima, como um tanto mais paranóica.
“Vocês assistiram a Mr. Robot? Uma dica, assistam. Tudo que acontece ali é real. Nós checamos”, disse em relação a série americana que conta a história de um hacker ativista.
“Quando você vive com um chip, você muda sua concepção de como vive com seus dados. Eu comecei a ficar paranóico. Estamos dando uma enorme quantidade de dados para alguém. E quem vocês pensam que são donos desses dados? Todo mundo menos você. E isso não é estranho?”, alertou.
Para ele, a propriedade dos dados deveria ser exclusiva de quem os produz. Da mesma forma a decisão do que é possível fazer com eles. Porém, nas condições atuais, Chereshnev diz que, na verdade, somos “escravos digitais” e compara a Internet de hoje como o Game of Thrones, um período feudal onde quem decide o que fazer com seus dados são “reis” da Internet. Che quer mudar isso e com a ajuda de internautas.
“Empresas usam nossos dados pelo próprio bem, para nos vender mais. E eu tenho um sonho de que nós juntos poremos mudar isso”.
Uma das soluções que Che aponta é a criptografia de dados. Biochips criptografados poderiam dar uma noção bem mais segura de quem tem acesso a tais dados, cabendo ao usuário a decisão de compartilhá-los.
A ideia de um futuro onde pessoas sejam conectadas também impactará o mercado como hoje o conhecemos, diz o russo que prevê que biochips sejam populares em apenas cinco anos. Em resumo, nos próximos anos suas economias não serão mais direcionadas para o último telefone Apple, isso segundo Chereshnev.
“Sinceramente? Smartphones morrerão. E o quanto antes isso acontecer, melhor”, declarou ao dizer que a inovação e dispositivos conectados do futuro não deverão ser limitados por um “tijolo”.
Site: Computerworld
Data: 27/01/2016
Hora: 19h23
Seção: Tecnologia
Autor: ------
Link: http://computerworld.com.br/somos-escravos-digitais-diz-executivo-da-kaspersky-que-usa-chip-na-mao