Departamento de RH não é mais o terror na recessão

26/02/2016

No passado, em tempos de recessão, teríamos o departamento de Recursos Humanos na linha de frente, bradando com um facão na mão, realizando cortes avassaladores de pessoas.

Era visto como o terror na empresa. Cada contato do RH era motivo de preocupação dos colaboradores, que logo pensavam: “será que chegou a minha vez?”.

A recessão atual é até pior do que as que já vivemos em outros tempos. Mas a estratégia da maioria das empresas não é a mesma, assim como o papel do RH.

Verdade que as empresas se veem forçadas a fazer reajustes de mão de obra em situações de queda substancial de seus mercados, como é o caso da maioria dos setores econômicos. Mas hoje o fazem de forma muito mais suave.

E é evidente que as pessoas seguem muito preocupadas em perder o emprego em tempos da dramática situação econômica que estamos, em que não se tem ideia ainda de quanto tempo ira durar. E, com razão, temem por seu futuro e de suas famílias.

Parece que as empresas estão reconhecendo cada vez mais a importância das pessoas, do seus conhecimentos e qualificações. E a necessidade de maior respeito aos colaboradores.

O corte de uma pessoa não é simplesmente um custo que se reduz. É também uma pessoa com conhecimentos e habilidades, que foram aprendidas após muitos anos de esforço e dedicação, que a empresa perde. E cuja reposição não é tarefa fácil.

A empresa nunca deve pensar em pessoas simplesmente como custos. Se o foco permanente da empresa for produtivo, eliminando desperdícios e resolvendo problemas, e também fazendo melhorias com foco nas necessidades dos clientes, seus colaboradores serão elementos essenciais. E não meros custos.

Hoje também se preocupa muito mais com os aspectos motivacionais nos colaboradores que ficam na empresa após os cortes, quando se veem privados de colegas de trabalho, muitos dos quais podem ter tido uma longa história em comum.

Por isso que o facão, ou corte massivo e coletivo de pessoal, atualmente é a última alternativa em uma empresa. E, portanto, o órgão que comunicava essas más noticias, o RH, não é mais o vilão da empresa.

Mas isso não basta. Arrisco-me a dizer que grande parte dos RHs das grandes organizações brasileiras não consegue colocar em prática a real função de um setor de Recursos Humanos de uma empresa (ou de gestão de pessoas, como preferem alguns), que pretende ter um bom sistema de gestão que deveria capacitar e ajudar a liderança a desenvolver as pessoas da organização.

Essa é a base de uma empresa lean: todos colaboradores que nela atuam deve procurar cotidianamente melhorar a forma como fazem seus trabalhos.

Devem ser pessoas que busquem, no dia a dia, otimizar a forma como trabalham, identificando e resolvendo problemas, eliminando desperdícios e aumentando continuamente a agregação de valor ao que fazem.

E não se está falando aqui em promover simplesmente mais cursos ou treinamentos, mas, mais importante que isso, apoiar os colaboradores no dia a dia de trabalho, vendo a forma como fazem suas tarefas, questionando-os a encontrar, expor e resolver problemas através da análise cientifica. Enfim, desafiar cotidianamente as pessoas a fazerem melhor hoje do que fizeram ontem.

Claro que só é possível fazer isso se pensarmos num RH que “vá ao gemba”, local onde se executa o trabalho, onde se cria o valor dentro da empresa. E que vá ver e conhecer pessoalmente o trabalho dos funcionários. Conversar com eles. Observá-los trabalhando. Ver e entender suas dificuldades, seus problemas, dar apoio, suporte e condições para que melhorem.

Dentro desse processo, o pessoal do setor de RH deve ter um papel preponderante, o de ajudar as lideranças e as pessoas da empresa a serem cada dia melhores. Com menos reuniões, menos papelada, menos burocracia, menos tempo em seus próprios escritórios realizando atividades pouco relevantes.

Em uma empresa lean, a responsabilidade pela gestão de pessoas deve ser, em última instância, de todas as lideranças. Mas esse setor chamado de Recursos Humanos só terá realmente valor para uma empresa se priorizar justamente isso, o desenvolvimento da capacitação do pessoal para melhorar os processos e conseguir agregar cada vez mais valor para os clientes.

José Roberto Ferro é presidente do Lean Institute Brasil 

 

Site: Época Negócios
Data: 23/02/2016
Hora: 10h58
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Autor: José Roberto Ferro
Foto: ——
Link: http://epocanegocios.globo.com/colunas/Enxuga-Ai/noticia/2016/02/departamento-de-rh-nao-e-mais-o-terror-na-recessao.html