O sistema lean e o sucesso das startups de TI

16/03/2016

Mais de 90% das startups de tecnologia fracassam nos primeiros anos de funcionamento, diz um recente estudo feito pela Allmand Law, empresa norte-americana referência no setor.

Os motivos de tanto fracasso são diversos, mas a “causa raiz” básica e principal é uma só: a má gestão, afirma Marcelo Lima, Gerente de Projetos do Lean Institute Brasil, entidade sem fins lucrativos que há mais de 18 anos dissemina entre as empresas brasileiras o sistema lean, filosofia de gestão inspirada no modelo Toyota que vem sendo adotada por organizações de diversos setores e em boa parte do mundo.

Para o especialista, apesar da variedade de fatores desse insucesso, a maioria deles nasce justamente da gestão ruim. “Por exemplo, na má gestão dos recursos humanos, na gestão financeira inadequada, na gestão estratégica mal pensada, entre outras”, resumiu.

Nesta entrevista, Marcelo Lima, PhD em Negócios pela Université Lumiere Lyon, da França, e estudioso na aplicação do sistema lean em startups – com atuações na alta liderança de grandes empresas como Multibrás-Whirlpool, Bunge, Fast Shop e Merck Sharp Dohme –, discute como o sistema lean pode ajudar a fortalecer a gestão das startups, revertendo assim o alto índice de fracasso no setor.

Tal tema será também o assunto principal do treinamento “Startup Lean: como começar uma empresa de sucesso!” que o especialista aplica dia 27 de abril, na sede da CI&T, em Campinas (SP).


Por que tantas startups fracassam no Brasil?
 

Marcelo Lima – Eu vejo três principais fatores. O primeiro surge da falta de foco dos fundadores do negócio, da falta de alinhamento e de complementaridade. Em outras palavras, da ausência de um alinhamento adequado das experiências dos fundadores da startup, no sentido de uma complementar a outra. E é preciso ter dedicação exclusiva à iniciativa. O segundo motivo de fracasso é a falta de capital necessário para que as ambições da startup possam prosperar. E isso pode ocorrer principalmente por falta de planejamento financeiro adequado ou até mesmo por desperdício de capital. Por fim, como terceiro fator há a falta de clareza sobre os desafios que se tem para fazer a execução da gestão estratégica da startup. Ou seja, uma startup deve ter foco na busca de um novo modelo de negócio, enquanto que uma empresa tradicional tem como foco a execução de um modelo de negócio já consolidado.


Então, a conclusão é que podemos dizer que a “má gestão” é a principal razão da maior parte das startups fracassar ou não alcançar sucesso rapidamente?
 

Marcelo Lima – Sim. A falta de foco dos fundadores no negócio, a falta de alinhamento e complementaridade têm como causa direta uma ausência de gestão adequada de recursos humanos. Uma gestão que deve fomentar na equipe da startup a humildade intelectual, o espírito de grupo, além da paixão pelo negócio. Em outras palavras, uma gestão que consiga o alinhamento e a comunicação entre os colaboradores. Já a falta de capital necessário e a falta de clareza sobre o desafio de se gerir uma startup têm como causa direta, respectivamente, uma ausência de gestão financeira adequada e uma carência de uma gestão estratégica ideal, incluindo aí tanto a elaboração como a execução dessa estratégia.


De que maneira então o sistema lean pode ajudar a reverter esse quadro e contribuir para o sucesso de uma startup?
 

Marcelo Lima – O sistema lean, sua filosofia, conceitos, técnicas e “ferramentas”, tem como base transformar uma determinada realidade organizacional focando sempre nos “problemas” que se precisa resolver. No caso das startups, o problema maior é justamente como melhorar a gestão para que se atinja o sucesso. Para resolver isso, há a dimensão da “melhoria dos processos” que precisa ser trabalhada. Em outras palavras, cabe ao gestor melhorar as práticas reais e contínuas de trabalho dentro da startup para aperfeiçoar a forma como tudo é feito.


E como isso pode ser feito na prática?
 

Marcelo Lima – Em linhas gerais, trata-se de estabelecer estratégias de gestão para desenvolver as pessoas que atuam no negócio. Trabalhar numa dimensão ligada à capacidade e à habilidade dos colaboradores que compõem a startup. É preciso que a gestão trabalhe para adequar essa capacidade e essa habilidade em todos os níveis do negócio. Nesse caso, é preciso ir ao “gemba”, local onde o valor é criado para aprender a realidade da companhia, abraçar a filosofia da descoberta e aprendizado e desenvolver a multifuncionalidade de todos. Por tudo isso, é preciso se focar na construção de uma liderança responsável por todos esses fatores, para assim desenvolver esse modelo de gestão de forma mais eficiente.


Como deve ser a liderança de uma “startup lean”?
 

Marcelo Lima – Trata-se de uma liderança que precisa, principalmente, “acender” a paixão dos colaboradores e demais públicos alvos da startup, como clientes, fornecedores e investidores. Além disso, é uma liderança que precisa cotidianamente “aprender com os clientes”. Isso significa perceber as necessidades que os clientes têm e se a empresa está atendendo essas necessidades. Isso impõe aprender rápido com os erros e com os acertos. Por isso, a startup precisa ser muito flexível e ágil. Em outras palavras, mudar rapidamente de rumo quando for necessário.


O sistema lean pode ser implementado em qualquer tipo de startup?
 

Marcelo Lima – Sim. E se bem implementado pode ser de extrema valia para a evolução dessa empresa em todas as fases de seu ciclo de vida. É importante que se saiba que tanto as startups corporativas, aquelas que nascem dentro de uma grande empresa já consolidada, quanto as “independentes”, que surgem de forma autônoma, sem ligação com uma empresa tradicional, podem se beneficiar igualmente da filosofia, dos conceitos e das práticas e ferramentas do sistema lean.


Na sua visão quais as principais dificuldades que as startups enfrentam especificamente no Brasil?

Marcelo Lima – As principais dificuldades estão na gestão estratégica, financeira e de recursos humanos: há, por exemplo, muitos desperdícios em todas essas áreas. Em particular, desperdícios de energia e de tempo dos colaboradores que fazem atividades que muitas vezes não agregam valor ao “norte verdadeiro” da startup.

Site: CIO
Data: 16/03/2016
Hora: 7h50
Seção: Gestão
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Link: http://cio.com.br/gestao/2016/03/16/o-sistema-lean-e-o-sucesso-das-startups-de-ti/